Conteúdo
- Componentes que Determinam o Aumento da Tarifa de Energia
- Implicações do Custo da Infraestrutura e Privatização na Tarifa
- Impacto do Reajuste Tarifário na Transição Energética e Geração Distribuída
- O Ônus do Custo Brasil e a Necessidade de Gestão dos Encargos Setoriais
- Visão Geral
O Martelo da ANEEL: Componentes do Reajuste
A decisão de homologar o reajuste tarifário é da ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica). O processo leva em conta a variação de custos gerenciáveis (custos operacionais da distribuidora) e, principalmente, dos custos não gerenciáveis, sobre os quais a Equatorial Piauí não tem controle direto.
Dentro do reajuste de 13,6%, a maior pressão veio, previsivelmente, dos custos não gerenciáveis. Estes incluem:
- Custo de Compra de Energia e Transmissão (TUSD e TE): Os contratos de fornecimento e o uso da rede básica de transmissão sofreram variações que impactam diretamente o cálculo. A alta do dólar e as variações no preço da energia no Mercado Livre (PLD) se refletem aqui, mesmo para o mercado cativo.
- Encargos Setoriais: Este é o fator de maior peso. Encargos Setoriais como a CDE (Conta de Desenvolvimento Energético), o PROINFA e os subsídios sociais, que financiam diversas políticas públicas (como a Tarifa Social e os subsídios à energia renovável e carvão), continuam a crescer, desequilibrando as contas da Distribuição.
- Perdas Não Técnicas (PNT): O combate ao furto de energia e às perdas comerciais continua sendo um desafio no Piauí. O custo dessas perdas é rateado entre todos os consumidores, e a ineficiência em controlá-las se traduz diretamente em uma fatia do reajuste tarifário.
O percentual de 13,6% é o efeito médio. A ANEEL aplica índices diferentes para as classes de consumo: a Baixa Tensão (BT), que inclui residências e pequenos comércios, tende a absorver a maior parte da alta, enquanto a Alta Tensão (AT), que engloba as grandes indústrias, pode ter um impacto ligeiramente menor, buscando manter a competitividade econômica.
O Custo da Infraestrutura e a Privatização
A Equatorial Piauí, após assumir a concessão (que era da antiga Eletrobras Distribuição Piauí), tem a responsabilidade de elevar a qualidade do serviço. Os Investimentos em modernização da rede, expansão da Distribuição e redução do tempo de interrupção (DEC e FEC) são necessários, mas esses custos também são contemplados no cálculo do reajuste tarifário.
Para os especialistas, o aumento de 13,6% levanta a questão da eficácia dos Investimentos. Embora a distribuidora argumente que a alta é necessária para cobrir os custos e o plano de Investimento, o consumidor final, que arca com a tarifa, precisa ver essa melhoria se traduzir em menos interrupções e maior qualidade de energia elétrica.
A alta volatilidade da tarifa de energia no Piauí e em outras concessões da Equatorial (o SERP notou, por exemplo, reajustes de 19,30% em 2022 e 14,70% em 2023) desestabiliza o planejamento financeiro da Indústria e do comércio local. Essa falta de previsibilidade tarifária é um risco real para a sustentabilidade econômica do estado.
Impacto na Transição Energética e na GD
O reajuste tarifário de 13,6% tem implicações diretas na agenda de transição energética do Piauí. O estado, abençoado com altos índices de irradiação solar, é um polo natural para a Geração Distribuída (GD), especialmente energia solar.
Efeito Incentivo à GD: Tarifas mais caras aumentam a atratividade econômica do Investimento em energia renovável descentralizada. A cada aumento na tarifa de energia, o *payback* (retorno do Investimento) em um sistema de GD é acelerado. Para a Indústria e o comércio, gerar a própria energia elétrica torna-se uma proteção contra a inflação regulatória. O reajuste funciona, ironicamente, como um estímulo de mercado para que mais consumidores busquem a independência energética.
Pressão sobre os Subsídios: O aumento dos encargos setoriais que compõem a tarifa de energia (que, em parte, subsidiam a energia renovável) mostra o paradoxo regulatório. Enquanto o setor busca a descarbonização, os subsídios acabam sendo distribuídos de forma que onera o consumidor do mercado cativo, resultando em reajustes como o de 13,6%. A necessidade de revisar a forma como esses encargos são custeados é urgente para garantir a sustentabilidade de longo prazo do setor.
O Ônus do Custo Brasil e a Necessidade de Gestão
Os profissionais do Setor Elétrico entendem que a Equatorial Piauí é apenas o veículo para o repasse de custos que são majoritariamente federais ou sistêmicos. O problema central do reajuste tarifário de 13,6% não está apenas na Distribuição, mas na política energética e fiscal do país.
A ineficiência na gestão da CDE, o alto custo da energia comprada no mercado e os resíduos de políticas passadas continuam a ser despejados nas costas do consumidor final via tarifa de energia. Sem uma reforma profunda que racionalize os encargos setoriais e melhore a gestão dos ativos de transmissão e distribuição, o Piauí e outros estados do Nordeste continuarão vulneráveis a aumentos expressivos.
O aumento de 13,6% a partir de dezembro serve como um doloroso lembrete: a previsibilidade tarifária é um pilar da economia. Se o custo da energia continua a escalar a taxas muito superiores à inflação média, a competitividade das empresas é corroída, e o Investimento produtivo é desviado para cobrir a conta de luz.
Visão Geral
Para a Equatorial Piauí, o desafio imediato é demonstrar que o capital garantido por esse reajuste tarifário será aplicado de forma eficiente, resultando em uma redução tangível das perdas (PNT) e em uma melhoria drástica na qualidade do fornecimento, justificando o pesado ônus imposto à sociedade piauiense. A ANEEL e o governo precisam agir para mitigar a pressão dos encargos setoriais, sob pena de inviabilizar a transição energética por meio da alta inaceitável do custo da energia.























