Análise da Disputa sobre Combustíveis para a COP30: O Diesel Coprocessado em Xeque na Transição Energética Brasileira

Análise da Disputa sobre Combustíveis para a COP30: O Diesel Coprocessado em Xeque na Transição Energética Brasileira
Análise da Disputa sobre Combustíveis para a COP30: O Diesel Coprocessado em Xeque na Transição Energética Brasileira - Foto: Reprodução / Freepik
Compartilhe:
Fim da Publicidade

A COP30 na mira: a escolha do combustível para o evento polariza o setor de energia, com críticas ao uso do diesel coprocessado pela Petrobras em detrimento do Biodiesel puro.

Conteúdo

A COP30, marcada para Belém, Pará, em 2025, está sendo preparada para ser a maior vitrine ambiental do Brasil. No entanto, a escolha do combustível que irá mover geradores e veículos de apoio já provocou uma intensa disputa nos bastidores da Transição Energética nacional. A Frente Parlamentar do Biodiesel (FPBio) e produtores do setor lançaram uma crítica veemente à Petrobras, acusando a estatal de usar o evento global para promover um produto híbrido: o diesel coprocessado.

O cerne da polêmica reside no produto que a Petrobras planeja fornecer: um diesel S10 com 10% de Conteúdo Renovável incorporado via coprocessamento (H-Bio). Enquanto a estatal o apresenta como uma solução de transição, a indústria tradicional de Biodiesel (produzido por transesterificação) classifica essa estratégia como “vitrine para fóssil”. O debate, que transcende a química, toca diretamente na política energética e na ambição brasileira de Descarbonização.

O Fogo Cruzado entre Refino e Bioenergia

Para a Frente do Biodiesel, a utilização do coprocessado na COP30 é um ato de greenwashing. Em um evento voltado para o clima, o país deveria dar o exemplo utilizando combustíveis com maior percentual de origem 100% renovável, como o B25 ou até o B100. A opção da Petrobras é vista como uma tentativa de minar o avanço do mandato nacional de mistura e consolidar uma tecnologia que ainda depende majoritariamente do Refino de petróleo.

A indústria tradicional do Biodiesel investiu bilhões para atender aos mandatos crescentes. O coprocessado, por outro lado, é produzido dentro das refinarias existentes da Petrobras, misturando óleos vegetais (como a soja ou sebo) diretamente com o petróleo, usando hidrogênio em um processo de hidrotratamento. Essa integração permite à Petrobras maior controle sobre a cadeia e um produto final de alta qualidade, mas levanta suspeitas sobre o real compromisso de Descarbonização.

A Defesa da Petrobras: Escala e Infraestrutura

A Petrobras, gigante dos Combustíveis Fósseis que busca se reposicionar na Transição Energética, defende o Coprocessado Petrobras como uma solução pragmática e imediata. A estatal argumenta que, ao utilizar suas unidades de Refino já instaladas, é possível entregar grandes volumes de combustível com Conteúdo Renovável rapidamente, sem as barreiras logísticas e de infraestrutura que o Biodiesel puro (B100) ainda enfrenta em algumas regiões.

O argumento da escala é crucial. A tecnologia de coprocessamento permite à Petrobras manter a qualidade do diesel, especialmente em relação à estabilidade e ao ponto de névoa, que são desafios para o Biodiesel em climas mais frios ou com longo armazenamento. O produto resultante, quimicamente similar ao diesel fóssil, elimina a necessidade de grandes adaptações na frota de veículos e geradores que servirão o evento em Belém.

O Custo da Transição e o Risco Regulatório

Para o setor de energia, o debate não é apenas técnico; é fundamentalmente econômico e regulatório. A escolha do Coprocessado Petrobras na COP30 pode sinalizar ao mercado uma preferência regulatória futura, ameaçando os investimentos feitos pelas esmagadoras e usinas independentes de Biodiesel. A FPBio teme que o coprocessado seja usado para diluir a demanda por Biodiesel de transesterificação no mercado nacional.

Se o governo considerar o coprocessado como um substituto equivalente ao Biodiesel no cumprimento de metas, as usinas independentes perderão mercado para a estatal. Esse cenário poderia frear o desenvolvimento da bioenergia no Brasil, um setor vital para a agricultura e para a criação de empregos no interior, impactando diretamente a matriz de Conteúdo Renovável do país.

FIM PUBLICIDADE

COP30: Um Teste de Credibilidade Ambiental

A COP30 deve ser um palco para o Brasil demonstrar sua liderança em bioenergia. Contudo, a controvérsia do Coprocessado Petrobras pode ofuscar essa mensagem, levantando dúvidas internacionais sobre a seriedade da Transição Energética brasileira. O diesel de 10% renovável, quando comparado a opções como o Óleo Vegetal Hidrotratado (HVO) puro, ou o Biodiesel 100%, é visto como um passo tímido demais para um evento climático de tal magnitude.

A Frente do Biodiesel destaca que o Brasil possui capacidade instalada para produzir volumes significativos de B100. A decisão de priorizar uma mistura fóssil-renovável na COP30 envia um sinal confuso: o país prega a Descarbonização global, mas hesita em adotar internamente suas próprias soluções de bioenergia mais limpas e disponíveis.

A Busca pelo Meio-Termo e o Futuro Avançado

Apesar das críticas, é inegável que o Coprocessado Petrobras cumpre um papel importante como ponte, especialmente no setor de aviação. A tecnologia de coprocessamento é essencial para a produção de Bioquerosene (SAF), um combustível de aviação sustentável, onde o Biodiesel de transesterificação não se encaixa. O investimento da Petrobras neste campo é um movimento estratégico de longo prazo.

A verdadeira questão, para os profissionais do setor elétrico e de energia, é o equilíbrio. O Brasil precisa de um marco regulatório que incentive todas as formas de Conteúdo Renovável, mas que também priorize aquelas com maior potencial de Descarbonização e menor dependência de Combustíveis Fósseis. O avanço do Biodiesel e do HVO puro (diesel verde) não pode ser contido em nome da conveniência do Refino estatal.

O Próximo Capítulo: Governança e Transparência

A pressão da FPBio exige transparência. O setor espera que o governo federal defina regras claras sobre a contabilidade de carbono e o real percentual de renovabilidade dos combustíveis. O uso do Coprocessado Petrobras na COP30, apesar de ser tecnicamente correto (pois possui 10% renovável), é politicamente arriscado e estrategicamente questionável para a imagem de um país que se gaba de ser uma potência verde.

A batalha pelo mercado de diesel é, na verdade, uma disputa sobre o futuro da matriz energética brasileira. A Transição Energética exige escolhas difíceis. Optar por um diesel que ainda é 90% Combustíveis Fósseis em um palco global de clima é, no mínimo, um ato de hesitação. O setor espera que, até a COP30, o Brasil encontre uma solução que equilibre os interesses da Petrobras com a urgência da Descarbonização e o potencial real da bioenergia.

A mensagem dos críticos é clara: para ser um líder climático, o Brasil precisa ir além da maquiagem verde e apostar no Conteúdo Renovável puro. A COP30 deveria ser a vitrine do Biodiesel nacional, e não do diesel de Refino coprocessado. O debate está longe de terminar, e o mercado de energia limpa observa atentamente cada movimento regulatório.

Visão Geral

A preparação para a COP30 expôs um conflito central na Transição Energética brasileira: a Petrobras prioriza o Coprocessado Petrobras (10% renovável) como solução de escala, enquanto a indústria do Biodiesel clama por maior Conteúdo Renovável, vendo a escolha como um risco à Descarbonização e ao mercado estabelecido.

CONTINUA APÓS A PUBLICIDADE
Facebook
X
LinkedIn
WhatsApp

Área de comentários

Seus comentários são moderados para serem aprovados ou não!
Alguns termos não são aceitos: Palavras de baixo calão, ofensas de qualquer natureza e proselitismo político.

Os comentários e atividades são vistos por MILHÕES DE PESSOAS, então aproveite esta janela de oportunidades e faça sua contribuição de forma construtiva.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

ASSINE NOSSO INFORMATIVO

Inscreva-se para receber conteúdo exclusivo em seu e-mail, todas as semanas.

Não fazemos spam! Leia nossa política de privacidade para mais informações.

ARRENDAMENTO DE USINAS

Parceria que entrega resultado. Oportunidade para donos de usinas arrendarem seus ativos e, assim, não se preocuparem com conversão e gestão de clientes.
ASSINE NOSSO INFORMATIVO

Inscreva-se para receber conteúdo exclusivo em seu e-mail, todas as semanas.

Não fazemos spam! Leia nossa política de privacidade para mais informações.

Comunidade Energia Limpa Whatsapp.

Participe da nossa comunidade sustentável de energia limpa. E receba na palma da mão as notícias do mercado solar e também nossas soluções energéticas para economizar na conta de luz. ⚡☀

Siga a gente