Tanto a Subsea7 quanto a Saipem são empresas com frotas de embarcações de alta complexidade e expertise em projetos Subsea (submarinos). A união busca sinergias que reduziriam custos operacionais e permitiriam à nova companhia competir com mais agressividade em contratos de grande volume. A lógica é simples: em um mercado de margens apertadas e projetos que exigem capital intensivo, apenas os gigantes sobrevivem e prosperam.
O novo player resultante da fusão entre Subsea7 e Saipem terá um portfólio de ativos inigualável, incluindo embarcações de lançamento de dutos, navios-guindaste de grande capacidade e tecnologia avançada para inspeção e manutenção submarina. Essa capacidade combinada é crucial para o desenvolvimento de campos de petróleo e gás em águas ultraprofundas, mas também é a espinha dorsal para a instalação de parques de energia eólica offshore.
O mercado brasileiro de petróleo e gás, um dos mais importantes para ambas as empresas, é onde o alerta concorrencial é mais agudo. Fontes de mercado indicam que grandes petroleiras, como a Petrobras, já acionaram o Cade, manifestando oposição ou exigindo remédios concorrenciais para evitar um oligopólio.
O Efeito Cascata no Setor Elétrico
Para o setor elétrico, o impacto da fusão entre Subsea7 e Saipem se manifesta diretamente no horizonte da energia eólica offshore. O Brasil possui um potencial de geração de energia eólica em alto-mar vastíssimo, mas a tecnologia exige serviços offshore complexos e especializados.
A construção de eólicas offshore demanda navios especializados para cravar as fundações (monopiles, jaquetas ou flutuantes) e instalar as turbinas gigantes. As empresas resultantes da fusão estão entre as poucas que possuem a frota e a tecnologia necessárias para realizar esses serviços offshore em grande escala.
Se o número de fornecedores de EPCI para eólica offshore diminuir, o poder de precificação e o prazo para a execução dos projetos tendem a aumentar. Isso pode encarecer a geração de energia em alto-mar, tornando os futuros leilões de energia eólica offshore menos competitivos e atrasando a entrada dessa energia renovável na matriz brasileira.
A Necessidade de Remédios Concorrenciais do Cade
A análise do Cade, o xerife antitruste brasileiro, será detalhada. O órgão terá que definir os mercados relevantes (separações geográficas e tecnológicas) e avaliar a concentração do poder de mercado gerada pela fusão entre Subsea7 e Saipem.
O Cade pode exigir o que o mercado chama de “remédios concorrenciais”. Estes podem incluir a venda de ativos específicos (embarcações ou bases operacionais) ou a garantia de acesso não discriminatório a determinadas tecnologias ou frotas. O objetivo é assegurar que a fusão não resulte em um player dominante que possa ditar preços e condições de serviços offshore no país.
A preocupação é que a concentração crie gargalos na cadeia de serviços offshore que são cruciais para a transição energética. O desenvolvimento da energia eólica offshore no Brasil é dependente da disponibilidade e do custo de serviços especializados. Se o leque de fornecedores de EPCI diminuir drasticamente, o risco de dependência tecnológica e monopolização aumenta.
O Segmento de Energia Eólica Offshore em Foco
A Saipem já possui um braço de atuação focado em energia eólica offshore, consolidando sua posição no setor de clean energy. Com a união, a nova Subsea7-Saipem se tornará automaticamente uma das líderes mundiais na instalação de wind farms marítimos. Embora a escala seja benéfica para projetos globais, ela concentra o poder de negociação e pode dificultar a entrada de novos players menores.
O setor elétrico brasileiro, que aguarda a regulamentação final para dar o start em projetos de eólica offshore, precisa que o mercado de serviços offshore seja saudável e competitivo. O alerta concorrencial não é sobre impedir a fusão entre Subsea7 e Saipem, mas garantir que o megaplayer que surge não estrangule a inovação e o financiamento de novos projetos de geração de energia no Brasil.
A decisão do Cade será fundamental. Se o órgão exigir remédios que protejam a concorrência na cadeia de serviços offshore, ele estará, indiretamente, protegendo a viabilidade econômica da energia eólica offshore no país. Ao garantir o acesso a navios e tecnologias a preços justos, o Brasil se posiciona melhor para atrair investidores em clean energy.
Visão Geral
A fusão entre Subsea7 e Saipem é um marco no setor de infraestrutura marítima global. Ela simboliza a busca por eficiência e escala. Contudo, é imperativo que os reguladores brasileiros, atentos ao alerta concorrencial, garantam que a criação deste gigante do mar não resulte em custos mais altos ou em atrasos na implementação da geração de energia renovável brasileira, um pilar estratégico para o futuro do setor elétrico. A cadeia de serviços offshore está sob os holofotes, e a palavra final sobre o equilíbrio de mercado será dada em Brasília.