Com valorização no mercado internacional, esses instrumentos avançam como solução sustentável e, no Brasil, podem se tornar moeda para o pagamento de tributos agropecuários
Frente aos desafios das mudanças climáticas e à crescente pressão por práticas mais sustentáveis, os créditos de carbono, instrumentos que representam a redução ou remoção de uma tonelada de dióxido de carbono (CO₂) da atmosfera, estão se consolidando como ativos valiosos no mercado global e ferramentas essenciais no combate às mudanças climáticas. Empresas, governos e projetos que evitam ou capturam essas emissões, por meio de reflorestamento, energia limpa ou tecnologias mais eficientes, podem gerar créditos e comercializá-los com organizações que ainda não conseguem atingir suas metas de redução de emissões.
No Brasil, o mercado de créditos de carbono está em expansão. O Projeto de Lei nº 1436/2024, aprovado pela Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados, permite que produtores rurais utilizem créditos de carbono para o pagamento de impostos relacionados à agropecuária. Essa medida, ainda em tramitação, visa incentivar práticas sustentáveis no setor agropecuário, reconhecendo a produção de créditos de carbono como atividade rural e possibilitando sua utilização para quitar tributos, como o Imposto de Renda Rural (IRR).
Segundo Carlos Eduardo Silva, diretor da Excel, empresa líder em gerenciamento de combustível e gestão de frotas, o mercado de créditos de carbono tem se tornado uma ferramenta estratégica. “A comercialização desses créditos permite que empresas neutralizem parte de suas emissões, enquanto investem na transição para operações mais limpas. É um passo importante não só para a sustentabilidade ambiental, mas também para a competitividade econômica”, afirma.
Além disso, Carlos ainda aponta que empresas com grandes operações logísticas, como a Ambipar, Ambev, Grupo Boticário, DHL Brasil e Grupo Simpar, têm buscado integrar a compensação de carbono à gestão de suas frotas.
“Empresas com grandes operações logísticas buscam maneiras de mitigar seu impacto ambiental. Incorporar créditos de carbono ao planejamento de frota tem sido uma alternativa viável e valorizada pelo mercado, isso porque alguns bancos e instituições financeiras internacionais oferecem crédito com taxas de juros mais baixas para empresas que trabalham com créditos de carbono, incentivando a adoção de práticas mais sustentáveis”, complementa Carlos.
Grandes corporações globais, como a Microsoft, têm investido pesadamente em créditos de carbono como parte de suas metas de neutralidade climática. “A empresa anunciou, por exemplo, a meta de se tornar ‘carbon negative’ até 2030 e, desde então, vem adquirindo créditos oriundos de projetos de reflorestamento e captura de carbono em diversos países”, revela Carlos.
Esse movimento reflete uma tendência mais ampla, onde a economia global está sendo cada vez mais moldada por compromissos climáticos, cadeias produtivas mais limpas e mercados regulados de carbono.
“A recente volta do governo norte-americano ao cenário político, com discursos contrários às regulações ambientais e aos acordos climáticos, reacende alertas sobre o equilíbrio geopolítico nessa transição verde. Ainda assim, o avanço do setor privado e de outras potências globais, como União Europeia e China, garante a continuidade do fortalecimento do mercado de carbono como uma das engrenagens da nova economia mundial”, conclui.
A valorização dos créditos de carbono no mercado internacional acompanha o avanço de acordos climáticos e metas mais ambiciosas de redução de emissões. A expectativa é que, com a regulamentação mais clara do mercado de carbono no Brasil, o país se torne um dos protagonistas globais nesse setor.