Debate Setorial Expõe Desafios Críticos na Gestão do Curtailment de Energia Renovável no Brasil

Debate Setorial Expõe Desafios Críticos na Gestão do Curtailment de Energia Renovável no Brasil
Debate Setorial Expõe Desafios Críticos na Gestão do Curtailment de Energia Renovável no Brasil - Foto: Reprodução / Freepik
Compartilhe:
Fim da Publicidade

A controvérsia entre INEL e ABEEólica sobre as causas do desligamento forçado de usinas elétricas ganha destaque no cenário da Transição Energética nacional.

Conteúdo

O campo de batalha da Transição Energética brasileira acaba de testemunhar um embate regulatório de peso. A INEL (Instituto Nacional de Energia Limpa, ou voz representativa do segmento) veio a público para rebater duramente a ABEEólica (Associação Brasileira de Energia Eólica), defendendo que o crescente fenômeno do curtailment – o desligamento forçado de usinas – não pode ser atribuído somente à GD (Geração Distribuída).

Essa troca de farpas expõe a tensão crescente entre os modelos de Geração Centralizada (grandes parques eólicos e solares) e a Geração Distribuída. Enquanto a ABEEólica sinaliza que o avanço desordenado da GD ameaça a estabilidade da Distribuição de Energia, a INEL argumenta que o curtailment é um problema sistêmico, resultante de falhas crônicas no planejamento e na infraestrutura de transmissão.

A Tensão da Intermitência e a Acusação da ABEEólica

O curtailment é a medida extrema adotada pelo ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) ou pelas Distribuidoras de Energia para proteger a rede. Quando a oferta de Energia Renovável excede a capacidade de escoamento da infraestrutura de transmissão ou a demanda local, a geração precisa ser restringida.

A ABEEólica, representando as grandes empresas de energia eólica, tem apontado o dedo para a GD, especialmente a solar. O argumento é técnico: a injeção não controlada de energia na baixa tensão, sem visibilidade perfeita para o ONS e as distribuidoras, causa picos de sobre-tensão. Esses picos, argumenta a ABEEólica, forçam o ONS a restringir grandes parques para equilibrar o sistema, gerando perdas milionárias.

O receio da Geração Centralizada é que o crescimento exponencial da GD onere o sistema sem pagar o preço justo pela infraestrutura de transmissão e distribuição que utiliza, e ainda cause instabilidade que penaliza ativos de alto investimento.

A Resposta Firme da INEL: Curtailment é Problema de Transmissão

A INEL rebate o argumento com uma visão mais abrangente do Setor Elétrico. Segundo a entidade, focar a culpa somente à GD é simplista e ignora as falhas estruturais que há anos penalizam a Energia Renovável brasileira.

O primeiro ponto levantado pela INEL é a insuficiência da infraestrutura de transmissão. Regiões com altíssimo potencial eólico e solar, como o Nordeste, sofrem há anos com gargalos de escoamento. O atraso na entrega de linhas de transmissão de energia licitadas é o principal vetor do curtailment em grandes parques.

A INEL defende que a ABEEólica não pode ignorar que a Distribuição de Energia falha em modernizar suas subestações e equipamentos para lidar com a nova realidade. A tecnologia de Smart Grid e a flexibilidade da rede estão aquém do necessário, o que agrava a intermitência.

Causas Multifatoriais: Além da Geração Distribuída

A verdade técnica, defendida pela INEL, é que o curtailment é, de fato, um fenômeno multifatorial. Não se pode culpar somente à GD quando se sabe que a falta de armazenamento de energia em larga escala é um dos maiores limitadores do sistema.

Quando a produção eólica e solar atinge o pico (no meio do dia, por exemplo), e a demanda é baixa, a energia precisa ser descartada porque não há onde guardá-la. Esse problema de planejamento do sistema é histórico e independe da Geração Distribuída.

Outro fator crucial é a qualidade da regulação dos inversores. A ANEEL tem trabalhado para garantir que os equipamentos de GD cumpram padrões rigorosos de injeção de energia e estabilidade. A INEL insiste que os novos projetos de GD estão tecnicamente adequados, e os problemas de tensão nas redes de baixa e média tensão são, primariamente, responsabilidade das Distribuidoras de Energia.

FIM PUBLICIDADE

O Risco Regulatório e a Segurança Jurídica

A disputa entre ABEEólica e INEL tem um custo alto para o mercado: o aumento do risco regulatório. Se as associações não chegarem a um consenso técnico, a ANEEL poderá tomar medidas unilaterais que penalizem um ou ambos os segmentos.

O investimento de longo prazo em Energia Renovável exige segurança jurídica e regras claras. Quando grandes players culpam uns aos outros publicamente pelo curtailment, a percepção de instabilidade aumenta, e o custo de capital para novos projetos, tanto de Geração Distribuída quanto de Geração Centralizada, pode subir.

A INEL alerta que qualquer medida que busque restringir a GD sob o pretexto de combater o curtailment sem resolver os problemas da infraestrutura de transmissão será vista como protecionismo e poderá minar a competição no Setor Elétrico.

O Caminho da Solução: Investimento e Tecnologia

O curtailment é um sintoma da falta de modernização do setor elétrico. A INEL sugere que o foco deve sair da culpa e ir para a solução. O Brasil precisa de um plano de investimento acelerado em infraestrutura de transmissão, com prazos de entrega rigorosos para as concessionárias.

É imperativo que a ANEEL remunere de forma eficaz o armazenamento de energia por baterias, permitindo que elas absorvam o excesso de energia renovável nos picos. O armazenamento de energia é o elo que pode resolver o problema de intermitência tanto da energia eólica quanto da GD.

Além disso, a Distribuição de Energia deve ser compelida a investir em Smart Meters e em tecnologia de monitoramento em tempo real. A visibilidade total da rede, incluindo a Geração Distribuída, é essencial para que o ONS e as distribuidoras possam operar a rede com a máxima flexibilidade.

A Flexibilidade do Sistema é a Chave

A INEL defende que o problema não é a Geração Distribuída, mas sim a rigidez do sistema atual. A flexibilidade operacional deve ser o principal ativo remunerado. As hidrelétricas precisam ser operadas com maior inteligência para complementar a intermitência, conforme o novo marco legal em discussão.

Acusar a GD de ser a única causa do curtailment ignora o fato de que a energia eólica e a solar centralizada também sofrem com a falta de infraestrutura de transmissão. A solução deve ser integrativa e sistêmica, reconhecendo que a Geração Distribuída é parte fundamental da Transição Energética.

A INEL exige que a ANEEL atue como mediadora técnica, utilizando dados transparentes para provar onde o curtailment realmente ocorre e quais são suas causas predominantes. A Segurança Energética brasileira depende de uma regulação justa que promova o investimento em todas as frentes de Energia Renovável, sem favorecer um modelo em detrimento do outro. A modernização do setor elétrico passa por resolver o curtailment com tecnologia e infraestrutura, não com restrições desnecessárias à Geração Distribuída.

Visão Geral

O embate entre INEL e ABEEólica sublinha que o fenômeno do curtailment na matriz energética brasileira é um desafio multifatorial. Enquanto a ABEEólica foca na sobrecarga causada pela GD, a INEL sustenta que a raiz do problema reside na defasagem da infraestrutura de transmissão e na falta de armazenamento de energia. A solução exige investimento conjunto, maior flexibilidade operacional e uma regulação que garanta a segurança jurídica para a contínua expansão das Energias Renováveis e a modernização do setor elétrico como um todo.

CONTINUA APÓS A PUBLICIDADE
Facebook
X
LinkedIn
WhatsApp

Área de comentários

Seus comentários são moderados para serem aprovados ou não!
Alguns termos não são aceitos: Palavras de baixo calão, ofensas de qualquer natureza e proselitismo político.

Os comentários e atividades são vistos por MILHÕES DE PESSOAS, então aproveite esta janela de oportunidades e faça sua contribuição de forma construtiva.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

ASSINE NOSSO INFORMATIVO

Inscreva-se para receber conteúdo exclusivo em seu e-mail, todas as semanas.

Não fazemos spam! Leia nossa política de privacidade para mais informações.

ARRENDAMENTO DE USINAS

Parceria que entrega resultado. Oportunidade para donos de usinas arrendarem seus ativos e, assim, não se preocuparem com conversão e gestão de clientes.
ASSINE NOSSO INFORMATIVO

Inscreva-se para receber conteúdo exclusivo em seu e-mail, todas as semanas.

Não fazemos spam! Leia nossa política de privacidade para mais informações.

Comunidade Energia Limpa Whatsapp.

Participe da nossa comunidade sustentável de energia limpa. E receba na palma da mão as notícias do mercado solar e também nossas soluções energéticas para economizar na conta de luz. ⚡☀

Siga a gente