O calor excessivo no verão brasileiro impõe um paradoxo à energia solar, reduzindo a performance dos painéis e desafiando a previsibilidade do setor elétrico.
Conteúdo
- A Física Contra o Pico de Geração e o Coeficiente de Temperatura
- O Desafio da Previsibilidade no Setor Elétrico frente ao Calor Excessivo
- Soluções Técnicas e Novas Estratégias de Investimento em Renováveis
- Visão Geral
A Física Contra o Pico de Geração e o Coeficiente de Temperatura
O grande vilão da história é o coeficiente de temperatura. Painéis solares operam com eficiência ideal em condições de irradiação solar intensa, mas a temperaturas controladas (geralmente em torno de 25°C). Acima desse ponto, a eficiência cai. Para cada grau Celsius acima do ideal, a performance do painel degrada-se em uma taxa que pode variar de 0,3% a 0,5% por grau, dependendo da tecnologia do módulo.
Em um verão brasileiro onde temperaturas ambientes ultrapassam consistentemente os 40°C, a temperatura da superfície do painel pode facilmente chegar a 65°C ou 70°C. Esse aquecimento extremo faz com que a geração de energia caia significativamente no momento em que a demanda por refrigeração está no seu pico histórico.
Os dados de desempenho do primeiro trimestre de 2024 em algumas regiões do Nordeste e Sudeste mostraram quedas percentuais na produção esperada, mesmo com níveis excepcionais de irradiação. Isso força os players do mercado livre a buscar lastro adicional, muitas vezes recorrendo a fontes térmicas mais caras.
O Desafio da Previsibilidade no Setor Elétrico frente ao Calor Excessivo
Para o setor elétrico como um todo, a previsibilidade é ouro. O calor excessivo introduz uma variável não linear na modelagem hidrotérmica e na gestão dos contratos de energia. Se a energia solar, que deveria ser a fonte mais abundante nos picos de consumo (verão), performa abaixo da curva esperada, o custo de suprimento aumenta.
A expansão da energia solar é vital para a transição energética, mas sua integração na rede exige que se compreenda essa limitação térmica. A gestão do risco de curtailment (restrição da geração) ou de underperformance devido à temperatura se torna prioritária para os traders e operadores de sistema.
Soluções Técnicas e Novas Estratégias de Investimento em Renováveis
A indústria de renováveis não está parada. A resposta a esse desafio passa por duas frentes: tecnologia e planejamento de investimento.
Tecnicamente, há um investimento crescente em módulos fotovoltaicos de baixa degradação térmica (com coeficientes menores). Além disso, soluções de refrigeração passiva ou sistemas de montagem que promovam maior ventilação sob os painéis estão ganhando espaço em novos projetos de geração.
Do ponto de vista estratégico, a expansão da energia solar deve ser acompanhada por um mix mais robusto de fontes despacháveis, como a eólica (que muitas vezes tem seu pico de geração à noite ou em períodos chuvosos) ou baterias de armazenamento. O calor excessivo evidencia que depender de uma única fonte, mesmo que limpa, cria vulnerabilidades no sistema elétrico.
Visão Geral
Em conclusão, o verão brasileiro serve como um laboratório natural para a energia solar. Enquanto o calor excessivo pressiona a performance dos módulos atuais, ele também direciona a inovação e a estratégia de investimento para tecnologias mais resilientes. O desafio é garantir que a sede por energia seja atendida sem comprometer a otimização econômica da geração renovável.
























