A Aneel rejeitou o refinanciamento de contratos de empréstimo da Enel RJ (R$ 5,8 bilhões), gerando um processo polêmico e fiscalização sobre as operações intragrupo.
Conteúdo
- A Rejeição Unânime da Aneel ao Refinanciamento
- A Falta de Autorização Prévia e o Encaminhamento à CVM
- Fiscalização e Transparência: A Ação da Aneel
- Histórico de Contratos de Empréstimo da Enel RJ
- Conversão de Mútuos em Aumento de Capital
- Ações Judiciais e a Visão Geral da Diretoria
A Rejeição Unânime da Aneel ao Refinanciamento
A diretoria da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) deliberou por unanimidade contra o recurso da Enel RJ, negando a anuência prévia para o refinanciamento dos contratos de empréstimo (denominados mútuos) realizados pela distribuidora com outras empresas do grupo. Estas operações intragrupo envolvem entidades como a Enel Brasil, a Enel Finance International N.V., a Enel CIEN e a Enel Trading Brasil. O posicionamento do colegiado encerra uma fase de grande controvérsia regulatória, centralizada em operações de financiamento que ocorreram entre dezembro de 2018 e outubro de 2021, totalizando o significativo montante de R$ 5,8 bilhões. Este processo polêmico levanta questionamentos cruciais sobre a transparência e a conformidade das transações financeiras no setor de distribuição.
A Falta de Autorização Prévia e o Encaminhamento à CVM
A agência reguladora identificou que a Enel RJ pode ter realizado diversas operações intragrupo sem a obtenção da autorização prévia que é estritamente exigida pela regulamentação vigente. Em resposta a esta potencial falha de conformidade, a Aneel decidiu formalizar a situação, encaminhando um ofício à Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Este comunicado inclui cópias integrais dos autos processuais e dos Comunicados ao Mercado pertinentes, permitindo que a CVM tome conhecimento e adote as providências que julgar cabíveis dentro de sua esfera de atuação. De acordo com o relator do caso, Fernando Mosna, a distribuidora informou ao mercado sobre a existência de seis contratos de mútuo que, até o momento, permanecem desconhecidos pela Aneel, não constando nem nos pedidos originais nem nas subsequentes solicitações de ampliação de valores.
Fiscalização e Transparência: A Ação da Aneel
Diante das inconsistências e da necessidade de garantir a integridade regulatória, a Aneel determinou prontamente a abertura de um robusto processo de fiscalização. Este procedimento tem como principal objetivo verificar minuciosamente a aderência das informações financeiras divulgadas ao mercado em relação à realidade regulatória dos empréstimos com partes relacionadas. Além disso, a fiscalização visa apurar a possível concretização de operações intragrupo que foram efetuadas sem a imprescindível anuência prévia da agência. Por fim, será verificado se os contratos de financiamento que continuam vigentes estão respeitando os prazos e condições estabelecidos na anuência anteriormente concedida a estas operações polêmicas.
Histórico de Contratos de Empréstimo da Enel RJ
O pedido de refinanciamento negado pela Aneel é parte de uma longa série de solicitações de autorização prévia para contratos de mútuo apresentadas pela Enel Brasil. O trâmite processual foi particularmente conturbado, incluindo uma tentativa de impedimento do diretor relator, Fernando Mosna, que é simultaneamente réu em uma ação movida pela Enel. Desde a concessão inicial de autorização, a agência aprovou sucessivos pedidos de anuência para ampliação dos valores, começando por R$ 1,7 bilhão, seguido por R$ 1 bilhão (julho/2020), R$ 600 milhões (março/2021) e, por último, R$ 2,5 bilhões (outubro/2021). Em junho de 2024, a Enel RJ solicitou uma medida cautelar para o refinanciamento dos mútuos com vencimento próximo, sendo negada pela área técnica, mas parcialmente concedida pela diretoria para a prorrogação temporária de R$ 1,1 bilhão.
Conversão de Mútuos em Aumento de Capital
Posteriormente à decisão parcial da cautelar, no segundo semestre de 2024, a Enel realizou uma estratégica manobra financeira que incluiu um expressivo aumento de capital. A companhia injetou R$ 2,5 bilhões em recursos dos acionistas, concretizado através da conversão de mútuos vincendos em aporte de capital. Segundo a distribuidora, esta ação resultou na redução de 29% na dívida líquida, essencial para o cumprimento da cláusula econômico-financeira estabelecida em seu contrato de concessão. Paralelamente, a Enel protocolou um novo pedido de refinanciamento para outros dois contratos que totalizavam R$ 141,8 milhões e venceriam em abril de 2025. Contudo, este pleito foi negado. A companhia então alterou o pedido, solicitando apenas a prorrogação do prazo original dos financiamentos.
Ações Judiciais e a Visão Geral da Diretoria
O clima de tensão regulatória escalou quando, poucos dias antes da votação final do mérito do pedido de refinanciamento pela Diretoria, a Enel solicitou à Diretoria-Geral da agência o impedimento formal do relator do caso, o que foi prontamente negado. Adicionalmente, na tentativa de obter o mesmo resultado por via judicial, a companhia ajuizou uma ação na Justiça Federal do Distrito Federal. A liminar solicitada pela Enel buscando o impedimento foi igualmente indeferida. A visão geral da diretoria da Aneel manteve-se firme ao negar o recurso, consolidando a exigência de autorização prévia e transparência nas operações intragrupo e reafirmando o rigor na fiscalização dos contratos de empréstimo da Enel RJ.