Projeto Conexão Kayapó, liderado pela Comerc, levará energia limpa a 18 aldeias, ampliando a qualidade de vida e vigilância ambiental na região do Arco do Desmatamento
No sul do Pará, no coração da Amazônia, um projeto inovador está unindo tecnologia, sustentabilidade e justiça social para transformar a realidade de comunidades indígenas da etnia Kayapó. O Conexão Kayapó está promovendo a instalação de sistemas solares com baterias, em aldeias localizadas nas Terras Indígenas Menkragnoti, Baú, Capoto/Jarina e Panará, consideradas regiões críticas do Arco do Desmatamento. A iniciativa é liderada pela Comerc, empresa de soluções inovadoras em energia da Vibra, com o apoio do Instituto AYA, Instituto Kabu e Instituto A Gente Transforma.
A fase piloto do projeto, desenvolvido pela Comerc por meio de sua joint-venture com a Micropower, foi concluída em dezembro de 2024 na aldeia Pykany, com investimento de R$ 2 milhões. Nessa etapa, foram instalados 35 sistemas que fornecem energia 24 horas por dia para residências, escola, posto de saúde e bases de vigilância.
Ao todo, a iniciativa beneficiará mais de 1,5 mil pessoas, com a implantação de energia solar em mais de 160 residências, distribuídas entre 18 aldeias e 7 bases de monitoramento territorial. O custo estimado para expandir o projeto a todas as aldeias atendidas pelo Instituto Kabu será superior a R$ 14 milhões.

Mais do que fornecer eletricidade, a iniciativa leva autonomia energética e promove uma transformação estrutural nas comunidades. Atividades que antes se restringiam ao período diurno, como aulas, reuniões e a produção de artesanato, agora seguem também durante a noite. A mudança amplia as possibilidades do cotidiano e fortalece o desenvolvimento local.
A chegada da energia também viabilizou acesso à internet via satélite e o fortalecimento de ações integrativas de educação, capacitação técnica e uso de tecnologias que facilitam o cotidiano das aldeias. Jovens, crianças e mulheres estão no centro dessas iniciativas, com foco na formação de novas lideranças e no fortalecimento da equidade de gênero.
Além de impulsionar o desenvolvimento local, a energia solar tornou-se uma ferramenta essencial para a proteção ambiental. O fornecimento contínuo fortalece as bases de vigilância e amplia a capacidade de resposta diante de atividades ilegais, como o desmatamento e o garimpo. Em 2021, as terras indígenas Baú e Menkragnoti registraram, juntas, mais de 1.500 km² de desmatamento — uma área equivalente à cidade de São Paulo. O monitoramento ininterrupto permite agora uma defesa mais eficaz do território e da vida que nele se sustenta.
A iniciativa também revela o poder das parcerias. O Instituto AYA é responsável por articular empresas interessadas em apoiar o projeto, que surgiu dentro do Projeto de Turismo de Base Comunitária, desenvolvido pelo Instituto A Gente Transforma. Outros dois institutos atuam diretamente nas áreas impactadas: o Instituto Kabu, responsável por 18 aldeias, 7 bases de vigilância e mais de 160 residências; e o Instituto Raoni, com 15 aldeias, 3 bases de vigilância, 1 unidade produtiva e 164 residências.
Cristopher Vlavianos, fundador da Comerc Energia e um dos idealizadores do projeto, destaca que a participação de novos parceiros é fundamental para ampliar o alcance e acelerar o impacto do Conexão Kayapó. “Existe um grande potencial de replicação desse projeto para outras Terras Indígenas com as mesmas necessidades. Quanto mais pessoas e empresas se unirem, mais rápido poderemos escalar a iniciativa e estendê-la a outras localidades, protegendo nossos indígenas e nossas florestas”.

Reconhecimento internacional e potencial de expansão
O impacto do Conexão Kayapó já ecoa além dos limites da floresta. O projeto foi indicado ao Earthshot Prize, uma das mais prestigiadas premiações ambientais do mundo, criada pelo príncipe William para impulsionar soluções de alto impacto. Em 2025, pela primeira vez, a cerimônia acontecerá na América Latina, na cidade do Rio de Janeiro, reforçando o protagonismo do Brasil na agenda climática global, justamente no ano em que o país se prepara para sediar a COP30.
Estima-se que 79 mil indígenas ainda vivem sem acesso à energia elétrica na Amazônia Legal. Cerca de 30% deles estão em regiões que poderão ser contempladas por futuras fases do Conexão Kayapó, nos estados do Pará e Mato Grosso. O projeto já se apresenta como um modelo escalável e replicável, com alto potencial de impacto social, ambiental e cultural e um chamado direto à ação do setor privado.
“O Conexão Kayapó vai além da eletrificação: é uma força de transformação social, ambiental e cultural na Amazônia. Com protagonismo indígena e energia limpa, fortalece comunidades, protege a floresta e impulsiona acesso à educação, saúde e conectividade. É um modelo concreto de transição energética justa, com potencial de expansão e reconhecimento internacional”, afirma Cristopher Vlavianos.