Revisão do EBITDA da Comerc pela Vibra expõe a criticidade da infraestrutura de transmissão para o setor de energia renovável.
Conteúdo
- Visão Geral da Revisão do EBITDA da Comerc
- A Queda no EBITDA e o Sinal de Alerta Financeiro
- Curtailment: O Que É e Por Que Está Acontecendo
- O Efeito Cascata na Geração Renovável
- Desafio Estrutural: A Transmissão como Gargalo Crítico
- Estratégias de Mitigação: O que a Comerc pode fazer
- A Mensagem da Vibra Energia para o Mercado
- Conclusão: Preço da Infraestrutura Inadequada
Visão Geral da Revisão do EBITDA da Comerc
A Vibra Energia (VBBR3) comunicou ao mercado uma revisão significativa na sua projeção de EBITDA da Comerc para 2025. O ajuste, que reduziu a estimativa de R$ 1,3 bilhão para uma nova faixa entre R$ 1,05 bilhão e R$ 1,15 bilhão, acende um alerta fundamental no setor elétrico brasileiro. A causa? Um aumento expressivo e persistente do curtailment nos projetos de geração renovável da Comerc. Este fenômeno técnico, antes restrito a discussões operacionais, agora impacta diretamente as expectativas financeiras de grandes players, expondo a fragilidade da infraestrutura de transmissão diante do crescimento explosivo da energia limpa.
A notícia da Vibra Energia não se trata apenas de um balanço contábil, mas de um sintoma de um problema estrutural. O curtailment tem se mostrado o calcanhar de Aquiles da expansão de fontes intermitentes, como a solar e a eólica. Para profissionais do mercado, a revisão demonstra que o risco de estrangulamento da rede não é mais teórico. Ele está precificando a lucratividade de ativos de geração e exigindo uma reavaliação completa dos modelos de risco e investimento em projetos de energia renovável.
A Queda no EBITDA e o Sinal de Alerta Financeiro
A redução na projeção do EBITDA da Comerc — Lucro Antes de Juros, Impostos, Depreciação e Amortização — reflete diretamente a diminuição da energia efetivamente vendida pelos projetos. A Vibra Energia detém uma participação relevante na Comerc, uma das principais plataformas de gestão e comercialização de energia limpa e geração distribuída do país. Portanto, o resultado operacional da Comerc influencia decisivamente a holding de combustíveis.
A projeção inicial de R$ 1,3 bilhão representava o otimismo com a entrada em operação de novas usinas. A nova faixa, que pode ser até 19,2% inferior no pior cenário, força a Vibra Energia a reajustar suas próprias expectativas de rentabilidade e retorno sobre o capital investido. O mercado financeiro, atento a esses sinais, vê no curtailment um novo fator de risco que precisa ser monitorado com a mesma cautela que a hidrologia e as variações cambiais.
Curtailment: O Que É e Por Que Está Acontecendo
O termo curtailment refere-se ao corte ou redução intencional da geração de energia renovável pelo Operador Nacional do Sistema (ONS). Isso ocorre quando a capacidade de geração excede a capacidade de transmissão da rede em determinada região, ou quando o ONS precisa manter a estabilidade do sistema. Em essência, os parques eólicos e solares geram energia, mas são obrigados a desligar ou diminuir a produção porque os cabos não conseguem escoar todo o volume.
No Brasil, o problema do curtailment está concentrado em regiões de forte irradiação solar e alta velocidade dos ventos, como o Nordeste. A expansão da geração renovável superou o ritmo de investimento em transmissão. A energia, abundante e limpa na fonte, fica presa. A Vibra, ao revisar o EBITDA da Comerc, confirma que este “engarrafamento” energético não é mais um evento esporádico, mas um obstáculo persistente que afeta o resultado final dos projetos.
O Efeito Cascata na Geração Renovável
O impacto do aumento do curtailment não é distribuído de forma homogênea. Ele afeta prioritariamente projetos merchant (aqueles que vendem a energia no Mercado Livre de Energia – MLE) e os ativos de geração distribuída de grande porte. A Comerc, com seu portfólio diversificado em GD e geração centralizada, sente essa pressão em cheio. A persistência do problema observada nos últimos trimestres sugere que as medidas paliativas não estão sendo suficientes.
O curtailment leva a uma perda direta de receita, pois a energia que não é gerada não pode ser vendida, mesmo que contratada. Além disso, ele pode elevar os custos operacionais, caso os contratos de compra de energia (PPAs) prevejam multas ou obrigações de swap no caso de falha na entrega. A Vibra Energia está, portanto, mensurando um prejuízo de oportunidade e, potencialmente, um risco contratual.
Desafio Estrutural: A Transmissão como Gargalo Crítico
O setor elétrico brasileiro vive um paradoxo: possui um dos maiores potenciais de energia limpa do mundo, mas uma rede de transmissão defasada. A lentidão nos leilões de transmissão, os atrasos na entrega de novas linhas e a complexidade do licenciamento ambiental criam um descompasso com a agilidade com que os parques de geração renovável são construídos. Essa assimetria é o motor do curtailment.
A decisão da Vibra Energia de revisar o EBITDA da Comerc serve como um poderoso case para reguladores e investidores. Se grandes players estão revendo suas projeções financeiras por causa da capacidade de escoamento, o risco sistêmico se torna evidente. O mercado precisa de um planejamento mais robusto e de mecanismos de incentivo que acelerem a expansão da transmissão, garantindo que a geração renovável alcance os centros de consumo.
Estratégias de Mitigação: O que a Comerc pode fazer
Embora o curtailment seja um problema de infraestrutura, a Comerc e outras empresas de geração renovável não estão de mãos atadas. Estratégias de mitigação incluem o aprimoramento do monitoramento meteorológico e da previsão de geração para otimizar o despacho, a negociação de contratos de seguros contra perdas por curtailment, e o investimento em soluções de armazenamento de energia.
O armazenamento (baterias), embora ainda caro, é a principal solução técnica de longo prazo. As baterias podem absorver o excesso de geração em momentos de pico e injetar a energia na rede quando o curtailment for imposto, ou durante a noite. A adoção dessa tecnologia será um diferencial competitivo e pode ser a chave para reverter a tendência de queda do EBITDA projetado pela Vibra Energia nos próximos ciclos.
A Mensagem da Vibra Energia para o Mercado
A Vibra Energia, ao divulgar o Fato Relevante, demonstra transparência, mas também alerta o mercado sobre a nova realidade de risco nos ativos de energia renovável. A posse majoritária da Comerc coloca a Vibra no centro das discussões sobre a sustentabilidade do modelo de negócios em geração. O caso reforça que a transição energética é um desafio que vai além da simples instalação de painéis solares e turbinas eólicas.
A pressão agora recai sobre a Vibra Energia para apresentar um plano de ação detalhado que proteja a rentabilidade da Comerc do risco de curtailment. Seja por meio de lobby regulatório para priorizar as linhas de transmissão que atendem seus projetos, seja através de soluções tecnológicas de ponta. O objetivo é claro: garantir que cada Megawatt-hora gerado pela Comerc chegue ao mercado, evitando perdas que corroem o EBITDA e a confiança dos investidores no setor elétrico verde brasileiro.
Conclusão: Preço da Infraestrutura Inadequada
A revisão da projeção de EBITDA da Comerc pela Vibra Energia é a materialização do custo de uma infraestrutura de transmissão inadequada. O curtailment transformou-se de uma anomalia técnica em um risco financeiro sistêmico para a geração renovável. O setor elétrico tem a tecnologia para gerar energia limpa em larga escala, mas o gargalo do escoamento está penalizando a rentabilidade das empresas e, por consequência, a atratividade do investimento. A solução deste dilema é urgente para que o Brasil mantenha sua liderança na transição energética.
