Estudo da Abegás destaca a infraestrutura de distribuição como chave para preços energéticos mais baixos e sustentáveis no Brasil.
Conteúdo
- O Efeito da Capilaridade na Economia Industrial
- O Novo Mercado de Gás e o Impulso Tarifário
- Gás e a Estabilidade do Setor Elétrico
- Superando os Desafios Regulatórios e de Investimento
- O Futuro da Matriz: Gás, Hidrogênio e Biometano
- Visão Geral
O setor elétrico brasileiro vive um momento de convergência onde a matriz energética busca balancear a urgência da descarbonização com a necessidade inadiável de estabilidade e preços competitivos. Neste contexto, o gás natural, especialmente o veiculado por rede, emerge como um pilar estratégico. Um estudo recente da Abegás (Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado) lança luz sobre essa relação, apontando que a expansão do gás canalizado é absolutamente decisiva para a modicidade tarifária e para reerguer a competitividade industrial do país.
Para profissionais do mercado de energia, a conclusão da Abegás ressoa como um alerta e um mapa: o caminho para um insumo energético mais acessível passa pela infraestrutura de distribuição. A modicidade tarifária não é alcançada apenas com a diversificação da oferta na ponta da produção, mas sobretudo pela eficiência e pela capilaridade com que o gás canalizado chega ao consumidor final, seja ele residencial, comercial ou, mais criticamente, industrial.
O Efeito da Capilaridade na Economia Industrial
A competitividade industrial no Brasil está historicamente atrelada aos altos custos de energia. O gás natural é um insumo-chave para a indústria de base, siderurgia, cerâmica e petroquímica. Quando o preço do combustível se eleva, o custo final do produto também sobe, penalizando a balança comercial e a capacidade de competir globalmente.
O estudo da Abegás demonstra que a expansão do gás canalizado é o principal mecanismo para diluir os custos fixos de distribuição. Quanto mais usuários são conectados à rede, menor se torna a parcela da tarifa destinada a cobrir os investimentos em dutos e manutenção. Isso gera ganhos de produtividade notáveis para o setor industrial, permitindo uma gestão de custos mais eficiente e previsível.
O acesso ao gás natural por meio de redes canalizadas oferece uma alternativa energética mais limpa e estável em comparação com combustíveis líquidos ou carvão. Para a indústria, essa estabilidade logística e de fornecimento se traduz em maior segurança operacional, um fator tão relevante quanto o preço para a competitividade industrial de longo prazo. A substituição de insumos poluentes também atende às crescentes demandas por sustentabilidade e ESG.
O Novo Mercado de Gás e o Impulso Tarifário
A abertura do Novo Mercado de Gás foi um passo fundamental para destravar o potencial do setor. A desverticalização e a introdução de novos players na produção e transporte criaram as condições para uma maior concorrência na ponta do fornecimento. Contudo, a efetivação da modicidade tarifária depende da capacidade das distribuidoras de levar esse gás competitivo até o consumidor.
A expansão do gás canalizado atua como o elo final dessa cadeia de valor. Quando as distribuidoras, amparadas por um ambiente regulatório claro, investem massivamente em novos gasodutos estaduais, elas transformam a potencial economia da produção em realidade para a indústria. A Abegás enfatiza que, sem essa infraestrutura, o benefício da oferta abundante e competitiva de gás se perde.
Um dos pontos de destaque do relatório é a análise sobre a aquisição de gás no mercado livre. Algumas distribuidoras já vêm utilizando essa prerrogativa para buscar os menores preços de molécula, garantindo que o custo básico do insumo seja o mais baixo possível. Essa atuação proativa é vital para alcançar a modicidade tarifária e reforça o papel estratégico da distribuição na cadeia.
Gás e a Estabilidade do Setor Elétrico
Para os especialistas em geração de energia e sustentabilidade, a expansão do gás canalizado tem um papel vital na segurança do sistema. As termelétricas a gás natural são a fonte de energia de despacho rápido preferencial, funcionando como um backup essencial para as fontes renováveis intermitentes, como a eólica e a solar.
A infraestrutura de distribuição robusta garante que estas usinas, que asseguram a resiliência do sistema quando o vento para ou o sol se esconde, tenham acesso confiável ao seu combustível. Essa complementaridade tecnológica é crítica para a transição energética. Sem o gás natural, o risco de colapso do sistema devido à intermitência das renováveis aumenta drasticamente.
Investir na rede de gás canalizado é, portanto, investir na segurança elétrica. A garantia de fornecimento para as termelétricas não apenas evita blackouts, mas também ajuda a manter os preços da eletricidade mais estáveis. Em momentos de crise hídrica, por exemplo, a disponibilidade de gás abundante pode significar uma pressão menor sobre as tarifas de energia elétrica.
Superando os Desafios Regulatórios e de Investimento
Apesar do consenso sobre a importância da expansão do gás canalizado, o Brasil ainda enfrenta desafios regulatórios e de licenciamento que atrasam o ritmo dos investimentos. A Abegás clama por maior harmonização entre as legislações federal e estaduais, simplificando os processos para a construção de novos trechos de dutos.
Um dos fatores econômicos que impactam a modicidade tarifária é o custo de capital (WACC). O estudo ressalta que um WACC superestimado encarece desnecessariamente as tarifas, pois os investimentos são remunerados a uma taxa mais alta. A regulação precisa encontrar um equilíbrio que garanta atratividade para o investidor privado, mas que não onere excessivamente o consumidor final.
A competitividade industrial não pode esperar. O custo do insumo energético é uma variável que define se uma fábrica permanece no Brasil ou se realoca a produção para países com energia mais barata. A expansão da rede não é apenas uma obra de engenharia, mas uma política pública disfarçada de investimento privado, com forte impacto macroeconômico.
O Futuro da Matriz: Gás, Hidrogênio e Biometano
O gás canalizado também se posiciona como um facilitador para o futuro da energia limpa, incluindo a transição para o hidrogênio de baixo carbono e o biometano. A infraestrutura de dutos existente e em expansão pode, no futuro, ser adaptada para transportar misturas desses gases renováveis, acelerando a descarbonização sem a necessidade de construir uma infraestrutura totalmente nova do zero.
O biometano, produzido a partir de resíduos orgânicos e com emissão de carbono neutra, já utiliza a rede de gás canalizado em diversos estados. Essa integração mostra a flexibilidade do sistema e sua capacidade de absorver energias circulares. A Abegás defende que cada novo quilômetro de duto construído hoje é um investimento em uma matriz energética mais sustentável e resiliente amanhã.
Visão Geral
Em suma, a mensagem da Abegás é um chamado à ação para o governo e para o setor regulatório. A expansão do gás canalizado transcende a esfera puramente energética; ela é o motor para alcançar a modicidade tarifária de forma estrutural, garantindo a competitividade industrial e pavimentando o caminho para um setor elétrico mais seguro e verde. A infraestrutura de distribuição, neste caso, é o verdadeiro vetor do desenvolvimento nacional.
























