A contratação de energia hídrica no LRCAP ameaça a confiabilidade do sistema. O presidente da Abraget alerta: dependência climática gera grande risco operacional.
Conteúdo
- Risco Climático e a Inclusão da Fonte Hídrica no LRCAP
- A Confiabilidade do Sistema e a Demanda de Potência Térmica
- Limitações Operacionais e o Papel Crítico das UHEs
- A Urgência de um Leilão Estruturante para Novas Usinas
- Visão Geral
Risco Climático e a Inclusão da Fonte Hídrica no LRCAP
O setor de geradores termelétricos expressa profunda preocupação com a segurança do Sistema Interligado Nacional. Segundo Xisto Vieira Filho, presidente da Abraget, a decisão de contratar hidrelétricas no Leilão de Reserva de Capacidade (LRCAP) introduz um risco significativo. Sua principal crítica reside na intrínseca dependência climática dessa fonte. Um estudo meticuloso, conduzido pela Thymos Energia para a Abraget, estimou que são necessários entre 23GW e 25GW de potência total para garantir a estabilidade do sistema ao longo dos anos do leilão. Contudo, a inclusão de um volume considerável de energia hídrica pode comprometer essa segurança, caso ocorra uma escassez hídrica prolongada, o que anula o objetivo primordial do certame.
A Confiabilidade do Sistema e a Demanda de Potência Térmica
O executivo Vieira Filho questiona a lógica por trás do LRCAP: “O objetivo é garantir o atendimento com fontes que não dependem do clima. Se incluirmos fontes altamente dependentes, teremos problemas”. Ele também destacou os atrasos no cronograma do leilão, originalmente previsto para 2025. Da demanda total calculada pela consultoria, 10 GW correspondem a térmicas existentes que perderão seus contratos nos próximos anos. Embora não se oponha a hidrelétricas ou sistemas de baterias, a contratação de 3GW a 4GW de fonte hídrica, prevista para o certame de 2026, é vista como insuficiente para resolver a questão estrutural da confiabilidade. A associação acredita que as termelétricas possuem a capacidade de atender integralmente à demanda do sistema no próximo leilão, enquanto o armazenamento químico ainda carece de tecnologia para substituir grandes máquinas síncronas.
Limitações Operacionais e o Papel Crítico das UHEs
É inegável a relevância das Usinas Hidrelétricas (UHEs) no panorama energético brasileiro, mas suas limitações operacionais não podem ser ignoradas. Para embasar essa visão crítica sobre a inclusão da fonte hídrica no leilão de reserva, o presidente da Abraget recorre a um estudo recente de flexibilidade do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). O documento de 2024 revela que, em 2023, foram emitidas 5.351 declarações de condicionantes operativos hidráulicos. Estes requisitos são essenciais, pois definem os limites de operação das usinas devido a fatores ambientais ou hidráulicos. Vieira Filho é categórico ao afirmar que não se pode contar com uma hidrelétrica em todas as situações, especialmente em períodos de seca. Apenas usinas que possuem um reservatório de grande porte deveriam ser consideradas em um leilão de confiabilidade, excluindo aquelas de baixa capacidade de armazenamento.
A Urgência de um Leilão Estruturante para Novas Usinas
A escassez de leilões regulados tem alimentado uma disputa acirrada por espaço no mercado, levando geradores a usar o LRCAP para buscar expansões em empreendimentos existentes. A melhor abordagem, contudo, seria realizar um leilão estruturante, específico para novas usinas hidrelétricas, especialmente aquelas com grandes reservatórios. Tais estruturas são consideradas vitais para a segurança energética do país. Nesse movimento de “pegar carona”, surgem também as baterias, uma tecnologia relevante, mas que é frequentemente interpretada de forma equivocada como a solução máxima para a flexibilidade. O executivo explica que a definição de flexibilidade é dupla (tempo de resposta e atendimento de rampa). Se o LRCAP visa contratar potência para o atendimento da rampa de carga, é inviável usar recursos como baterias para suportar uma rampa de 50 gigawatts.
Visão Geral
O debate sobre a confiabilidade energética no Brasil se intensifica em torno do Leilão de Reserva de Capacidade. Enquanto os geradores termelétricos, representados pela Abraget, advogam pela contratação de fontes independentes do clima para garantir a segurança do sistema, a inclusão massiva de fonte hídrica, com sua inerente dependência climática e riscos de escassez hídrica, é vista como um erro estratégico. O setor propõe que o governo se concentre em leilões estruturantes para novas usinas com reservatório, que são a verdadeira chave para a flexibilidade e a segurança de longo prazo. O foco deve ser em soluções robustas, capazes de sustentar o Sistema Interligado Nacional, evitando que a disputa por espaço no mercado comprometa a estabilidade essencial para o consumidor, incentivando o uso de energia garantida e, quando possível, através do Portal Energia Limpa.
