A COP30 intensifica o foco na implementação de soluções concretas de energia limpa, priorizando o financiamento e a rota estratégica para o desinvestimento em combustíveis fósseis.
Conteúdo
- Visão Geral
- A Tese da Transição Justa e Gradual
- Biocombustíveis e o Papel do Carbono Neutro
- O Grito por Financiamento Escalar: NCQG em Foco
- O Consumidor como Vetor da Oferta de Energia
- A Urgência Regulatória do Mercado de Carbono
- Próximos Passos: Da Energia à Estratégia Climática
A 30ª Conferência das Partes (COP30) em Belém do Pará elevou o nível do debate no seu tão aguardado Dia da Energia. Se a primeira parte do encontro dedicou-se à ambição e ao reconhecimento dos desafios, a segunda mergulhou de cabeça nas soluções concretas, focando no financiamento e na delicada rota de desinvestimento em combustíveis fósseis. A plateia, composta majoritariamente por executivos do setor elétrico, buscou avidamente por sinais claros de regulamentação e previsibilidade para o futuro da transição energética.
A atmosfera era de urgência controlada. As discussões refletiram a crescente pressão global para que os países saiam do estágio de promessas e entrem na fase de implementação massiva de projetos de energia limpa. O desafio central, como ficou claro, não é mais se vamos mudar a matriz, mas sim como financiar essa mudança de forma justa e rápida o suficiente para cumprir o limite de 1,5°C.
A Tese da Transição Justa e Gradual
Líderes governamentais, como o Vice-Presidente Geraldo Alckmin e a Ministra Marina Silva, foram unânimes em defender a necessidade de uma transição energética justa e gradual para o Brasil. Para o setor, isso significa que a eliminação da dependência dos combustíveis fósseis não pode sacrificar a segurança energética ou o desenvolvimento social e econômico das regiões produtoras.
A palavra-chave aqui é justiça. No contexto amazônico da COP30, isso se traduz em políticas que garantam o acesso universal à energia limpa e que criem novas cadeias de valor sustentáveis. Profissionais do setor de distribuição elétrica precisam olhar para a transição não apenas como troca de fonte, mas como reestruturação completa da relação entre consumo, produção e território, especialmente no Norte do país.
Um ponto de destaque na segunda parte do Dia da Energia foi o mapa proposto para essa redução de dependência fóssil. Não se trata de um corte abrupto, mas de um planejamento estratégico que maximiza o uso de ativos de energia renovável existentes e em desenvolvimento, como o hidrogênio verde, para substituir gradualmente a geração térmica.
Biocombustíveis e o Papel do Carbono Neutro
O debate técnico ganhou profundidade ao tratar de soluções que vão além da dupla eólica-solar. O papel dos biocombustíveis brasileiros, como o etanol e o biodiesel, foi intensamente discutido como um pilar da descarbonização, especialmente no setor de transportes e na indústria.
A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) apresentou um estudo sobre a captura de carbono gerada pelos biocombustíveis. Essa tecnologia, o Bioenergy with Carbon Capture and Storage (BECCS), posiciona o Brasil em uma vanguarda global. Ele permite não apenas zerar emissões, mas criar emissões negativas, um trunfo inegável para atingir as metas de 2035 e atrair investimentos em green finance.
Essa visão integrada mostra que a transição energética brasileira não se resume à eletrificação pura. Ela incorpora a bioeconomia e a gestão de carbono como elementos centrais da estratégia nacional. Investidores que atuam no setor sucroalcooleiro ou em biorrefinarias devem acompanhar de perto o avanço regulatório dessa agenda.
O Grito por Financiamento Escalar: NCQG em Foco
A sessão mais esperada da segunda parte do Dia da Energia abordou o financiamento climático, o calcanhar de Aquiles das COPs. Ficou claro que, para impulsionar a energia renovável na escala necessária – triplicar a capacidade global até 2030, conforme a COP28 –, os atuais fluxos de capital são insuficientes.
A discussão girou em torno do Novo Objetivo Coletivo Quantificado de Financiamento (NCQG), que deve substituir a meta de US$ 100 bilhões anuais. A pressão dos países em desenvolvimento, liderados pelo Brasil, é para que o novo objetivo alcance trilhões, envolvendo não apenas recursos públicos, mas a mobilização decisiva do capital privado.
Para os profissionais de financiamento de projetos, a COP30 precisa sinalizar mecanismos de mitigação de risco. O debate enfatizou a necessidade de garantias de crédito e blended finance (combinação de capital público e privado) para viabilizar projetos de infraestrutura de energia de grande porte no Sul Global, onde o risco percebido ainda é alto.
O Consumidor como Vetor da Oferta de Energia
Um dos diálogos mais inovadores do Dia da Energia veio do setor industrial, com a Braskem defendendo uma inversão de lógica: em vez de esperar que a oferta de energia limpa guie o mercado, é preciso incentivar que o consumidor puxe essa oferta. Isso envolve políticas de preço e regulamentação que estimulem a demanda por produtos e processos descarbonizados.
Essa tese é um chamado direto para o setor de geração distribuída e para as comercializadoras. Se houver incentivo para o consumidor final, seja ele industrial ou residencial, valorizar e pagar pela energia verde, a expansão do mercado será orgânica e exponencial. É um convite ao desenvolvimento de novos modelos de negócios focados na experiência e rastreabilidade da energia.
O foco no consumidor também se conecta ao conceito de transição justa. Garantir que as tarifas de energia permaneçam acessíveis, mesmo com a modernização da rede e a inserção de fontes intermitentes (eólica e solar), é fundamental.
A Urgência Regulatória do Mercado de Carbono
O Artigo 6 do Acordo de Paris, que rege o mercado de carbono, foi, mais uma vez, um tema de destaque. O consenso é que a falta de clareza regulatória continua sendo um entrave bilionário. A segunda parte do Dia da Energia buscou pressionar por um acordo técnico final sobre as regras de contabilidade e integridade ambiental dos créditos.
Para empresas com grandes metas de net zero, a validação internacional do mercado de carbono é crucial para precificar seus projetos de mitigação. O Brasil, com seu imenso potencial em créditos de remoção baseados na natureza, espera que a COP30 desbloqueie de vez esse fluxo de capital. O resultado influenciará diretamente a viabilidade econômica de projetos de energia renovável associados à conservação florestal.
Os participantes do setor elétrico sublinharam que as novas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) para 2035, que serão discutidas na COP30, só serão alcançáveis com um mercado de carbono robusto e funcional. O Artigo 6 é, de fato, o motor financeiro que pode levar a transição da promessa à realidade.
Próximos Passos: Da Energia à Estratégia Climática
O Dia da Energia, em sua segunda parte, serviu como um termômetro do compromisso brasileiro e global com a descarbonização. As conversas saíram do plano filosófico e aterrissaram em questões como a infraestrutura de energia, o hidrogênio verde, e a bioenergia com captura de carbono.
O setor elétrico sai dos diálogos com uma certeza: a transição energética está em uma encruzilhada. Ou se obtém o financiamento necessário, com regras claras, ou a meta de 1,5°C se torna inatingível. A pressão agora recai sobre os negociadores para que as ambições manifestadas no Dia da Energia se transformem em acordos finais vinculantes na COP30 em Belém.
A mensagem final é clara: a energia limpa é o único caminho, mas a velocidade e a justiça dessa rota dependem das decisões financeiras e regulatórias tomadas nesta Conferência. A próxima fase dos Diálogos da Transição focará em transformar esse consenso em investimento.
Visão Geral
A segunda fase do Dia da Energia na COP30 consolidou a pauta na implementação prática da transição energética, focando intensamente na necessidade de trilhões em financiamento, na integração de biocombustíveis, e na urgência regulatória do mercado de carbono, tudo sob a ótica da justiça social e econômica.























