O debate sobre o curtailment acendeu discussões cruciais na Academia Nacional de Engenharia, expondo falhas sistêmicas que geram perdas econômicas e risco de judicialização.
Conteúdo
- O Epicentro do Debate: Curtailment e Falhas Históricas
- A Complexa Cadeia de Responsabilidades no Planejamento Energético
- A Inércia da Reforma Setorial e a Teoria dos Jogos
- Desafios da Descentralização e a Necessidade de Agilidade Regulatória
- Visão Geral
O Epicentro do Debate: Curtailment e Falhas Históricas
O cerne das atuais controvérsias no setor elétrico brasileiro reside na responsabilidade pelo curtailment, termo que ganhou destaque renovado durante a importante Reunião do Comitê de Energia da Academia Nacional de Engenharia. Este encontro serviu como palco para expor as falhas acumuladas, resultantes de uma interação problemática entre atores públicos e privados. Tais omissões e erros de gestão culminaram em prejuízos financeiros diretos para diversos segmentos do mercado e, adicionalmente, trouxeram à tona a sombra da judicialização. A discussão evidencia que a ausência de um arcabouço claro e a morosidade nas decisões continuam a gerar instabilidade, afetando negativamente o ambiente de investimento e a segurança do suprimento. É imperativo analisar criticamente as raízes desse problema estrutural para mitigar riscos futuros.
A Complexa Cadeia de Responsabilidades no Planejamento Energético
O tema foi aprofundado por meio de uma minuciosa análise crítica que mapeou a intrincada cadeia de responsabilidades. Esta análise começou nos incentivos políticos que, em determinado momento, catalisaram uma expansão acelerada e, por vezes, desordenada da geração distribuída no país. Em seguida, o foco recaiu sobre a performance das entidades centrais, citando especificamente a ausência de planejamento adequado por parte da Empresa de Pesquisa Energética (EPE). Paralelamente, a falta de fiscalização rigorosa por parte da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) foi colocada em xeque. O mapeamento se estendeu até as pontas do sistema, englobando o papel do Operador Nacional do Sistema (ONS) e, finalmente, as ações ou inações dos agentes e dos consumidores finais.
A Inércia da Reforma Setorial e a Teoria dos Jogos
Alexandre Zucarato, diretor de Planejamento do ONS, trouxe uma perspectiva pragmática sobre a dificuldade em implementar mudanças estruturais, salientando que o setor tem debatido a reforma setorial há quase uma década sem avanço concreto. Ele mencionou marcos regulatórios importantes, como a CP33, que se aproxima de dez anos, e a CP45 de 2019, indicando que, apesar de haver um excelente diagnóstico, a evolução prática estagnou. Zucarato utilizou a teoria dos jogos para ilustrar essa inércia: cada grupo envolvido no setor elétrico tende a priorizar a defesa de seus interesses imediatos, mesmo que essa postura individualista possa levar ao colapso do sistema como um todo, impedindo o avanço regulatório necessário.
Desafios da Descentralização e a Necessidade de Agilidade Regulatória
Paulo Sehn, diretor da Abiape, argumentou que o principal desafio reside na capacidade do setor de se adaptar à nova realidade de descentralização e à crescente necessidade de agilidade operacional e decisória. Ele reconheceu que o subsídio foi um motor essencial para a expansão observada, mas agora é crucial gerenciar as consequências dessa expansão. Sehn enfatizou que o modelo de planejamento centralizado existente não consegue mais acompanhar o ritmo das mudanças tecnológicas e mercadológicas. Ademais, ele pontuou que o instituto do curtailment surgiu em 2019 e persiste sem uma regulamentação adequada, um sintoma claro de que a estrutura regulatória atual é rígida e engessa a adoção de soluções modernas e eficazes para o setor.
Visão Geral
Ambos os especialistas convergiram no entendimento de que a superação do atual impasse depende intrinsecamente do encontro de um modelo de gestão mais flexível e genuinamente colaborativo. Enquanto persistir o conflito fundamental entre a proteção de interesses particulares e a manutenção da sustentabilidade coletiva do sistema, o progresso da transição energética no Brasil continuará a ser travado por dilemas recorrentes. A chave para destravar o setor e garantir um futuro mais resiliente passa, inegavelmente, pela implementação de uma mini-reforma que alinhe as normas vigentes à dinâmica atual do mercado de energia. O foco deve ser na previsibilidade e na segurança jurídica para todos os participantes.