A união entre computação quântica e IA pode impulsionar a indústria brasileira, tendo a Amazônia como seu novo centro de gravidade e alavanca para a inovação sustentável.
O mundo atravessa uma revolução silenciosa, onde a computação quântica, a inteligência artificial (IA), novos materiais e a biotecnologia estão transformando radicalmente a produção. No centro dessa mudança, a Amazônia, historicamente vista como periférica, tem o potencial de se tornar o novo epicentro da indústria global. Líderes industriais articulam uma revolução tecnológica fundamentada em biorecursos, ciência de dados e soberania digital, mantendo a floresta em pé e valorizando o protagonismo amazônico.
> *“Não se trata de transformar a floresta em uma vitrine digital exótica, mas de ativar sua inteligência natural e conectá-la à ciência do nosso tempo. A indústria que não olhar para a Amazônia perderá o futuro”*, afirma Alfredo Lopes, articulista e conselheiro do CIEAM (Centro da Indústria do Estado do Amazona).
Da Zona Franca à Zona Quântica
O Polo Industrial de Manaus (PIM), tradicionalmente focado em bens de consumo e eletroeletrônicos, está em um momento decisivo. Há um consenso entre as lideranças sobre a necessidade de três compromissos estruturais urgentes: adensar cadeias produtivas com pesquisa e insumos locais; diversificar os setores com base na bioeconomia e tecnologias verdes; e interiorizar o desenvolvimento, gerando valor e emprego nos municípios amazônicos sob o critério da sustentabilidade. A estratégia central é empregar a computação quântica e a inteligência artificial para acelerar essa transição.
Recentemente, a Universidade do Estado do Amazonas (UEA) firmou uma parceria com o SENAI Cimatec Quantum, o primeiro centro brasileiro dedicado a tecnologias quânticas aplicadas à indústria. O objetivo é integrar a ciência de fronteira com a biodiversidade amazônica, gerando soluções benéficas tanto para a floresta quanto para o setor produtivo. Essa união visa modernizar o parque industrial, saindo da dependência de insumos externos para um modelo inovador e regionalmente integrado.
Aplicações diretas: da borracha ao cosmético verde
A UEA já identificou áreas de atuação cruciais para as empresas da Zona Franca. Entre as aplicações diretas estão a simulação molecular de novos materiais, como polímeros biodegradáveis e adesivos derivados de resinas amazônicas, e o design de bioinsumos com IA para os setores farmacêutico e cosmético. Além disso, a manufatura avançada com IA será utilizada para controle de qualidade e manutenção preditiva.
Alfredo Lopes destaca um ponto crítico: *“É inadmissível que o Brasil ainda importe borracha para a indústria de duas rodas enquanto a Amazônia possui todo o potencial para produzi-la de forma sustentável e inovadora. Afinal, banco genético da seringueira nasce na Amazônia. Isso é um retrato da distância entre conhecimento e aplicação”*. A superação dessa distância passa diretamente pela aplicação de tecnologias avançadas.
IA para logística fluvial, energia e rastreabilidade
Outro campo de transformação imediata é a logística, particularmente a fluvial, essencial na região. Modelos baseados em IA podem otimizar rotas de transporte, diminuindo tempo e emissão de carbono. Também é possível controlar em tempo real a eficiência energética em comunidades isoladas e implementar a rastreabilidade completa das cadeias produtivas, desde o bioativo na floresta até o produto final.
O uso de sensores de alta precisão e algoritmos quânticos possibilitará a detecção contínua de falhas e a prevenção de perdas, garantindo a conformidade com critérios ESG. Essa digitalização dos processos logísticos e produtivos é fundamental para aumentar a competitividade da indústria local e fortalecer sua imagem no mercado internacional como um polo de bioindústria tropical.
Formação de talentos e soberania tecnológica
O PIM financia integralmente a UEA, a maior universidade multicampi do país. O grande desafio reside em alinhar a formação acadêmica com as exigentes demandas industriais por inovação. A parceria com o Cimatec visa fomentar programas de pós-graduação em computação quântica e ciência de dados com foco amazônico, fixando talentos locais em projetos de alta tecnologia e descentralizando polos de P&D.
Para Alfredo Lopes, isso é uma questão de soberania: *“Sem domínio sobre as tecnologias críticas, continuaremos exportando riqueza bruta e importando produtos prontos. É hora de a Amazônia ser mais do que fornecedora de matéria-prima. Ela pode e deve ser o laboratório do Brasil no século XXI”*. O engajamento das empresas em consórcios de inovação é o caminho para converter recursos obrigatórios de P&D em soluções que projetem o Brasil como líder.























