O Brasil ocupa uma posição intermediária no cenário da Transição Energética, possuindo um grande potencial renovável, mas enfrentando desafios regulatórios e estruturais significativos para liderar o movimento global.
Conteúdo
- Diagnóstico da Posição Brasileira na Transição Energética
- O Contraste: Potencial Renovável versus Dependência Fóssil
- Estratégias para Sair da Posição Intermediária
- Potenciais Chave: Bioenergia e Hidrogênio Verde
- A Importância da Transição Justa e Equitativa
- Visão Geral
Diagnóstico da Posição Brasileira na Transição Energética
Clarissa Lins, sócia-fundadora da Catavento Consultoria e voz influente nos debates de energia e sustentabilidade, tem uma visão pragmática sobre o papel do Brasil no tabuleiro global da Transição Energética. Segundo ela, o país “está No Meio“. Esta afirmação, longe de ser um elogio ou uma crítica destrutiva, funciona como um diagnóstico preciso: temos o potencial genético de um líder mundial, mas ainda falhamos na velocidade e na arquitetura regulatória necessárias para assumir a ponta.
Para os profissionais do setor elétrico, esta posição intermediária é crucial. O Brasil, de fato, opera em um paradoxo. Possuímos uma Matriz Elétrica com mais de 88% de fontes Renováveis — um desempenho que envergonha a maioria das economias avançadas. No entanto, a matriz energética total, que inclui transportes e indústrias, ainda depende pesadamente de combustíveis fósseis, colocando o país numa zona cinzenta de prontidão.
O Contraste: Potencial Renovável versus Dependência Fóssil
A grande vantagem competitiva do Brasil reside em sua herança hídrica, turbinada pela expansão exponencial da energia solar e eólica. Dados recentes mostram o solar já como a segunda maior fonte da matriz, atestando a pujança do Investimento privado no setor. A capacidade instalada e a expertise em integrar grandes volumes de intermitentes no Sistema Interligado Nacional (SIN) são benchmarks globais.
No entanto, quando olhamos para a transição completa, o desafio é sistêmico. Clarissa Lins aponta que o país tem um problema de visão de longo prazo. O foco excessivo no óleo e gás, embora financeiramente vital hoje, pode criar uma inércia perigosa. Estar No Meio significa que somos referência na eletricidade, mas somos retardatários na descarbonização do transporte de cargas, na indústria pesada e no uso residencial de gás.
A prontidão para a Transição Energética não se mede apenas pela porcentagem de energia limpa gerada. Ela envolve a capacidade de mobilizar capital, criar mercados de carbono eficientes e, fundamentalmente, desenvolver uma política industrial que transforme os recursos naturais em produtos de energia limpa de alto valor agregado. É neste tripé — capital, política e indústria — que o Brasil tropeça.
Os Três Eixos para Sair do “Meio”
Para saltar do meio da tabela para a liderança, o Brasil precisa atacar três frentes críticas, frequentemente destacadas por especialistas como Clarissa Lins em fóruns como o CEBRI.
O primeiro eixo é a estabilidade regulatória. A incerteza jurídica e as mudanças constantes nas regras do jogo afastam o capital de Investimento de longo prazo. Projetos de infraestrutura maciça, como linhas de transmissão ou pipelines de Hidrogênio, exigem garantias que ultrapassam ciclos de governo. Sem um arcabouço sólido, os bilhões necessários para a transição permanecem na prateleira.
O segundo eixo é o financiamento justo. Clarissa Lins e outros líderes destacam que os países emergentes, embora detentores de grande parte do potencial de mitigação, recebem uma fração desproporcional do capital global para Renováveis. É essencial que o Brasil use sua influência diplomática para criar mecanismos de financiamento que reconheçam o risco, mas que também precifiquem adequadamente o benefício ambiental da Matriz Elétrica já limpa.
O terceiro eixo é a inovação em produtos green. A Transição Energética brasileira não pode se limitar a exportar elétrons. Precisamos de um salto em biocombustíveis avançados (SAF), em Bioenergia e, claro, no Hidrogênio Verde. O Brasil tem a matéria-prima (água e sol/vento) e a infraestrutura industrial, mas falta o push regulatório para criar um mercado doméstico robusto para esses vetores.
Oportunidade: Bioenergia e Hidrogênio Verde
A bioenergia é a carta na manga que diferencia o Brasil de qualquer outro player global. O país já é líder na produção de etanol. Essa expertise em mover moléculas sustentáveis é diretamente aplicável ao desenvolvimento de combustíveis de aviação sustentável (SAF) e biocombustíveis de segunda geração. Essa transição da Bioenergia agrícola para a industrial é uma via rápida para a descarbonização do setor de transportes.
Além disso, o Hidrogênio Verde é, talvez, o projeto mais estratégico. O potencial eólico e solar do Nordeste e a vasta capacidade de produção de eletricidade Renovável posicionam o Brasil como o produtor de H2V de custo mais baixo do mundo. A atração de Investimento estrangeiro em hubs como o Complexo do Pecém (CE) e Suape (PE) é um sinal claro de que o mercado internacional enxerga essa oportunidade.
Contudo, para sair do campo das promessas, o país precisa de um marco regulatório do Hidrogênio Verde que seja claro, rápido e competitivo. A lentidão na tramitação legislativa é um dos fatores que mantém o Brasil No Meio, esperando a largada. A falta de definição sobre subsídios e regras de certificação impede que os projetos de grande escala saiam do papel.
O Fator Social: A Transição Justa
Clarissa Lins é uma defensora veemente da “transição justa e equitativa”, um tema que transcende a engenharia e a economia e entra no campo da sustentabilidade social. A Transição Energética deve garantir que o fechamento gradual de setores intensivos em carbono não gere pobreza e desemprego, especialmente em regiões dependentes do carvão ou do petróleo.
A justiça na transição implica em direcionar o Investimento em Renováveis para as regiões mais vulneráveis, garantindo que o desenvolvimento das novas cadeias (como a eólica offshore e o H2V) crie empregos de qualidade e promova a capacitação profissional. A prontidão social é um componente tão vital quanto a capacidade técnica.
Visão Geral
A tese de Clarissa Lins sobre o Brasil estar No Meio sintetiza essa complexidade. Temos a sorte de ter uma Matriz Elétrica limpa, mas carregamos a responsabilidade de limpar o resto da matriz, com desafios de infraestrutura e política. O país está em uma encruzilhada de decisão: ou capitaliza seu “DNA verde” com políticas audaciosas e atrai o Investimento necessário, ou corre o risco de ser ultrapassado por nações que, embora com matrizes mais sujas, são mais ágeis na implementação. O futuro da energia brasileira será determinado pela nossa capacidade de sair do meio e abraçar a liderança. Com a COP30 se aproximando, a pressão para mostrar essa prontidão nunca foi tão alta.






















