Conteúdo
- O Grande Hiato: Promessa versus Realidade para 2030
- O Risco Energético: Vazamentos e o Gás Natural
- A Oportunidade do Biogás: Transformando Passivo em Energia
- O Paradoxo Brasileiro: Alto Potencial e Falta de Vontade Política
- Rastreamento e Regulação: O Futuro da Governança
- A Transição Energética e o Fator Metano
- Visão Geral
O Grande Hiato: Promessa versus Realidade para 2030
A batalha global contra o aquecimento climático está sendo travada em várias frentes, mas uma delas apresenta um risco de curto prazo catastrófico: o metano (CH4). Enquanto o mundo concentra esforços na redução do dióxido de carbono (CO2), um novo conjunto de projeções climáticas acende um alerta vermelho no Setor Elétrico e no campo da clean energy. Segundo relatórios recentes, as emissões de metano globais estão projetadas para aumentar em até 13% até 2030 se as políticas atuais não forem drasticamente alteradas.
Para os profissionais de sustentabilidade e economia da energia, essa projeção é um golpe duro. O metano é um gás de efeito estufa 80 vezes mais potente que o CO2 nas primeiras duas décadas na atmosfera. A inação nesse campo significa praticamente inviabilizar a meta de limitar o aquecimento global a 1,5°C. A urgência da transição energética exige uma resposta rápida, especialmente nos segmentos de Gás Natural, resíduos e geração de energia.
Em 2021, mais de 150 países assinaram o Compromisso Global do Metano (Global Methane Pledge – GMP), estabelecendo uma meta ambiciosa de redução de emissões em 30% até 2030, tomando 2020 como linha de base. No entanto, a realidade do Setor Elétrico e da indústria de Petróleo e Gás mostra que o ritmo da ação é lento, ou até reverso.
As projeções mais recentes indicam que, se mantivermos o status quo regulatório e operacional, o mundo não apenas falhará em cortar 30%, mas verá as emissões antropogênicas globais de metano crescerem até 13% até o final da década. O metano é a alavanca mais rápida que temos para desacelerar o aquecimento. O Global Methane Hub calcula que cortar 45% das emissões de metano até 2030 pode reduzir o aumento da temperatura em 0,3°C até 2040. O preço da falha é o calor imediato.
O Risco Energético: Vazamentos e o Gás Natural
O Setor Elétrico está intrinsecamente ligado às emissões de metano através do uso e da infraestrutura do Gás Natural. O Gás Natural é majoritariamente metano e é promovido como uma “ponte” crucial para a transição energética, atuando como Potência Firme de back-up para a energia solar e eólica intermitentes.
Contudo, se a infraestrutura energética de Gás Natural (poços, dutos de transmissão e distribuição) não for perfeitamente vedada, os vazamentos – ou o venting e o flaring – anulam grande parte da vantagem climática do gás sobre o carvão. Esses vazamentos não apenas liberam um gás potentíssimo, mas também representam perdas financeiras para as empresas de Petróleo e Gás.
Os investimentos em tecnologia de detecção e reparo de vazamentos são economicamente viáveis na maioria dos casos, mas a pressão regulatória para forçar essas melhorias ainda é insuficiente. O Setor Elétrico precisa exigir que os fornecedores de Gás Natural assumam metas rigorosas de mitigação, sob pena de minar a sustentabilidade de toda a cadeia.
A Oportunidade do Biogás: Transformando Passivo em Energia
O aumento das emissões de metano não é apenas uma ameaça; é uma oportunidade de geração de energia negligenciada, especialmente no Brasil. Duas fontes principais de metano, o setor de resíduos (aterros sanitários) e a agropecuária (esterco e fermentação entérica), podem ser transformadas em ativos por meio do biogás e do biometano.
A captura do metano em aterros sanitários, por exemplo, não apenas evita que o gás vá para a atmosfera, mas o converte em energia elétrica ou térmica. Este é um campo fértil para novos investimentos em clean energy, oferecendo Potência Firme descentralizada e contribuindo diretamente para a redução de emissões.
O aproveitamento do metano da pecuária e do esgoto em biodigestores é um passo em direção à sustentabilidade da infraestrutura energética rural. A descarbonização da matriz não passa apenas por grandes parques solares; ela exige a integração de soluções de pequena escala que combatam o metano na fonte.
O Paradoxo Brasileiro: Alto Potencial e Falta de Vontade Política
O Brasil vive um paradoxo dramático no contexto do Compromisso Global do Metano. O país, com uma matriz de energia elétrica já majoritariamente limpa, é o quarto maior emissor global de metano, com um aumento de 6% em quatro anos (2016-2020), impulsionado principalmente pela agropecuária.
Projeções do Observatório do Clima indicam que o Brasil pode aumentar as emissões de metano em 7% até 2030, se nada for feito. Contudo, o mesmo estudo aponta que o país possui o potencial de reduzir em 36% suas emissões de metano até 2030. Esse potencial reside em grande parte na conversão eficiente do metano em biogás e na mudança de práticas na agropecuária.
O Setor Elétrico brasileiro tem a responsabilidade de desenvolver um mercado robusto de biogás e biometano, criando a demanda e a infraestrutura energética de transmissão e distribuição para integrar essa fonte, que é Potência Firme e renovável, substituindo a queima de fósseis.
Rastreamento e Regulação: O Futuro da Governança
Para frear o aumento das emissões de metano, a Aneel e o Ministério de Minas e Energia (MME) precisam adotar uma abordagem regulatória mais rigorosa. Isso inclui a exigência de monitoramento por satélite de vazamentos de Gás Natural e a precificação do risco climático nos leilões de geração de energia.
A transparência é fundamental. As empresas de Petróleo e Gás e as concessionárias de resíduos devem ser obrigadas a reportar suas emissões de metano com rastreabilidade. A insegurança jurídica sobre a mensuração e a penalização do metano deve acabar para que os investimentos em mitigação se tornem obrigatórios e competitivos.
O uso de Créditos de Carbono ou de mecanismos de compensação tarifária deve incentivar a captura. A tecnologia para a redução de emissões existe; falta o investimento e o sinal regulatório claro para que as emissões de metano sejam tratadas como o passivo que realmente são.
A Transição Energética e o Fator Metano
A projeção de que as emissões de metano continuarão a aumentar até 2030 é um atestado de falência da coordenação global. A transição energética não será concluída com sucesso se o metano for negligenciado. Ele é o aquecimento rápido que ameaça desfazer os ganhos obtidos com a expansão da energia solar e eólica.
O Setor Elétrico precisa se posicionar como um mitigador ativo. Cada projeto de biogás, cada linha de transmissão de energia que escoa energia limpa e cada investimento em armazenamento de energia é um passo para reduzir a dependência de fósseis e, consequentemente, o risco de vazamento de Gás Natural.
A urgência imposta pelo metano exige que o Setor Elétrico brasileiro, com seu grande potencial em clean energy, lidere pelo exemplo. Transformar o metano que está subindo em energia firme e limpa é a estratégia mais inteligente e economicamente viável para garantir a sustentabilidade e a segurança energética do país até 2030 e além.
Visão Geral
O metano representa a ameaça de curto prazo mais significativa para as metas climáticas globais, com projeções indicando um aumento de emissões de metano em até 13% até 2030. Apesar do Compromisso Global do Metano, a inércia no Setor Elétrico e na indústria de Petróleo e Gás mantém o risco elevado. A solução reside no rigor regulatório para mitigar vazamentos de Gás Natural e na capitalização do biogás como fonte de energia firme, transformando passivos ambientais em ativos de clean energy, essencial para a concretização da transição energética.























