A COP30 está sob pressão da Europa para focar na implementação prática da transição dos fósseis e na elevação da ambição climática global.
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- Do Discurso à Ação: O Foco na Transição dos Fósseis
- A Lacuna de Ambição e as Novas NDCs
- O Fator Implementação: Financiamento e Tecnologia
- O Olhar Europeu sobre o Gás Natural e o Setor Elétrico
- O Papel do Brasil: Ambição na Amazônia e Fora Dela
- Lições para Profissionais: Risco e Oportunidade
Do Discurso à Ação: O Foco na Transição dos Fósseis
O grande avanço da COP28 foi a inclusão formal da necessidade de afastar-se dos combustíveis fósseis. No entanto, o termo “transição” foi considerado vago. A Europa chega à COP30 com o objetivo de preencher essa lacuna, defendendo a necessidade de um mapa do caminho detalhado para a saída do carvão, óleo e gás.
A pressão europeia se concentra em obter um acordo que defina marcos temporais e setoriais. Isso inclui, por exemplo, o fim da autorização para novas usinas termelétricas a carvão e a criação de mecanismos de financiamento para desativar as existentes, especialmente no Sul Global. A transição dos fósseis deve ser justa, mas não lenta.
Essa postura afeta diretamente a gestão de ativos no Brasil. Investidores precisam considerar que projetos de gás natural de longo prazo podem se tornar “ativos encalhados” se não incorporarem soluções de descarbonização, como a captura e armazenamento de carbono (CCS), alinhando-se com a ambição global.
A Lacuna de Ambição e as Novas NDCs
A ambição é o motor das negociações climáticas. A ciência é inequívoca: as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) atuais não são suficientes para limitar o aquecimento global a 1,5°C. A Europa, que já elevou suas próprias metas sob o European Green Deal, pressiona outros grandes emissores a fazerem o mesmo na COP30.
O bloco europeu exige que os países, incluindo o Brasil, apresentem NDCs revisadas e mais agressivas. A elevação da ambição significa ir além das promessas e integrar planos setoriais, garantindo que a transição dos fósseis seja compatível com a neutralidade de carbono. O setor elétrico é o campo de batalha mais evidente.
A implementação dessas metas exige uma aceleração vertiginosa na implantação de energia limpa. A Europa defende a meta de triplicar a capacidade global de energias renováveis até 2030, um ponto que deve ser ratificado e detalhado em Belém, exigindo reformas regulatórias e investimentos massivos em redes.
O Fator Implementação: Financiamento e Tecnologia
De nada adianta a ambição sem a implementação, e esta, por sua vez, exige dinheiro e know-how. A Europa reconhece que a credibilidade do processo depende da capacidade dos países ricos de mobilizar o financiamento climático prometido, especialmente para adaptação e mitigação em países em desenvolvimento.
O debate sobre o New Collective Quantified Goal (NCQG), que definirá as novas metas financeiras pós-2025, será central na COP30. A Europa busca estruturar um pacote financeiro que não apenas atenda às necessidades de mitigação, mas também financie a infraestrutura necessária para a transição dos fósseis.
Isso inclui o investimento em tecnologias disruptivas. O hidrogênio verde, por exemplo, é uma prioridade europeia. A implementação de projetos de H2 no Brasil, aproveitando sua abundante energia limpa (eólica e solar), depende da cooperação tecnológica e dos fluxos de capital que a Europa se compromete a facilitar.
O Olhar Europeu sobre o Gás Natural e o Setor Elétrico
O gás natural, muitas vezes defendido como combustível de transição, está sob o microscópio da Europa. O bloco, embora dependa temporariamente do gás após a crise energética, é taxativo: o gás deve ser apenas uma ponte curta, e todos os novos investimentos devem ser “compatíveis com 1,5°C”.
Isto significa que a transição dos fósseis exige que novas termelétricas a gás sejam hydrogen-ready ou incorporem CCS. A ambição europeia eleva a barra para o Brasil, que tem investido na expansão da infraestrutura de gás natural (pré-sal). A pressão externa forçará a adoção de tecnologias de energia limpa ou de mitigação de carbono para manter a competitividade global.
A implementação de uma matriz mais limpa no Brasil, utilizando o gás como peaker para compensar as renováveis, precisará de garantias de descarbonização de longo prazo. O financiamento verde europeu tende a ser seletivo, priorizando projetos que acelerem a transição dos fósseis e minimizem a dependência de hidrocarbonetos.
O Papel do Brasil: Ambição na Amazônia e Fora Dela
A Europa vê a COP30 em Belém como um momento de prestígio para o Brasil, mas também de responsabilidade. O país anfitrião precisa demonstrar ambição não só na proteção da Amazônia, mas também na descarbonização de sua economia urbana e industrial, que dependem fortemente do setor elétrico.
A implementação de medidas brasileiras para a transição dos fósseis deve ser vista como um exemplo para outras economias emergentes. A combinação de energia limpa abundante (hídrica, solar, eólica) com biocombustíveis e hidrogênio confere ao Brasil uma posição única para liderar.
A Europa espera que o Brasil apoie a criação de um mecanismo de acompanhamento mais rigoroso para o cumprimento dos compromissos pós-COP, garantindo que as promessas de ambição se transformem em projetos concretos. Essa coordenação é vital para construir a credibilidade do processo multilateral.
Lições para Profissionais: Risco e Oportunidade
Para os profissionais do setor elétrico, a insistência da Europa em ambição e implementação na COP30 se traduz em um imperativo de investimento. O risco regulatório e financeiro associado a ativos fósseis está aumentando.
A grande oportunidade está nos segmentos de energia limpa: baterias de armazenamento, redes inteligentes (smart grids) e interconexões que aumentem a resiliência. A Europa é uma potência em inovação e pode ser parceira na implementação de soluções de última geração no Brasil.
Visão Geral
A COP30, sediada em Belém, será um teste de maturidade global, impulsionada pela pressão da Europa. O objetivo principal é transformar a retórica da transição dos fósseis, estabelecida na COP28, em ações concretas, exigindo maior ambição nas NDCs e um foco rigoroso na implementação, especialmente através do financiamento de energia limpa e da gestão de ativos de gás natural.























