A participação do MAPA e MCTI é crucial para garantir um roadmap de transição energética realista, focado na sustentabilidade e na segurança do suprimento de biodiesel.
Conteúdo
- O Risco da Visão Unilateral Focada na Eletrificação
- MCTI: Inovação Não Se Faz Sem Ciência
- O Biocombustível como Ponte para a Transição Justa
- A Visão do Setor Elétrico: Um Roadmap Sistêmico
- Visão Geral
O Risco da Visão Unilateral Focada na Eletrificação
O debate nacional sobre o fim da era dos combustíveis fósseis está finalmente ganhando tração. Contudo, no calor da discussão sobre o roadmap governamental para essa transição, um setor vital clama por sua inclusão formal na arquitetura de planejamento: o biodiesel.
As principais entidades produtoras enviaram um recado claro ao Planalto: sem o MAPA (Ministério da Agricultura e Pecuária) e o MCTI (Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação) participando ativamente da elaboração das diretrizes, o plano de transição será incompleto e arriscado para a segurança energética e produtiva do país.
Para os profissionais do setor elétrico, habituados à previsibilidade dos leilões de geração, o foco exclusivo na eletrificação — hidrelétricas, solar e eólica — corre o risco de negligenciar os setores de difícil abatimento de emissões. É aqui que o biodiesel se torna um ativo estratégico imediato.
A ausência do MAPA no comitê central do roadmap é vista como uma falha grave. Afinal, o biodiesel é um biocombustível que depende diretamente da cadeia agroindustrial para sua matéria-prima, seja ela óleo de soja, sebo bovino ou outras fontes vegetais. Como planejar a expansão sustentável do setor sem garantir o suprimento agrícola com visão estratégica de longo prazo?
A cadeia produtiva argumenta que a ausência do MAPA fragmenta o planejamento, tratando o insumo como um mero commodity externo, e não como parte integrante da infraestrutura de transição dos fósseis.
MCTI: Inovação Não Se Faz Sem Ciência
Tão crucial quanto o MAPA é a participação do MCTI. O futuro do biodiesel, e de outros biocombustíveis avançados, como o HVO (Diesel Renovável), depende de pesquisa e desenvolvimento (P&D) contínuo para otimizar a produção e, sobretudo, para diversificar as fontes de matéria-prima.
A pressão do setor por inclusão oficial no roadmap é um pedido por segurança para investimentos em tecnologia. Sem o direcionamento do MCTI, há o risco de o Brasil perder a janela de oportunidade para se consolidar como líder em biocombustíveis de segunda e terceira geração, contentando-se apenas com o avanço da mistura obrigatória atual.
A transição dos fósseis não será alcançada apenas trocando um tanque por outro; ela exige inovação contínua, algo que o MCTI é intrinsecamente ligado a prover.
O Biocombustível como Ponte para a Transição Justa
O termo transição justa é fundamental no discurso dos produtores. Para o biodiesel, isso significa que milhões de empregos e vastas cadeias de valor agrícola estão em jogo. Excluir o MAPA e o MCTI do desenho do roadmap implica ignorar o impacto social e econômico da descontinuação gradual (ou reestruturação) do uso de fósseis no transporte e em setores industriais.
Para os especialistas em energia, o biodiesel não é um concorrente da eletrificação, mas sim um parceiro essencial para o curto e médio prazo. Enquanto a infraestrutura de energia elétrica — T&D — é expandida para suportar frotas elétricas, o transporte pesado (caminhões, navios e aviões) necessitará de soluções líquidas de baixa emissão. O biodiesel é essa solução pronta hoje.
A Visão do Setor Elétrico: Um Roadmap Sistêmico
Profissionais do setor elétrico devem observar atentamente este pleito. Uma transição energética eficaz exige a coordenação entre o fornecimento de eletricidade e o fornecimento de combustíveis alternativos. Um roadmap fragmentado gera gargalos.
Se o setor de biodiesel perder força ou direção por falta de um planejamento governamental coeso, a demanda por eletricidade para substituição de fósseis será ainda maior e mais acelerada do que a capacidade de expansão da rede de T&D pode suportar.
A inclusão formal do MAPA e do MCTI no processo de definição do roadmap é um pedido por racionalidade estratégica. Garante que o planejamento da matéria-prima e da tecnologia caminhe lado a lado com o planejamento da geração de energia.
Visão Geral
A pressão dos produtores de biodiesel é um chamado para que o governo reconheça que a transição dos fósseis é um desafio sistêmico que envolve agricultura, ciência, transporte e geração de energia. Não se trata apenas de investir em baterias e painéis solares.
A infraestrutura de energia brasileira, em sua totalidade, se beneficiará de um plano nacional que incorpore de maneira robusta e planejada a contribuição do biodiesel. A exigência de inclusão desses ministérios no debate sobre o roadmap é, em última análise, um pedido para que o plano de descarbonização seja realista, justo e, acima de tudo, factível em escala nacional. O futuro da matriz passa, inegavelmente, pelo campo e pelo laboratório.























