O alerta da ANACE (Associação Nacional dos Consumidores de Energia) ressoa como um alarme de incêndio no setor elétrico: o custo da energia no Brasil pode disparar até 12% em 2026. Para os players da geração limpa, da comercialização e da sustentabilidade, essa não é apenas uma projeção econômica; é a cristalização do risco regulatório e o atestado de que a transição energética brasileira está sendo sabotada por dentro.
Conteúdo
- A Dívida Oculta Os Encargos Setoriais Como Vetor de Alta
- O Peso Estratégico Inflação e a Crise da Competitividade
- Ameaça à Transição Energética Limpa e Cara
- O Caminho de 2026 Reforma e Estratégia de Longo Prazo
- Visão Geral
A Dívida Oculta Os Encargos Setoriais Como Vetor de Alta
A raiz do problema apontado pela ANACE reside na inflação interna dos encargos setoriais. Estes são custos obrigatórios que o governo impõe à tarifa para financiar políticas públicas, subsídios e, criticamente, resolver problemas de risco operacional ou regulatório. Em 2026, muitos desses custos reprimidos de anos anteriores deverão ser integralmente repassados.
A CDE (Conta de Desenvolvimento Energético) é o grande ralo. Ela financia desde o programa Luz Para Todos até subsídios para fontes específicas e descontos tarifários. O volume de dívidas e o crescimento exponencial dos subsídios tornam a CDE uma bola de neve que o setor elétrico tem tentado rolar para a frente. Em 2026, a conta chega.
A ANACE enfatiza que essa alta de 12% é impulsionada pela necessidade de cobrir desequilíbrios passados e a manutenção de subsídios caros. A ironia é que a maior parte desse aumento não reflete o custo de geração real da energia limpa, mas sim a engenharia financeira complexa e insustentável da União.
O Peso Estratégico Inflação e a Crise da Competitividade
A projeção de 12% tem um efeito macroeconômico imediato e devastador. Um aumento dessa magnitude no custo da energia impacta diretamente o cálculo do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), pressionando a inflação geral. A eletricidade é um insumo essencial para praticamente toda a cadeia produtiva, do agronegócio à indústria de base.
Para a indústria, o golpe é na competitividade. O alto custo da energia torna os produtos brasileiros mais caros no mercado internacional e dificulta a atração de investimento estrangeiro. Enquanto países desenvolvidos usam a transição energética para reduzir custo da energia a longo prazo, o Brasil se prende a encargos que elevam artificialmente o preço final.
A competitividade de setores eletrointensivos, como alumínio e siderurgia, é imediatamente ameaçada. Essas empresas precisam de previsibilidade e de um custo da energia estável para operar. O alerta da ANACE para 2026 injeta um forte componente de risco regulatório e imprevisibilidade no horizonte de investimento.
Ameaça à Transição Energética Limpa e Cara
O paradoxo mais doloroso para os defensores da energia renovável é que o alto custo da energia ameaça a própria transição energética. Se o preço final da tarifa explode, isso desvia o foco do debate sobre sustentabilidade para a mera sobrevivência financeira.
Apesar dos avanços em energia eólica e solar, a carga de encargos setoriais mascara o benefício da geração de energia mais barata. Um sistema tarifário pesado desestimula o consumidor de migrar para o Mercado Livre de Energia (MLE), que é a principal ferramenta de competitividade e liberdade de escolha.
Além disso, a instabilidade de preços, amplificada pela projeção da ANACE, mina a segurança regulatória necessária para grandes projetos de investimento. Quem investirá em novas usinas ou infraestrutura de armazenamento de energia se o governo pode, a qualquer momento, alterar as regras de subsídio ou repassar novos encargos?
O Caminho de 2026 Reforma e Estratégia de Longo Prazo
O alerta da ANACE sobre o custo da energia em 2026 não é uma sentença, mas um prazo final. O setor elétrico e o governo têm uma janela de tempo limitada para reverter essa projeção sombria. O caminho passa por uma reforma estrutural que enderece a origem dos encargos setoriais.
- Abertura de Mercado: Acelerar a abertura do Mercado Livre de Energia para todos os consumidores é essencial. Isso permite que empresas e famílias negociem diretamente contratos de energia renovável de longo prazo, protegendo-se da volatilidade da tarifa regulada e dos encargos setoriais.
- Limpeza da CDE: É crucial auditar e separar os subsídios sociais (que deveriam ser pagos pelo Tesouro Nacional) dos encargos setoriais de fato. Transferir os custos sociais para o Orçamento Geral da União (OGU) aliviaria a tarifa de energia e daria transparência aos gastos.
- Planejamento Firme: O país precisa de uma estratégia de longo prazo que priorize o investimento em transmissão e armazenamento de energia. Isso garante que a capacidade instalada limpa, especialmente a energia eólica e solar do Nordeste, possa ser despachada para o Sul e Sudeste, reduzindo a necessidade de geração térmica cara.
Visão Geral
O aumento de 12% no custo da energia em 2026, conforme alertado pela ANACE, é uma ameaça real à inflação e à competitividade. É o setor, agora, que precisa se unir e pressionar por soluções definitivas. Não se trata apenas de evitar um aumento, mas de pavimentar o futuro da transição energética com previsibilidade e um custo da energia que, de fato, reflita o potencial de energia limpa do Brasil. O relógio está correndo, e o custo da inação será pago por todos.