Aprofundamento: Roraima, Amazonas e Pará lideram o índice de estabelecimentos extrativistas sem acesso à eletricidade, desafiando a narrativa de potência em geração limpa do Brasil.
Conteúdo
- Análise da Contradição Energética Brasileira e o Papel do Setor Elétrico
- Os Números Chocantes da Exclusão Energética por Estado
- O Caso Crítico de Roraima e a Dependência Térmica
- Desafios de Infraestrutura no Amazonas e Pará
- A Solução Necessária: Geração Limpa Descentralizada
- O Apelo do IEMA e o Desafio da Sustentabilidade na Transição Energética
- Rumo à Universalização Verde na Amazônia
Análise da Contradição Energética Brasileira e o Papel do Setor Elétrico
O Brasil orgulha-se de ser potência em geração limpa e de liderar a transição energética, contudo, um recente relatório do IEMA (Instituto de Energia e Meio Ambiente) revela um profundo abismo de exclusão elétrica na Amazônia Legal. Os estados de Roraima, Amazonas e Pará apresentam os maiores índices de extrativistas sem acesso à eletricidade, evidenciando uma falha sistêmica que compromete a economia da floresta e a sustentabilidade.
Os dados expõem a dissonância entre os investimentos em grandes parques solares e eólicos e a realidade das comunidades que dependem da eletricidade para processar seus produtos. A exclusão elétrica desses grupos de extrativistas impõe um desafio logístico e regulatório urgente ao Setor Elétrico.
Os Números Chocantes da Exclusão Energética por Estado
O levantamento realizado pelo IEMA é incisivo ao concentrar o problema em três estados centrais. Em Roraima, impressionantes 74% dos estabelecimentos extrativistas não têm acesso à energia elétrica. No Amazonas, a taxa atinge 66%, e no Pará, 45%. Esses percentuais superam drasticamente a média nacional, sinalizando uma falha crônica na universalização dos serviços na Amazônia Legal.
O conceito de estabelecimento extrativista abrange famílias que dependem da coleta sustentável de recursos como açaí, castanha-do-pará e borracha. A carência de energia elétrica inviabiliza a refrigeração, secagem e processamento adequado da produção, fragilizando a economia da floresta e incentivando o êxodo ou práticas predatórias.
Esta exclusão elétrica gera insegurança alimentar e econômica. O estudo do IEMA demonstra que a ausência de eletricidade resulta na perda de produtos de alto valor agregado ou na sua comercialização por preços irrisórios, limitando a renda dos extrativistas.
O Caso Crítico de Roraima e a Dependência Térmica
O estado de Roraima, líder em exclusão elétrica entre os extrativistas, é também o único desconectado do Sistema Interligado Nacional (SIN). Essa situação o torna dependente de Sistemas Isolados (SISOL), majoritariamente abastecidos por termelétricas a óleo diesel.
A dependência de diesel não só eleva o custo e a poluição da energia em Roraima, mas também afeta a estabilidade do fornecimento. A alta taxa de exclusão elétrica (74%) em Roraima está diretamente ligada ao custo elevado e à dificuldade de expandir redes convencionais até as áreas remotas onde residem os extrativistas.
A Agenda Estratégica para o estado deve unir a interligação ao SIN para os centros urbanos com a implementação de soluções descentralizadas de geração limpa para as comunidades isoladas. O relatório do IEMA reforça a necessidade de microrredes e soluções solares individuais como caminho para a inclusão.
Desafios de Infraestrutura no Amazonas e Pará
No Amazonas e no Pará, a complexidade geográfica, marcada por rios extensos e densa floresta, dificulta a construção de linhas de transmissão, perpetuando a exclusão elétrica. Os extrativistas, localizados em Resex ou assentamentos de difícil acesso, raramente são prioridade nos planos de expansão das concessionárias.
O custo por quilômetro de rede é proibitivo, e a baixa densidade demográfica desestimula o investimento privado nos modelos tradicionais. Assim, a superação da exclusão elétrica desses extrativistas na Amazônia exige o fomento à geração limpa descentralizada.
O IEMA sugere que recursos de programas como o Luz Para Todos e incentivos à energia renovável sejam direcionados para sistemas fotovoltaicos autônomos. A eletricidade deve ser vista como um insumo fundamental para o desenvolvimento, e não apenas como um custo de consumo, especialmente onde a exclusão energética ameaça a sustentabilidade.
A Solução Necessária: Geração Limpa Descentralizada
Para o Setor Elétrico, a exclusão elétrica na Amazônia representa uma oportunidade clara para inovar em geração limpa. Sistemas Solares Isolados (SISOL) e microrredes baseadas em energia renovável são as vias mais viáveis economicamente e ambientalmente corretas para levar eletricidade aos extrativistas.
A energia solar oferece modularidade e facilidade de implantação em locais remotos. O desafio central reside na criação de um arcabouço regulatório e financeiro que assegure a manutenção e a viabilidade operacional desses Sistemas Isolados de pequena escala. A ANEEL colabora com o IEMA para desenvolver soluções regulatórias para a expansão da energia limpa na região.
Investir em geração limpa para os extrativistas é um movimento estratégico de ESG. Isso garante que os produtos da Amazônia sejam processados de maneira sustentável, utilizando eletricidade de baixo carbono. É um ciclo virtuoso que harmoniza a universalização do acesso à energia elétrica com os objetivos de descarbonização do Brasil.
O Apelo do IEMA e o Desafio da Sustentabilidade na Transição Energética
O relatório do IEMA é um chamado direto ao Setor Elétrico para que a Transição Energética seja inclusiva. A persistência da exclusão elétrica de 74% dos extrativistas em Roraima e 66% no Amazonas aponta falhas no planejamento que negligenciou a Amazônia como prioridade.
É imperativo rever a política de subsídios, atualmente focada nas custosas termelétricas a diesel em Sistemas Isolados. O custo social e ambiental dessa dependência excede largamente o investimento necessário em soluções de geração limpa e energia renovável para as comunidades extrativistas.
Os agentes de energia limpa têm a oportunidade de converter o problema da exclusão elétrica em um ativo de sustentabilidade e inovação em energia. O Pará, com 45% de extrativistas sem acesso, representa um vasto mercado para a aplicação de microrredes solares e soluções de GD remota.
Rumo à Universalização Verde na Amazônia
A universalização da eletricidade na Amazônia exige um modelo distinto do século XX; o futuro reside na descentralização, em fontes de geração limpa e adaptadas à realidade da floresta. O Setor Elétrico necessita de regulamentação criativa e corajosa para financiar a energia renovável que transformará a vida dos extrativistas em Roraima, Amazonas e Pará.
O compromisso com o ESG transcende a construção de grandes usinas; exige a responsabilidade de levar eletricidade aos mais vulneráveis. O relatório do IEMA serve como um mapa das carências e, consequentemente, das maiores oportunidades para impacto social positivo e inovação em energia. A exclusão elétrica dos extrativistas da Amazônia deve ser o foco central do setor elétrico na próxima década.
























