A gigante norueguesa Equinor formaliza interesse na produção de biometano brasileiro, sinalizando a maturidade do gás renovável no contexto ESG e da descarbonização global.
Conteúdo
- Visão Geral da Entrada da Equinor no Biometano
- O Mandato Legal e o Driver de 2026 para o Biometano
- Mapeando a Cadeia de Valor e os Custos de Produção
- O Gigante Agrícola e o Potencial de Biometano
- A Conexão com o Gás Natural Fóssil e a Infraestrutura Compartilhada
- O ESG e a Vantagem Competitiva no Mercado
- Desafios: Infraestrutura e Logística para o Biometano
- Perspectivas de Longo Prazo e o Futuro do Biometano no Brasil
Visão Geral da Entrada da Equinor no Biometano
O mapa da transição energética global ganha um novo e decisivo traço no Brasil: o interesse formal da Equinor, gigante norueguesa de energia, em entrar na produção de biometano. A avaliação da empresa, que historicamente consolidou sua força em petróleo e Gás Natural (GN), sinaliza a seriedade com que os *majors* estão encarando a agenda de descarbonização e o vasto potencial do gás renovável brasileiro. Este movimento não é apenas uma notícia corporativa; é um indicador macroeconômico de que o biometano atingiu a maturidade estratégica no mercado de ESG e energia limpa.
A Equinor, que se comprometeu globalmente com a neutralidade de carbono até 2050, tem reposicionado seu portfólio para incluir ativamente soluções de baixo carbono. No Brasil, onde já possui ativos significativos em óleo e gás offshore (como o campo de Bacalhau) e energias renováveis (eólica e solar), a inclusão do biometano complementa essa estratégia de diversificação e resiliência. O gás renovável representa uma oportunidade de monetizar o carbono e atender às crescentes demandas por combustíveis *net zero* na indústria e nos transportes.
O Mandato de Biometano e o Driver de 2026 para o Biometano
O principal catalisador para a decisão da Equinor é a evolução regulatória no Brasil. Especificamente, o novo mandato de biometano, impulsionado pelo programa Combustível do Futuro, exige que as distribuidoras de Gás Natural (GN) e empresas de energia incorporem uma porcentagem de gás renovável em seu volume total de vendas, a partir de 2026.
Este mandato de biometano cria um mercado cativo e previsível para o gás renovável, algo essencial para justificar investimentos de longo prazo por parte de grandes *players* como a Equinor. A empresa, que será obrigada a cumprir essa regra, está agora no processo de decidir se é mais vantajoso construir sua própria infraestrutura de produção de biometano (*make*) ou se associa a produtores locais já estabelecidos (*buy*).
Mapeando a Cadeia de Valor e os Custos de Produção de Biometano
A Equinor confirmou que está ativamente em contato com produtores de biometano no Brasil, dedicando tempo para “entender a cadeia de valor e os custos“. Este *due diligence* é crucial. O Brasil possui uma das maiores reservas de biomassa do mundo, oriundas principalmente do agronegócio (cana-de-açúcar, dejetos animais) e de resíduos urbanos (aterros sanitários).
Essa vasta disponibilidade de matéria-prima confere ao Brasil um potencial de produção de biometano que pode ser até mais competitivo do que o Gás Natural fóssil em certas regiões, especialmente aquelas distantes da rede de gasodutos principal. Analisar a logística de suprimento da matéria-prima e a infraestrutura de *upgrading* para purificar o biogás é o foco da norueguesa neste momento.
O Gigante Agrícola e o Potencial de Biometano
A indústria sucroenergética do Brasil é um dos grandes *targets* da Equinor. O resíduo da cana-de-açúcar, a vinhaça, é um substrato de altíssima produtividade para a geração de biogás, que pode ser transformado em biometano. Grandes *players* nacionais já estão desenvolvendo projetos robustos, e a entrada de um capital e *know-how* internacional como o da Equinor poderia acelerar exponencialmente o setor.
A expertise global da Equinor em grandes projetos de infraestrutura e gestão de risco pode ser o destravador necessário para tirar do papel projetos complexos de biometano de escala industrial. A empresa não busca apenas ser um comprador, mas sim um parceiro estratégico que possa garantir o custo de capital e a eficiência operacional dos ativos.
A Conexão com o Gás Natural Fóssil e a Infraestrutura Compartilhada
Embora o foco seja o gás renovável, a entrada da Equinor no biometano está diretamente ligada à sua operação de Gás Natural fóssil. No futuro, o biometano pode ser injetado na mesma rede de distribuição de GN. Isso dilui o gás fóssil, cumprindo o mandato de biometano de forma eficiente e descarbonizando gradualmente o gás comercializado.
Essa sinergia operacional é economicamente atrativa. Usar a mesma infraestrutura de gasodutos e distribuição reduz o custo de capital e de logística. Para a Equinor, a produção de biometano se torna, assim, um hedge contra a crescente pressão por descarbonização em seu portfólio de hidrocarbonetos.
O ESG e a Vantagem Competitiva no Mercado de Biometano
O movimento da Equinor é uma resposta direta às exigências do mercado de ESG. Investidores globais estão cada vez mais sensíveis ao risco de ativos fósseis. Ao investir em biometano, a Equinor não só se adequa à legislação brasileira, mas também fortalece sua narrativa de transição energética perante acionistas e *stakeholders*.
O biometano oferece o bônus de ser uma solução de economia circular. Ele transforma um passivo ambiental (resíduo) em um ativo energético limpo. Essa conversão de passivo em ativo é um diferencial de ESG poderoso, capaz de atrair capital de baixo custo e garantir a preferência de clientes industriais com metas de sustentabilidade rigorosas.
Desafios: Infraestrutura e Logística para a Produção de Biometano
Apesar do otimismo, o caminho para a produção de biometano em larga escala no Brasil exige superar desafios logísticos. O principal deles é a expansão da infraestrutura de gasodutos para conectar as áreas de produção (muitas vezes remotas, próximas a fazendas e aterros) aos grandes centros consumidores.
O investimento da Equinor, se confirmado, poderá atuar como um ímã para novos investimentos em gasodutos dedicados e *trucking* (transporte rodoviário) de Gás Natural Liquefeito (GNL) ou biometano comprimido. Este é o destravador físico do mercado, garantindo que o gás renovável chegue onde é mais necessário.
Perspectivas de Longo Prazo e o Futuro do Biometano no Brasil
A entrada potencial da Equinor marca uma nova fase para o gás renovável no Brasil. O setor de biometano está saindo da fase pioneira para a fase de industrialização. Estima-se que o potencial brasileiro de produção de biometano possa ultrapassar 40 milhões de metros cúbicos por dia, superando a demanda de alguns países europeus.
A norueguesa, com seu histórico de excelência em projetos de grande capital e complexidade, pode ser o agente transformador que garantirá que o Brasil monetize de forma eficiente seu “ouro verde”. Para o setor elétrico e industrial, a notícia é um sinal claro: a transição energética acelerou, e o biometano é, definitivamente, o gás do futuro que está sendo planejado agora. Um movimento audacioso que consolida a posição do Brasil como potência em energias renováveis na matriz global.
























