Conteúdo
- O Mandato da EPE e a Realidade da Transição
- Bioenergia e o CO2 Biogênico: O Trunfo Brasileiro
- A Rota do Hidrogênio Verde e a Visão de Longo Prazo
- COP30 e a Justiça Energética na Amazônia
- Planejamento e Segurança do Setor Elétrico Pós-COP30
- Visão Geral
O Mandato da EPE e a Realidade da Transição
A Transição Energética brasileira, embora globalmente celebrada por sua matriz majoritariamente renovável, enfrenta desafios singulares. Não se trata de uma simples substituição de fontes, mas de uma gestão inteligente da infraestrutura existente e futura. A EPE é o órgão técnico responsável por planejar e projetar esse caminho de décadas.
O cerne da questão para o Setor Elétrico é a intermitência das fontes limpas. A matriz brasileira depende da garantia de suprimento, e é nesse ponto que o Gás Natural de transição ainda exerce um papel insubstituível. A diretora da EPE aponta que o gás nacional, proveniente do pré-sal, deve ser visto como um hedge contra a volatilidade hídrica.
A descarbonização no Brasil, segundo Heloísa Borges, deve ser pragmática. Exigir o abandono imediato do Gás Natural seria ignorar a necessidade de segurança energética e os altos custos de capital já investidos. O planejamento da EPE busca, ao contrário, integrar o gás com soluções de menor impacto de carbono.
Essa abordagem se reflete nos estudos da EPE sobre a infraestrutura de transporte e offshore. A diretora ressalta que o planejamento deve considerar a vida útil desses ativos. É imperativo que os novos projetos de gás já nasçam com a flexibilidade de serem convertidos, no futuro, para o uso de combustíveis de baixo carbono.
Bioenergia e o CO2 Biogênico: O Trunfo Brasileiro
Um dos diferenciais competitivos do Brasil, e tema central na COP30, é a vasta expertise em Bioenergia. Heloísa Borges destaca o etanol e o biometano como peças-chave. Eles já oferecem uma descarbonização real e imediata, especialmente para o setor de transportes e para a indústria que demanda calor de processo.
A EPE tem investido em estudos que mapeiam o potencial de CO2 biogênico. Este CO2, liberado durante a fermentação e produção de biocombustíveis, pode ser capturado. Em vez de ser um emissor líquido, o sistema se torna neutro ou até negativo em carbono, criando um ciclo virtuoso.
O aproveitamento desse CO2 biogênico é fundamental para a futura economia de Combustíveis Sustentáveis. Ele pode ser combinado com o Hidrogênio Verde para produzir e-fuels (combustíveis sintéticos). A EPE enxerga essa rota como um vetor de exportação de energia limpa com alto valor agregado.
Para o Setor Elétrico, isso significa a integração de usinas de Bioenergia com a produção de Hidrogênio Verde e metanol renovável. Esse é um passo além da simples geração de eletricidade, posicionando o Brasil como um hub de moléculas sustentáveis no cenário global pós-COP30.
A Rota do Hidrogênio Verde e a Visão de Longo Prazo
O Hidrogênio Verde (H2V) é, inevitavelmente, um dos pilares da Transição Energética. A expertise da EPE é crucial para direcionar os investimentos em H2V, garantindo que o seu desenvolvimento seja economicamente viável e não desvie recursos da segurança do Setor Elétrico tradicional.
Heloísa Borges frisa que a produção de H2V no Brasil, baseada em energia eólica e solar, é uma das mais competitivas do mundo. Contudo, o planejamento da EPE foca na demanda. O H2V deve, primeiro, atender setores de difícil abatimento de carbono, como a siderurgia e a indústria de fertilizantes.
A diretora da EPE menciona a importância de criar um marco regulatório estável para o Hidrogênio Verde antes da COP30. A legislação precisa garantir a rastreabilidade da fonte e definir os incentivos para a infraestrutura de transporte e exportação, consolidando a Amazônia e o Nordeste como polos produtores.
O estudo de longo prazo da EPE sinaliza que o H2V irá coexistir com as fontes de base. O desafio reside na coordenação. Os grandes projetos de H2V exigirão uma infraestrutura maciça de geração de energia renovável, o que implica um planejamento coordenado para evitar gargalos na transmissão e distribuição.
COP30 e a Justiça Energética na Amazônia
A realização da COP30 em Belém, na Amazônia, coloca a questão da justiça social e energética no centro dos debates. Heloísa Borges salienta que a Transição Energética não pode ser apenas um projeto tecnológico ou econômico; precisa ser um projeto inclusivo.
Muitas comunidades na Amazônia ainda não possuem acesso a eletricidade segura e contínua. A EPE está focada em como a descentralização da energia solar e a microgeração podem ser a solução mais rápida e eficiente para levar energia limpa e de baixo custo a essas populações isoladas.
A diretora da EPE destaca que o conceito de “pessoas no centro da transição” deve guiar as políticas pós-COP30. Isso significa não apenas investir em grandes projetos de exportação (H2V), mas também em soluções locais que promovam o desenvolvimento regional e a geração de renda através da Bioenergia e de pequenos sistemas solares.
O foco é usar a COP30 para atrair capital de impacto, financiando projetos que, além de reduzir emissões, resolvam problemas sociais concretos na região Amazônica. A sustentabilidade, nesse contexto, é a soma da descarbonização com o desenvolvimento humano e econômico.
Planejamento e Segurança do Setor Elétrico Pós-COP30
A COP30 serve como um catalisador para a agenda da EPE. A grande meta do planejamento energético nacional é garantir a segurança do suprimento em um sistema cada vez mais complexo e interligado, com a crescente participação da energia solar e eólica.
Heloísa Borges reforça que a diversificação é a maior fortaleza do Setor Elétrico brasileiro. O planejamento da EPE deve acomodar o rápido avanço da Geração Distribuída e a entrada de grandes projetos de energia renovável centralizada.
A diretora conclui que o sucesso da Transição Energética dependerá da capacidade do Brasil de coordenar as agendas de Petróleo & Gás, Eletricidade e Bioenergia. A COP30 em Belém é a oportunidade de apresentar ao mundo um modelo que não sacrifica a segurança energética em nome da descarbonização, mas que usa a riqueza de seus recursos naturais — do sol à biomassa — para criar um futuro mais limpo, justo e economicamente viável. A EPE tem a responsabilidade de traçar essa rota com rigor técnico e visão de longo prazo.
Visão Geral
A EPE, liderada por Heloísa Borges, articula uma Transição Energética pragmática para o Brasil, conciliando a segurança do Setor Elétrico com metas ambiciosas de descarbonização. O planejamento integra o Gás Natural como ponte, maximiza o potencial da Bioenergia (incluindo o aproveitamento do CO2 biogênico) e estabelece o Hidrogênio Verde como vetor de exportação. A COP30 na Amazônia direciona a atenção para a inclusão social através da descentralização da energia solar, reforçando a diversificação e a estabilidade do sistema energético nacional.























