Conteúdo
- O Alerta de Galamba: A Batalha Silenciosa no Setor
- As Raízes da Tensão: Economia e Custos de Rede
- O Desafio Técnico: Fluxo Reverso e Digitalização
- A Solução Proposta: Armazenamento e Convergência
- O Papel do Regulador e o Futuro Integrado
- Além da Batalha: Rumo à Resiliência
- Visão Geral
O setor elétrico brasileiro vive um momento de cisão, impulsionado pelo crescimento explosivo da Geração Distribuída (GD). De um lado, a descentralização, capitaneada pela energia solar fotovoltaica; de outro, a Geração Centralizada (GC) e as concessionárias tradicionais, que veem seus modelos de negócio e a estabilidade da rede ameaçados. O alerta é sério: o Brasil pode viver uma ‘guerra’ destrutiva entre esses dois modelos se não houver uma urgente integração de recursos. A avaliação de Galamba, uma voz experiente no mercado, ressoa como um sino de alarme para reguladores e investidores.
O ponto central da tensão não é a fonte de energia, mas a forma como ela interage com o sistema. A GD representa hoje mais de 30 GW de capacidade instalada, majoritariamente solar, injetando energia diretamente na rede de distribuição. Esse avanço, embora crucial para a sustentabilidade e para empoderar o consumidor, desafia a arquitetura centenária do sistema brasileiro, desenhado para fluxos unidirecionais de GC para o consumidor final. Essa dualidade é a gênese do conflito.
O Alerta de Galamba: A Batalha Silenciosa no Setor
A expressão “guerra” usada por Galamba (referência a especialistas ou líderes de opinião do mercado) reflete a intensidade dos debates regulatórios e econômicos atuais. O setor elétrico está dividido entre a defesa dos subsídios e incentivos que impulsionaram a GD e a cobrança crescente por uma remuneração justa dos ativos de transmissão e distribuição, vitais para toda a sociedade. Esta polarização impede que o sistema evolua para uma matriz verdadeiramente complementar.
A falta de integração de recursos não é apenas um problema regulatório, mas uma miopia estratégica. Manter a GD e a GC em trincheiras opostas ignora o valor intrínseco de cada uma. A Geração Centralizada garante a confiabilidade e a reserva de potência (backbone) necessária para a segurança do sistema. Já a Geração Distribuída oferece resiliência, descarbonização e reduz as perdas na transmissão. O desafio é sincronizar essas forças.
As Raízes da Tensão: Economia e Custos de Rede
O principal campo de batalha econômico reside na alocação dos custos da rede. Consumidores que instalam GD utilizam o modelo de compensação que abatia grande parte dos custos de uso do fio e encargos (o famoso “Fio B”). Embora o Marco Legal (Lei 14.300/22) tenha alterado gradualmente essa regra para novos projetos, o estoque de unidades antigas e o impacto nas tarifas continuam sendo temas sensíveis.
O argumento da GC e das distribuidoras é claro: a rede é usada como uma “bateria” gratuita, forçando os consumidores sem GD a subsidiarem indiretamente a infraestrutura. Sem uma integração de recursos tarifários e técnicos, essa sobrecarga desigual cria uma injustiça distributiva e ameaça a saúde financeira das concessionárias, o que, no longo prazo, compromete a qualidade e a expansão da rede elétrica para todos.
O Desafio Técnico: Fluxo Reverso e Digitalização
Tecnicamente, o aumento desordenado da Geração Distribuída causa o fenômeno do fluxo reverso, onde a energia flui do consumidor para a subestação, e não o contrário. Redes projetadas para fluxos unidirecionais sofrem com problemas de qualidade de energia, como sobretensão e instabilidade. Isso exige investimentos urgentes em smart grids e equipamentos de controle.
A integração de recursos aqui significa digitalização. Sem medidores inteligentes e sistemas de monitoramento em tempo real (AMS), o Operador Nacional do Sistema (ONS) e as distribuidoras não conseguem gerenciar a intermitência da GD de forma eficiente. O risco é de blecautes locais ou, em um cenário de alta penetração, a necessidade de restringir a GD, o que seria um retrocesso.
A Solução Proposta: Armazenamento e Convergência
Galamba e outros especialistas apontam para uma solução que transforma o embate em sinergia: o armazenamento de energia (BESS – Battery Energy Storage Systems) e a digitalização coordenada. O BESS, seja centralizado (em grandes usinas) ou distribuído (no ponto de consumo), é a peça que falta para harmonizar a GD e a GC.
O armazenamento de energia permite que a energia solar gerada no pico do dia (o excedente da GD) seja guardada e utilizada no pico da demanda noturna. Isso atenua o fluxo reverso, melhora a qualidade de energia e reduz a necessidade de despachar termelétricas caras da GC. É a tecnologia que facilita a verdadeira integração de recursos, transformando a intermitência em confiabilidade.
O Papel do Regulador e o Futuro Integrado
O regulador, a ANEEL, tem a responsabilidade de mediar essa potencial “guerra”. A integração de recursos exige um novo arcabouço regulatório que vá além da Lei 14.300. É preciso criar mecanismos de mercado que valorizem os serviços ancilares oferecidos pela GD (como o controle de tensão e a flexibilidade) e, ao mesmo tempo, garantam a remuneração justa dos ativos de infraestrutura (a GC e a rede).
A reforma do setor elétrico deve ser encarada não como uma disputa de poder, mas como a construção de um sistema híbrido. A Geração Centralizada deve se modernizar, oferecendo flexibilidade e fontes complementares rápidas (gás, baterias). A Geração Distribuída deve ser incentivada a adotar o armazenamento de energia e a operar de forma coordenada com a rede (conceito de smart grids).
Além da Batalha: Rumo à Resiliência
O custo da inércia regulatória é alto. Se o Brasil viver a ‘guerra’ entre os modelos, o resultado será instabilidade, aumento tarifário e desconfiança do investidor. A visão de integração de recursos, defendida por Galamba, é o caminho para evitar esse cenário. Ela exige que o setor elétrico brasileiro abrace a descentralização de forma madura.
O futuro do setor elétrico é híbrido, onde a GD e a GC coexistem e se apoiam. A capacidade de integração de recursos — sejam eles físicos (como o BESS), digitais (como os smart grids) ou regulatórios (como novas tarifas) — definirá a resiliência e a sustentabilidade da nossa matriz. A hora de agir é agora, antes que a tensão silenciosa escale para um conflito aberto, comprometendo a transição energética do país.
Visão Geral
A integração entre Geração Distribuída (GD) e Geração Centralizada (GC) é a única via para estabilizar o setor elétrico. O impasse atual, focado em custos da rede e fluxo reverso, só será superado com armazenamento de energia e uma nova regulamentação que promova a efetiva integração de recursos, visando a sustentabilidade e resiliência energética do Brasil.
























