De acordo com a Climatempo, essa contradição revela uma mudança no perfil dos incêndios florestais e mostra que a vulnerabilidade do sistema climático e energético brasileiro está se reconfigurando
Estamos em pleno período de estiagem no Brasil e mesmo que a redução no ritmo das queimadas no Brasil mostre melhoras em relação ao ano passado – até maio de 2025, houve uma queda de 46% no número de focos de incêndio –, os desligamentos (“apagões”) de energia seguem uma tendência de alta ao longo dos últimos anos. O alerta é da Climatempo – a maior e mais reconhecida empresa de consultoria meteorológica e previsão do tempo do Brasil e da América Latina, ao destacar que a situação só deve se alterar com a chegada do período chuvoso, a partir de setembro.
Segundo dados da Abradee (Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica), entre 2023 e 2024 houve um aumento de 38% nas interrupções de energia causadas por queimadas, alcançando o maior patamar da série histórica recente. Ainda não há dados consolidados para 2025, mas os registros indicam que a simples queda no número de focos de incêndio não é suficiente para garantir um cenário de menor risco.
“Em uma análise quantitativa do número de queimadas, o cenário atual apresenta uma melhora. Ainda assim, é fundamental manter o monitoramento ativo e as análises atualizadas, especialmente porque parte dos incêndios recentes tem se concentrado em áreas críticas para a infraestrutura elétrica, como linhas de transmissão e subestações”, adverte Ana Clara Marques, meteorologista da Climatempo. Historicamente, as queimadas tendem a acelerar em julho e atingir o pico entre agosto e setembro na maior parte do País.

Por que isso está acontecendo?
A redução no número de queimadas e crescimento nas interrupções de fornecimento de energia – revela que pode haver uma mudança no perfil dos incêndios florestais. Apesar de menos dispersos, a meteorologista da Climatempo ressalta que os focos estão mais concentrados em áreas onde se localizam infraestruturas críticas.
“O fogo avança, principalmente nas regiões Norte e Centro-Oeste, reforçados pela baixa umidade durante o período seco (março a setembro). Queimadas pontuais, quando próximas a áreas críticas, têm impacto imediato e generalizado. E a estiagem prolongada torna o combate mais difícil e os efeitos mais duradouros.”
Os ventos predominantes dessa época, em função do contraste de temperatura do Sul, mais frio, e o Norte, mais quente, também ajudam a intensificar o cenário das queimadas.
Por meio de monitoramento contínuo, a Climatempo tem mantido os dados de 2025 atualizados. E, até o momento, as tendências observadas indicam que os riscos seguem elevados nas regiões de transição entre o Cerrado, a Caatinga e a Amazônia, especialmente durante o pico da estação seca.
De acordo com Ana Clara, o monitoramento das condições climáticas que favorecem a ocorrência de incêndios, principalmente nas regiões nas quais a prática de queimadas é mais frequente, é uma ferramenta fundamental para evitar que o fogo se propague por grandes extensões, causando perdas financeiras e até colocando em risco a vida das pessoas.
“Ferramentas de Inteligência Climática, como o SMAC (Sistema de Monitoramento e Alerta Climatempo) fornecem dados atualizados sobre a previsão de chuvas, a variação da temperatura e a situação dos ventos e são utilizadas por setores como o de energia, mas também o agronegócio, além do governo. Por meio de órgãos como a Defesa Civil, são enviados alertas e insights que auxiliam na tomada de ações preventivas e mitigatórias para evitar que os incêndios se propagem e tomem grandes proporções com as registradas nos últimos dois anos”, completa a meteorologista da Climatempo.