Análise das Contribuições Climáticas Nacionais e o Desafio da Eliminação dos Combustíveis Fósseis

Análise das Contribuições Climáticas Nacionais e o Desafio da Eliminação dos Combustíveis Fósseis
Análise das Contribuições Climáticas Nacionais e o Desafio da Eliminação dos Combustíveis Fósseis - Foto: Reprodução / Freepik
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As NDCs atuais revelam uma ambição insuficiente, com foco insuficiente na eliminação dos combustíveis fósseis, apesar dos investimentos recordes em energia renovável.

Conteúdo

Visão Geral

O mundo da transição energética vive um paradoxo: nunca se investiu tanto em energia renovável, mas o calcanhar de Aquiles do clima global, os combustíveis fósseis, permanece intocado pelos principais planos nacionais. A nova rodada de Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), as metas climáticas voluntárias sob o Acordo de Paris, está revelando uma ambição perigosamente baixa.

Esta é a síntese do que os profissionais do setor elétrico e de sustentabilidade precisam saber: o esforço global está falhando em cortar combustíveis fósseis na escala necessária. A ciência é clara sobre a urgência de manter o aquecimento global abaixo de 1,5°C. No entanto, os compromissos governamentais mais recentes parecem desenhados para adiar o inevitável adeus ao carvão, gás e petróleo.

O Alarme da UNFCCC: 17% Contra 60%

A análise técnica da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) é um balde de água fria. Se somarmos todos os esforços e as novas NDCs apresentadas, o corte total nas emissões de gases de efeito estufa até 2035 mal chegará a 17%. O que o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) exige é um corte de cerca de 60% no mesmo período.

Essa disparidade é o que define a crise de ambição. Estamos presos em um ciclo de promessas modestas que não correspondem à emergência climática. Para quem atua na geração limpa, isso significa que a pressão para acelerar a transição energética deve vir do mercado e da inovação, e não apenas da política internacional.

O diagnóstico é ainda mais delicado quando olhamos o foco dessas metas. Quase 98% das novas NDCs incluem ações para o setor de energia. Isso é positivo. O problema reside no detalhe: menos da metade desses países estabeleceu metas explícitas para a redução ou eliminação dos combustíveis fósseis. É como tratar a tosse sem combater a pneumonia.

Muitos planos climáticos se concentram em aumentar a participação da energia renovável, o que é louvável. Porém, se essa nova capacidade for adicionada sem que as usinas termoelétricas a carvão e gás sejam desativadas, o resultado é apenas o aumento da matriz, e não o corte líquido das emissões de CO2.

A Estrutura da Resistência Fóssil

A relutância em incluir a eliminação dos combustíveis fósseis nas NDCs reflete uma batalha geopolítica e econômica profunda. Países altamente dependentes da extração e exportação, como grandes petroestados, veem qualquer meta de *phase-out* como uma ameaça direta à sua soberania econômica.

O gás natural, em particular, tem sido vendido como uma fonte “de transição energética“, um “combustível-ponte”. No entanto, a ciência aponta que qualquer nova infraestrutura de gás construída hoje comprometerá as metas de descarbonização em 2050, tornando a “ponte” um gargalo permanente.

O setor elétrico brasileiro, por exemplo, embora majoritariamente limpo, ainda debate o papel do gás natural em sua matriz. A inclusão de projetos de gás em NDCs de outros países sinaliza que a luta contra os combustíveis fósseis não é técnica, mas sim de poder político e lobby.

A solução para a segurança energética não está em duplicar a aposta em ativos de carbono. Pelo contrário, está na diversificação e na resiliência da matriz. O investimento massivo em baterias e soluções de armazenamento é a resposta tecnológica que pode aposentar o argumento da intermitência das fontes renováveis e, consequentemente, dos combustíveis fósseis.

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O Papel do Profissional da Energia Limpa

Para os profissionais que vivem e respiram a energia renovável, o fracasso das NDCs em dar o xeque-mate nos combustíveis fósseis é um chamado à ação. A ambição governamental não pode ser o teto da nossa atuação, mas sim o piso. O mercado precisa impor a velocidade da transição energética.

A demanda corporativa por energia renovável e a queda vertiginosa dos custos de solar e eólica já são forças mais poderosas do que muitos tratados. As empresas de energia limpa devem continuar a inovar em modelos de negócios, como a geração distribuída e o hidrogênio verde, para tornar a opção fóssil economicamente inviável.

Precisamos de metas de transição energética claras e ambiciosas, mesmo que elas não estejam explicitamente nas NDCs dos nossos países vizinhos. A urgência de triplicar a capacidade global de energia renovável até 2030, um objetivo estabelecido na COP, exige um foco cirúrgico e descompromissado com tecnologias legadas.

NDCs e a Ambição do Brasil

O Brasil, com sua matriz elétrica privilegiada, tem uma responsabilidade ainda maior. A atualização de sua própria NDC, embora tenha pela primeira vez feito uma menção à redução do uso de combustíveis fósseis, é criticada por especialistas por ainda ser insuficiente para a liderança global que o país poderia exercer.

A falta de detalhamento nas NDCs sobre como se dará o *phase-out* de térmicas a carvão ou a garantia de que o gás não será um vetor de aprisionamento de carbono são pontos de atenção. O setor elétrico precisa monitorar de perto esses planos e exigir transparência e rigor nas métricas de descarbonização.

Onde a política climática falha, a regulamentação setorial deve preencher a lacuna. Incentivos para o armazenamento de energia, a digitalização das redes e a rápida integração de fontes de energia renovável descentralizada são as chaves. O gás de cozinha e o óleo diesel precisam ser substituídos por soluções eletrificadas e mais eficientes.

O Próximo Salto: Indo Além das Metas Fracas

As próximas NDCs, com prazo de entrega em 2025 (e a ambição de 2035), serão o verdadeiro teste de fogo para o Acordo de Paris. Se elas continuarem falhando em cortar combustíveis fósseis de forma substancial, a meta de 1,5°C estará, de fato, fora de alcance.

A comunidade internacional está ciente da discrepância. A nova rodada de NDCs serve como um lembrete sombrio: a promessa de Paris está sendo diluída por interesses econômicos de curto prazo. A esperança reside na capacidade do setor de energia renovável de ser tão disruptivo que a eliminação dos combustíveis fósseis se torne uma inevitabilidade mercadológica, e não apenas uma obrigação política.

A transição energética é um fato consumado na tecnologia e na economia, mas ainda é uma meta a ser conquistada na política. Cabe a nós, profissionais do setor, assegurar que os bilhões investidos em fontes limpas forcem o fim da era dos combustíveis fósseis, independentemente da lentidão diplomática.

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