Nova legislação incentiva o uso de etanol no setor de transportes brasileiro; Veículos elétricos ainda têm participação pequena, mas estão crescendo rapidamente no mercado de carros do Brasil
Por Rafael Rabioglio, Vinicius Nunes e Giulia Lopes
(BloombergNEF) — O Brasil elevou a obrigatoriedade de mistura de etanol à gasolina para o maior nível da história. A medida faz parte de esforços contínuos do governo para fortalecer o uso de biocombustíveis no setor de transportes do país. Embora os motores de combustão interna movidos a biocombustível ainda dominem o mercado automotivo brasileiro atualmente, o futuro da mobilidade no Brasil provavelmente será elétrico a bateria.
A chamada “Lei do Combustível do Futuro” — formalmente conhecida como Lei nº 14.993/2024 — representa o esforço do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para tornar os biocombustíveis parte central da estratégia de descarbonização do Brasil. Pela nova regra, que entrou em vigor em 1º de agosto, o etanol deve representar 30% da composição da gasolina comum vendida no mercado, ante os 27% anteriores.
A mudança no mandato de mistura pode aumentar a demanda por etanol em 1,6 bilhão de litros (423 milhões de galões) em 2026. A legislação também prevê um possível aumento do mandato para 35%, condicionado à validação de sua viabilidade técnica. E, além da mistura de etanol à gasolina, a lei estabelece um marco para o aumento do uso de biodiesel, combustível sustentável de aviação (SAF, na sigla em inglês) e biometano no país.
A indústria de etanol no Brasil é grande e sofisticada. A expansão da frota de veículos de passeio flex, combinada com mandatos elevados de mistura de etanol, tem impulsionado o consumo do biocombustível e moldado a política energética do país ao longo dos anos.
O crescimento do etanol no país começou com um programa nacional lançado em 1975, após o primeiro choque do petróleo, em 1973. Cinquenta anos depois, o Brasil ocupa a segunda posição no ranking mundial de produção de etanol, atrás apenas dos Estados Unidos. Quase 80% dos veículos de passeio vendidos no Brasil em 2024 foram modelos flex, capazes de rodar com qualquer mistura de gasolina e etanol.
Dado o contínuo apoio das políticas públicas, o etanol provavelmente continuará sendo parte central da transição para um transporte limpo no Brasil. No entanto, os veículos elétricos estão registrando forte crescimento no país, com as vendas praticamente dobrando de 2023 para 2024. Segundo o Cenário de Transição Econômica da BloombergNEF, os carros elétricos superarão os veículos com motor a combustão nas vendas no Brasil até 2038.
Ambas as alavancas de descarbonização — eletrificação e biocombustíveis — estão sendo consideradas pelas montadoras com presença no Brasil. A Toyota Motor Corp lançou o primeiro veículo híbrido flex do país em 2019, e a BYD planeja lançar seu modelo híbrido plug-in (PHEV) flex, produzido localmente, até o final de 2025. Esses PHEVs flex devem representar uma parcela importante das vendas de veículos elétricos no Brasil nos próximos cinco anos, abrindo caminho para uma penetração mais significativa dos veículos totalmente elétricos a partir de 2030.