Conteúdo

• Visão Geral
• O Gigante Adormecido e a Chave da Despachabilidade
• LRCap: O Novo Paradigma da Remuneração
• A Estratégia de Hibridização e o Mercado Resiliente
• A Disputa pela Liderança da Transição Energética

O tabuleiro do setor elétrico brasileiro está sendo reconfigurado, e o movimento da Axia (antiga Eletrobras) é, sem dúvida, um dos mais decisivos. A companhia afirma ter um colossal potencial de quase 6 GW em capacidade hidrelétrica para ser oferecido no próximo LRCap (Leilão de Reserva de Capacidade). Essa manobra estratégica posiciona os ativos hídricos como a espinha dorsal da firmeza e da segurança energética nacional, competindo diretamente com as fontes térmicas.

Para os players do mercado, a magnitude dessa oferta – 6 GW de hídricas – não é apenas um número, mas a consolidação do papel insubstituível da geração limpa e despachável. O LRCap busca garantir que o Sistema Interligado Nacional (SIN) tenha potência suficiente para operar com segurança em momentos críticos. A Axia está pronta para ser o principal garantidor dessa segurança.

O Gigante Adormecido e a Chave da Despachabilidade

A capacidade de quase 6 GW que a Axia pretende destinar ao leilão de reserva de capacidade é resultado de um portfólio robusto, herdado em grande parte da privatização da Eletrobras. A empresa possui 47 usinas hídricas em seu parque gerador, um número que confere não apenas volume, mas também a flexibilidade operacional exigida pelo sistema.

Essa capacidade não se refere à energia total gerada (MWh), mas sim à potência que pode ser garantida e despachada (MW) sob demanda, um produto que é o foco central do LRCap. As usinas hídricas de grande porte são, por natureza, as mais adequadas para essa função, pois podem ser acionadas e moduladas rapidamente pelo Operador Nacional do Sistema (ONS).

A Axia está capitalizando a natureza de seus ativos: a água represada é a forma mais eficaz e limpa de armazenamento de energia de grande escala. Diferente das soluções intermitentes, a capacidade hídrica oferece a previsibilidade de que o sistema desesperadamente precisa diante da crescente expansão de eólicas e solares.

O movimento da Axia sinaliza o valor redescoberto dos ativos legados. Eles são a âncora que impede a volatilidade de afundar a segurança energética. A empresa está, de fato, transformando a capacidade ociosa de seus reservatórios em um produto financeiramente remunerado, de alto valor estratégico para o país.

LRCap: O Novo Paradigma da Remuneração

O Leilão de Reserva de Capacidade (LRCap) foi criado como resposta à necessidade de garantir a firmeza da potência no SIN, especialmente após crises hídricas e o aumento da intermitência. Seu objetivo é contratar ativos que garantam um fluxo estável e confiável, independentemente das condições climáticas do momento.

Tradicionalmente, a firmeza era obtida principalmente por meio de termelétricas a gás, mas o movimento da Axia coloca a geração hídrica como uma alternativa de capacidade limpa e, potencialmente, mais competitiva. A competição neste leilão não será por quem gera a energia mais barata, mas sim por quem garante a potência mais confiável e com o menor custo de remuneração da capacidade.

A Axia avalia que a combinação de seus ativos hídricos existentes, que já possuem infraestrutura de transmissão e operação consolidada, oferece uma solução de baixo risco e alta atratividade. O custo incremental para disponibilizar esses 6 GW de potência firme é significativamente menor do que a construção de novas termelétricas ou grandes projetos de armazenamento de energia em baterias.

Para os investidores, a remuneração da capacidade oferecida pelo LRCap representa uma fonte de receita estável e de longo prazo. Essa receita funciona como um seguro para o sistema, garantindo que o investimento em ativos hídricos da Axia continue a ter um retorno previsível, valorizando o portfólio da companhia.

A Estratégia de Hibridização e o Mercado Resiliente

O plano da Axia de oferecer 6 GW de hídricas ao LRCap está alinhado com sua visão otimista sobre os preços de energia no médio prazo. A empresa tem observado uma resiliência de preços, com o megawatt-hora (MWh) se mantendo acima de R$ 240 para 2026. Essa conjuntura torna a contratação de capacidade firme ainda mais urgente e valiosa.

A Axia não opera apenas com hídricas. Seu portfólio inclui ativos eólicos e solares. A estratégia da empresa, no entanto, é usar a capacidade hídrica para hibridizar, metaforicamente, seus ativos limpos, transformando a intermitência em despachabilidade.

Ao ter uma fonte maciça de firmeza como seus 6 GW hídricos, a Axia pode otimizar a operação de suas usinas eólicas e solares, negociando sua energia com maior segurança no mercado de energia livre. Essa sinergia entre fontes limpas e despacháveis é o futuro da geração de energia.

A empresa se posiciona como uma fornecedora completa de segurança energética, apta a atender grandes consumidores industriais que exigem 100% de garantia de suprimento. O LRCap é a vitrine perfeita para demonstrar essa robustez técnica e financeira que a Axia possui.

A Disputa pela Liderança da Transição Energética

A injeção de quase 6 GW em ativos de firmeza hídrica no LRCap altera significativamente a dinâmica competitiva do leilão. Tradicionalmente, esses leilões abriam espaço para novas térmicas (carvão, gás natural), muitas vezes criticadas por seu impacto ambiental e alto custo de expansão.

Com a oferta da Axia, o Ministério de Minas e Energia (MME) e a ANEEL têm a oportunidade de contratar capacidade com uma pegada de carbono mínima e utilizando ativos hídricos que já fazem parte da geração limpa histórica do Brasil. Isso representa uma vitória para a agenda de sustentabilidade.

O desafio da Axia será comprovar tecnicamente a disponibilidade e a despachabilidade desses 6 GW perante o ONS. Embora o potencial exista, a gestão hídrica e os limites operacionais de cada usina deverão ser minuciosamente avaliados para a contratação da potência firme.

Se a Axia conseguir contratar grande parte de seus 6 GW no LRCap, ela consolidará sua posição como líder não apenas em volume de geração limpa, mas também em segurança energética. Essa expansão de portfólio via contratos de capacidade é uma jogada mestra que garante a longevidade dos ativos hídricos no novo mercado de energia.

Visão Geral

Em última análise, a ousada afirmação da Axia de ter quase 6 GW em hídricas para o LRCap ressalta uma verdade fundamental: a transição para a geração limpa e renovável no Brasil só será bem-sucedida se for ancorada pela firmeza e pela despachabilidade das grandes usinas hídricas. A Axia está pronta para monetizar essa convicção, moldando o futuro da segurança energética do país e garantindo que a potência esteja sempre disponível quando o sistema mais precisar.