A expansão da energia solar e eólica já cobre todo o novo apetite energético mundial, redefinindo a matriz global.
Conteúdo
- O Tsunami de TWh: A Matemática da Superação
- Solar Fotovoltaica: O Motor Inesperado
- A Queda do Rei Carvão e o Xadrez do Gás
- Os Desafios para o Profissional do Setor
- O Brasil no Epicentro Deste Fenômeno
- Sustentabilidade Não é Mais Apenas um Custo
- Olhando para o Horizonte da Descarbonização
- Visão Geral
O setor elétrico global está testemunhando um marco que, até pouco tempo, parecia uma meta distante: o crescimento da demanda global por eletricidade não é mais sustentado pelos combustíveis fósseis. Pela primeira vez na história, o aumento na necessidade mundial de energia já está sendo integralmente atendido e superado pela expansão da capacidade de geração solar e eólica. Esta não é apenas uma boa notícia ambiental; é um divisor de águas econômico e estratégico para todos os profissionais do setor.
Os dados recentes, amplamente divulgados por think tanks de referência como a Ember e a própria Agência Internacional de Energia (IEA), pintam um cenário de transição acelerada. No primeiro semestre do último período analisado, a energia solar e a eólica cresceram a uma taxa vertiginosa, adicionando mais gigawatts-hora (TWh) à matriz do que o aumento total da demanda global por eletricidade. Em outras palavras, as renováveis estão, literalmente, empurrando os fósseis para fora do sistema.
O Tsunami de TWh: A Matemática da Superação
Vamos aos números que fundamentam essa virada. Enquanto a demanda global por eletricidade cresceu, por exemplo, em 369 TWh em um determinado período de análise, a soma da nova geração de solar e eólica adicionou cerca de 403 TWh. Essa diferença, que parece pequena, é monumental: significa que, se as renováveis tivessem estagnado, todo o novo apetite por energia teria sido coberto por carvão ou gás, elevando dramaticamente as emissões.
A geração renovável atingiu uma participação recorde, ultrapassando os 34% da eletricidade global no primeiro semestre. Esse patamar é crucial porque, no mesmo período, a geração a carvão caiu para cerca de 33%. A solar e eólica não apenas cobriram o crescimento, mas também deslocaram ativamente a produção a partir de fontes mais poluentes.
Solar Fotovoltaica: O Motor Inesperado
Dentro do binômio solar e eólica, a tecnologia fotovoltaica (FV) merece destaque especial. Ela foi a grande protagonista do crescimento, respondendo por uma parcela majoritária do aumento da demanda global por eletricidade. A energia solar está se tornando o tipo de eletricidade mais barato da história em muitas regiões, impulsionada pela contínua queda no custo nivelado de energia (LCOE).
O custo de implantação de um parque solar caiu vertiginosamente nos últimos dez anos, tornando a decisão de investimento em novas usinas fotovoltaicas praticamente imbatível em termos econômicos. Os avanços em eficiência de painéis, processos de fabricação e a otimização das cadeias de suprimentos globais garantem que a energia solar continuará a ser a principal fonte de expansão no futuro previsível.
A Queda do Rei Carvão e o Xadrez do Gás
O relatório da Ember aponta que as renováveis superaram o carvão como a principal fonte de geração mundial pela primeira vez. Isso marca o início do fim de uma era. O carvão, que por séculos dominou a matriz, enfrenta custos ambientais proibitivos e, cada vez mais, custos operacionais que não competem com as novas tecnologias.
Embora o gás natural tenha mostrado resiliência em alguns mercados, servindo como uma “ponte” para a intermitência, a pressão sobre ele está aumentando. À medida que o armazenamento de energia (principalmente baterias de grande escala) se torna mais acessível e a gestão da rede se aprimora, a necessidade de flexibilidade fornecida pelo gás tende a diminuir. A transição energética exige que essa “ponte” seja curta.
Os Desafios para o Profissional do Setor
Se a geração de solar e eólica está superando a demanda global por eletricidade, qual é o próximo desafio para os profissionais do setor? A resposta é clara: integração e flexibilidade. A intermitência dessas fontes exige uma modernização urgente da infraestrutura de transmissão e distribuição. Não basta gerar; é preciso que a rede consiga absorver grandes picos de energia quando o sol brilha forte ou o vento sopra.
Investimentos maciços em armazenamento de energia são essenciais. Baterias de íon-lítio, e em breve tecnologias de armazenamento de longa duração, como as baterias de fluxo e o hidrogênio verde, são a chave para transformar a energia intermitente em energia despachável. Este é o novo campo de batalha para engenheiros e economistas do setor elétrico.
Além disso, a gestão da demanda (DSM – Demand Side Management) ganha relevância inédita. Permitir que grandes consumidores e até mesmo residências ajustem seu consumo em resposta à disponibilidade de energia solar e eólica é fundamental para equilibrar o sistema de forma eficiente e otimizar o uso da eletricidade limpa.
O Brasil no Epicentro Deste Fenômeno
O Brasil é um player central nessa narrativa global. Com uma matriz já majoritariamente limpa (graças à hidráulica), o país viu um boom sem precedentes na energia solar, especialmente na geração distribuída, e mantém a liderança na energia eólica na América Latina. Essa combinação posiciona o Brasil não apenas como um observador, mas como um impulsionador da tendência global.
Nossos profissionais estão lidando diariamente com os desafios de integrar megaprojetos eólicos no Nordeste e milhões de painéis solares em telhados por todo o país. O caso brasileiro reforça a tese de que a solar e eólica são economicamente viáveis e essenciais para a segurança energética nacional, reduzindo a dependência de termelétricas caras e poluentes.
Sustentabilidade Não é Mais Apenas um Custo
A era em que a sustentabilidade era vista como um custo adicional, um nice-to-have, está definitivamente no passado. A capacidade da solar e eólica de cobrir o crescimento da demanda global por eletricidade demonstra que a descarbonização se tornou o caminho mais lógico e, crucialmente, o mais competitivo economicamente. A queda da intensidade de carbono da geração global é uma consequência direta desse avanço.
Para o investidor e o estrategista, o sinal é inequívoco: o risco de ativos fósseis encalhados (stranded assets) aumenta a cada TWh limpo adicionado à rede. O futuro da energia é modular, distribuído e, acima de tudo, renovável.
Olhando para o Horizonte da Descarbonização
Este marco histórico — a solar e eólica já suprem o crescimento da demanda global por eletricidade — é um testemunho da inovação humana e da escala de investimento atingida. Ele oferece um sopro de otimismo, provando que é possível manter o crescimento econômico e o desenvolvimento social sem aumentar a pegada de carbono.
O próximo passo é acelerar. Precisamos ir além de apenas cobrir o crescimento da demanda e começar a substituir rapidamente as fontes fósseis existentes. Para os líderes do setor, isso significa não apenas instalar mais turbinas e painéis, mas investir na inteligência da rede, na flexibilidade operacional e em soluções robustas de armazenamento de energia. A virada está consolidada; a revolução, em curso.
Visão Geral
A demanda global por eletricidade agora é suprida pelo crescimento da solar e eólica, forçando o declínio do carvão e redefinindo as prioridades de investimento em armazenamento de energia e flexibilidade na rede.
