Seca na Amazônia e situação crítica no rio Madeira leva a suspensão de operação da usina de Santo Antônio, em Rondônia
A seca que atinge a região da Amazônia já está trazendo impactos a geração de energia elétrica do Brasil. Desde o início de outubro, a baixa vazão do rio Madeira levou a suspensão das atividades da usina hidrelétrica de Santo Antônio, em Rondônia. O cenário traz ainda a possibilidade de necessidade de acionamento de usinas térmicas para garantir o suprimento de energia, encarecendo a conta de luz para os consumidores brasileiros.
Geração hídrica
O rio Madeira é um dos afluentes do rio Amazonas e possui uma área de drenagem de 1,42 milhão de quilômetros quadrados, sendo que 43% dessa área está em território brasileiro e 57% em território estrangeiro (7,6% no Peru e 49,4% na Bolívia).
O período chuvoso na área da bacia se estende normalmente de novembro a abril, enquanto o período seco vai de maio a outubro, sendo outubro um mês de transição. A chuva média anual é da ordem de 2.088mm, a vazão média de longo termo é de 34.425m³/s e a disponibilidade hídrica de 8.074m³/s em sua foz, segundo relatório de Conjuntura dos Recursos Hídricos de 2021 – publicação editada pela ANA.
Duas importantes usinas hidrelétricas estão localizadas no rio Madeira: Jirau e Santo Antônio. Ambas operam a fio d’água – ou seja, as vazões que chegam são praticamente iguais às que saem dos reservatórios – e totalizam potência instalada de 7.318MW, o que corresponde a 6,7% do Sistema Interligado Nacional (SIN).
Na última quarta-feira (04/10), o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) recomendou que os órgãos competentes declarem a situação excepcional e temporária de escassez hídrica para a bacia, considerando que os cenários de previsão meteorológicas não indicam a melhoria deste cenário nos próximos dias.
Em paralelo, com o objetivo de adotar soluções preventivas, o Operador também indicou a retomada da disponibilidade das térmicas Termonorte I e II, instaladas em Porto Velho (RO), para complementação do atendimento ao horário de maior demanda de energia nas regiões Acre e Rondônia.
El Niño
A perspectiva de um El Niño mais severo no Brasil e na própria América do Sul, conforme mostra projeções recentes divulgadas pela consultoria Rystad Energy, deve impactar o preço da energia elétrica aos consumidores brasileiros no próximo ano, justamente pela possibilidade de baixa dos reservatórios hidrelétrico e o consequente acionamento de usinas termelétricas a base de combustíveis fósseis, que são caras e poluentes.
As análises mostram que o fenômeno climático do El Niño, confirmado desde junho, deverá alterar regime de chuvas e criar um ambiente de escassez hídrica que impacta diretamente nas condições de geração das usinas hidrelétricas no Brasil.
A fonte hidráulica corresponde a mais de 50% da matriz elétrica do país e as condições dos reservatórios das usinas impacta diretamente nos custos da geração de energia e consequente repasse aos consumidores.
Graças aos níveis positivos de armazenamento, a bandeira tarifária do país permanece verde desde abril de 2022, não implicando em nenhum valor adicional a conta de energia elétrica. Qualquer queda na capacidade de geração pode tornar necessário o acionamento de usinas térmicas de óleo, gás natural e carvão, encarecendo os custos para os consumidores.
Em 2021, um cenário de crise hídrica levou ao acionamento emergencial de termelétricas no Brasil e a criação da bandeira tarifária escassez hídrica, que que imputou aos consumidores atendidos pelas distribuidoras de energia um valor adicional de R$ 14,20 para cada 100 kWh consumido. A decisão representou um reajuste de quase 50% em relação ao valor da bandeira vermelha praticado naquele mês (9,42/100 kWh).
Fonte: https://www.portalsolar.com.br/noticias/operacao-e-expansao/oem/seca-na-amazonia-prejudica-geracao-de-eletricidade-no-brasil