O Operador Nacional do Sistema (ONS) ativa medidas emergenciais focadas em pequenas usinas, antecipando a cooperação estratégica com os Distribution System Operators (DSOs) frente ao avanço das fontes renováveis.
### Conteúdo
- A Urgência por Trás do Excedente de Energia
- Fase Um: O Protocolo para Pequenas Centrais
- A Grande Virada: O Segundo Passo com os DSOs
- O Desafio da Geração Distribuída (GD)
- Implicações Econômicas e o Futuro dos Recursos Flexíveis
- A Convergência de Protocolos e a Sustentabilidade
- Visão Geral
A Urgência por Trás do Excedente de Energia
Nos últimos anos, o Brasil registrou recordes de geração hidráulica e, principalmente, de fontes intermitentes. A alta pluviosidade e o crescimento explosivo das eólicas e solares, notadamente nas regiões Sul e Nordeste, criaram momentos críticos de excedente de energia. Nesses picos, a produção supera em muito a capacidade de escoamento e a demanda do sistema.
Essa situação de sobrecarga pode parecer positiva à primeira vista, mas, na prática, gera sérios riscos de instabilidade do sistema. O excedente causa picos de tensão e exige que o ONS reaja rapidamente para evitar desligamentos em cascata, que poderiam levar a grandes apagões regionais. É a hora de usar o freio, e o Plano Emergencial de Cortes é esse mecanismo de segurança.
Fase Um: O Protocolo para Pequenas Centrais
O protocolo apresentado foca inicialmente em usinas de pequeno porte, consideradas recursos mais “flexíveis” para o controle emergencial. Incluem-se nesse grupo as Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) e as termelétricas a biomassa que injetam energia diretamente na rede de transmissão ou em subestações de alta tensão.
O ONS estabeleceu procedimentos claros para solicitar a restrição temporária da geração nessas unidades. A lógica é simples: são fontes menores, mais distribuídas e, teoricamente, mais fáceis de desconectar e reconectar rapidamente do que grandes empreendimentos, servindo como uma espécie de “válvula de segurança” do sistema.
O objetivo principal desse Plano Emergencial de Cortes é evitar que o excesso de injeção sobrecarregue a infraestrutura. A prioridade é sempre manter a integridade operacional do SIN, garantindo que a frequência e a tensão permaneçam dentro dos limites de segurança, protegendo equipamentos e a continuidade do suprimento.
A Grande Virada: O Segundo Passo com os DSOs
A menção do ONS sobre um “segundo passo” com os DSOs é o ponto de inflexão desta notícia para o profissional do setor. Os Distribution System Operators, ou Operadores do Sistema de Distribuição, são as concessionárias que gerenciam a rede de baixa e média tensão, o que é o território da Geração Distribuída (GD).
Este segundo passo sinaliza que o ONS reconhece que o grande desafio de flexibilidade e estabilidade do futuro não está apenas na grande geração centralizada, mas nos milhares de pontos de Geração Distribuída (GD) que se conectam à rede de distribuição. O monitoramento e o controle dessa micro e minigeração exigem uma coordenação local inédita.
A ascensão da energia solar fotovoltaica nos telhados (GD) transforma o consumidor em gerador. Embora sejam pilares da energia limpa, esses sistemas injetam uma quantidade massiva de eletricidade sem que o ONS tenha visibilidade direta ou controle centralizado. É aqui que os DSOs assumem um papel vital, agindo como os olhos e braços do sistema.
O Desafio da Geração Distribuída (GD)
A complexidade de gerenciar a Geração Distribuída (GD) é significativamente maior do que controlar uma PCH. A GD está espalhada, é intermitente e, em muitos casos, não possui comunicação bidirecional avançada com a distribuidora. Para o ONS, acessar esses “recursos flexíveis” exige a intermediação eficaz e tecnológica dos DSOs.
Em um cenário de excedente de energia regional, especialmente durante o pico solar do meio-dia, o ONS precisará que os DSOs atuem rapidamente, cortando a injeção de grandes blocos de GD que estejam causando sobrecarga local na rede de distribuição. Isso demanda não apenas protocolos, mas investimentos em redes inteligentes (*Smart Grids*).
A digitalização e a implementação de tecnologia avançada nos DSOs são, portanto, pré-requisitos para a segurança do sistema na era da energia renovável descentralizada. O “segundo passo” proposto pelo ONS é, na verdade, um reconhecimento da transição de poder operacional para a ponta da rede, onde o volume de injeção de energia está crescendo exponencialmente.
Implicações Econômicas e o Futuro dos Recursos Flexíveis
Para os geradores de PCHs e biomassa, o Plano Emergencial de Cortes significa um risco regulatório e econômico. A restrição temporária de geração acarreta perdas de receita, o que deve ser endereçado pelo regulador (ANEEL) com mecanismos de compensação justos e transparentes. O custo da estabilidade não pode recair apenas sobre o gerador.
No entanto, o custo de um colapso do SIN é incomensuravelmente maior. O novo plano busca precificar a flexibilidade e a segurança operacional do sistema. Em um futuro próximo, ter capacidade de modulação (ligar e desligar rapidamente) se tornará um ativo de alto valor.
A necessidade de recursos flexíveis controláveis cresce com a penetração das renováveis. Além dos cortes, o mercado se prepara para a ascensão de novas tecnologias, como o armazenamento de energia em baterias (*BESS*), que poderão absorver o excedente de energia em vez de cortá-lo.
A Convergência de Protocolos e a Sustentabilidade
A iniciativa do ONS representa um amadurecimento operacional do setor elétrico brasileiro. Deixar de apagar incêndios para planejar contingências é um salto qualitativo. O plano não é contra a energia limpa, mas a favor da integração segura e sustentável dessas fontes.
A colaboração entre o ONS, que opera o troncal de alta tensão, e os DSOs, que gerenciam a capilaridade da rede, é o próximo grande desafio regulatório e técnico. O sucesso do Plano Emergencial de Cortes na fase um será o teste de campo para o passo subsequente, que definirá como o Brasil controlará sua revolução da Geração Distribuída (GD).
Em suma, o que o ONS está fazendo é estruturar o manual de operação para um sistema que está se tornando rapidamente mais verde e mais complexo. O plano é uma resposta pragmática ao crescimento da geração e um prenúncio da centralidade dos DSOs na arquitetura da energia do futuro. O profissional do setor precisa estar atento: a estabilidade do SIN agora depende, mais do que nunca, de uma coordenação fina na ponta da rede.
Visão Geral
O Operador Nacional do Sistema (ONS) implementou um Plano Emergencial de Cortes visando a segurança do Sistema Interligado Nacional (SIN), em resposta a picos de excedente de energia gerados pelas fontes renováveis. Esta ação inicial envolve pequenas usinas (PCHs) e sinaliza a transição para o envolvimento dos DSOs no controle da Geração Distribuída (GD), definindo a próxima fase na gestão da energia limpa no país.























