O avanço da participação da energia nas emissões brasileiras para 20% em 2024 impõe um sério alerta à descarbonização nacional.
O setor elétrico brasileiro, que sempre se orgulhou de ostentar uma das matrizes mais limpas do planeta, acaba de receber um choque de realidade com dados que mostram um aumento alarmante. A participação da energia nas emissões brasileiras de Gases de Efeito Estufa (GEE) saltou de 16% em 2023 para cerca de 20% em 2024. Este crescimento percentual não é apenas um número, mas um grave sinal de alerta que compromete a narrativa de descarbonização do país e desafia a estratégia de transição energética.
Conteúdo
- Visão Geral
- O Paradoxo dos Números e o Desafio Global
- A Causa Raiz: A Vulnerabilidade Hídrica
- O Freio na Transição Energética
- O Impacto Econômico no Setor Elétrico
- A Urgência do Armazenamento de Energia
- O Caminho da Resiliência e Descarbonização
- O Alerta para a Reputação Global
Visão Geral
A notícia impacta diretamente os profissionais de energia limpa, que veem o esforço de anos para expandir fontes renováveis sendo ofuscado pela ineficiência sistêmica. O paradoxo é gritante: enquanto o desmatamento, principal vetor de emissões brasileiras, registra quedas, o setor que deveria liderar a descarbonização global está, na prática, aumentando sua pegada de carbono. Isso nos obriga a confrontar a fragilidade estrutural da nossa matriz elétrica.
O Paradoxo dos Números e o Desafio Global
Em um contexto internacional, 20% de emissões brasileiras provenientes da energia ainda está abaixo da média global, onde o setor é responsável por mais de 70% dos GEE. No entanto, para o Brasil, onde a matriz elétrica é predominantemente hídrica e renovável (em teoria), um aumento de quatro pontos percentuais em um único ano é inaceitável. Ele indica uma reversão perigosa na trajetória climática.
O aumento da participação da energia nas emissões brasileiras reflete uma dependência crônica e não resolvida de fontes poluentes para fins de segurança energética. O capital investido em energia limpa precisa, urgentemente, ser acompanhado por investimentos em resiliência e descarbonização de Geração Térmica, sob pena de o Brasil perder sua principal vantagem competitiva verde.
A Causa Raiz: A Vulnerabilidade Hídrica
A principal razão por trás do aumento das emissões brasileiras está na natureza intermitente de nosso sistema, fortemente dependente da chuva. Com baixos níveis nos reservatórios hidrelétricos, o Operador Nacional do Sistema (ONS) é forçado a despachar em plena carga as usinas de Geração Térmica. Esse despacho, embora vital para evitar *apagões*, é majoritariamente movido a combustíveis fósseis.
A Geração Térmica mais poluente, baseada em óleo diesel e, em menor grau, carvão mineral, é acionada prioritariamente para fornecer a energia firme que as renováveis intermitentes (eólica e solar) não conseguem garantir 24/7. Esta dependência dos combustíveis fósseis como *backup* de emergência é o principal motor do salto de 16% para 20% na participação das emissões brasileiras do setor.
O Freio na Transição Energética
O crescimento das emissões brasileiras compromete a credibilidade do Brasil perante metas globais, como o Acordo de Paris e o compromisso de neutralidade de carbono até 2050. O aumento da Geração Térmica joga um balde de água fria nos esforços de descarbonização industrial e afeta a atratividade do alumínio verde e do aço sustentável brasileiro no exterior.
A transição energética brasileira não pode ser apenas sobre a instalação de novas turbinas eólicas ou painéis solares; ela precisa ser sobre a *firmeza* da energia entregue. O setor elétrico precisa de soluções que garantam que a energia limpa gerada não seja apenas abundante, mas *despachável*, reduzindo a necessidade de Geração Térmica suja.
O Impacto Econômico no Setor Elétrico
Para os *players* de energia, o aumento das emissões brasileiras está diretamente ligado ao aumento dos custos operacionais do sistema. A Geração Térmica é intrinsecamente mais cara. O Custo Variável Unitário (CVU) das termelétricas mais antigas e poluentes eleva o Custo Marginal de Operação (CMO) e, por consequência, o Preço de Liquidação das Diferenças (PLD).
A volatilidade do PLD decorrente da maior Geração Térmica impacta os contratos no Mercado Livre de Energia (MLE) e o bolso do consumidor cativo através das bandeiras tarifárias. Em outras palavras, o aumento das emissões brasileiras do setor de energia significa um sistema mais caro, menos eficiente e com maior insegurança jurídica para os investimentos de longo prazo.
A Urgência do Armazenamento de Energia
A solução estrutural para frear o avanço das emissões brasileiras de GEE no setor elétrico passa pela massificação do armazenamento de energia (BESS – *Battery Energy Storage Systems*). Os sistemas de baterias permitem que o excesso de energia limpa produzida no pico do vento (madrugada) ou do sol (meio-dia) seja guardado e injetado na rede nas horas críticas, quando o sistema tradicionalmente depende da Geração Térmica.
O BESS atua como um *buffer* de carbono e custo. Ele garante a segurança energética sem a penalidade climática. O setor elétrico brasileiro, com seu vasto potencial em eólica e solar, precisa de uma regulamentação que priorize o armazenamento de energia em leilões de capacidade, transformando a energia limpa intermitente em energia firme e despachável.
O Caminho da Resiliência e Descarbonização
Para reverter a tendência de aumento de emissões brasileiras na matriz elétrica, o Brasil precisa de uma estratégia de transição energética de duas frentes. Primeiro, a modernização e descarbonização do parque de Geração Térmica existente, migrando para o Gás Natural como combustível fóssil de transição e, no futuro, para o Hidrogênio Verde e a e-amônia.
Em segundo lugar, a expansão da energia limpa deve ser condicionada à flexibilidade. Os investimentos em energia eólica e solar precisam incluir o armazenamento de energia ou serem acoplados a fontes complementares firmes, como biomassa moderna. Essa nova disciplina de capital é a única maneira de garantir que o setor elétrico não seja mais o bode expiatório da instabilidade hídrica.
O Alerta para a Reputação Global
O salto de 16% para 20% na participação das emissões brasileiras provenientes da energia é um balde de água fria na imagem internacional do Brasil. Se o país deseja ser um líder climático e atrair investimentos maciços em energia limpa, precisa provar que sua matriz elétrica é resiliente e que sua segurança energética não depende de combustíveis fósseis poluentes de alto custo.
O setor elétrico tem a tecnologia para fazer a descarbonização de forma eficaz. O aumento das emissões brasileiras é um sintoma de gargalos regulatórios e de infraestrutura. A transição energética exige agora um foco inadiável na firmeza da energia, transformando o vasto potencial renovável do Brasil em uma matriz elétrica que seja, de fato, 100% confiável e sustentável. Este é o desafio crucial para os próximos anos.























