Relatório do Citi aponta que restrições na infraestrutura de transmissão estão gerando perdas significativas de energia limpa, pressionando o setor elétrico.
Conteúdo
- Visão Geral: O Alerta do Citi sobre Curtailment no Setor Elétrico
- O Fenômeno do Curtailment: Desperdício Programado de Energia
- Equatorial e o Alerta Vermelho na Geração Solar e Echoenergia
- O Gargalo da Transmissão e o Prejuízo Estratégico
- O Impacto no Valuation e nas Perdas Financeiras para a Equatorial
- Estratégias de Mitigação: O Caminho da Resiliência na Infraestrutura
- A Lição do Ranking de Cortes para a Sustentabilidade e Investimento
Visão Geral: O Alerta do Citi sobre Curtailment no Setor Elétrico
Um novo relatório do Citi trouxe à tona uma realidade desconfortável para o setor elétrico brasileiro: o avanço meteórico da geração limpa está sendo freado por um gargalo crônico na infraestrutura. O banco de investimento revelou que a Equatorial (EQTL3), por meio de sua subsidiária Echoenergia, liderou o preocupante ranking de cortes de geração (*curtailment*) entre as grandes utilities do país. Esse desperdício de energia limpa, especialmente na fonte solar, não é apenas uma ineficiência técnica; é um prejuízo financeiro que ameaça a maturidade e a credibilidade da transição energética brasileira.
O dado principal divulgado pelo Citi é um forte alerta ao mercado. A Equatorial, uma das maiores holding do setor, registrou taxas de curtailment que superam a média do mercado, colocando a empresa sob o escrutínio dos investidores que buscam retornos sólidos em energia limpa. O problema expõe a fragilidade da transmissão em acomodar o volume crescente de energia solar e eólica nos polos de geração, principalmente no Nordeste.
O Fenômeno do Curtailment: Desperdício Programado de Energia
Para os players do setor elétrico, o curtailment é um termo técnico para um drama operacional: o desperdício de energia. Ele ocorre quando a geração de eletricidade, tipicamente de fontes intermitentes como solar ou eólica, é reduzida ou interrompida, mesmo que o recurso natural esteja disponível. As causas são variadas, mas quase sempre se resumem a dois fatores: capacidade limitada da transmissão ou problemas de estabilidade do sistema elétrico.
O curtailment tem se tornado mais agudo nos horários de pico de geração renovável. No caso da energia solar, o problema se concentra nas horas de sol a pino (entre 10h e 15h), quando os painéis atingem o máximo de produção. A transmissão não consegue escoar todo esse volume, forçando o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) a solicitar o desligamento de usinas, gerando um custo de oportunidade bilionário.
Equatorial e o Alerta Vermelho na Geração Solar e Echoenergia
O relatório do Citi detalha que o braço de geração limpa da Equatorial, a Echoenergia, foi o mais afetado. Na fonte solar, o corte chegou a impressionantes 51,4% em alguns períodos analisados. Isso significa que mais da metade do potencial produtivo em certas usinas solares do grupo não pôde ser injetado no Sistema Interligado Nacional (SIN), virando fumaça financeira.
Comparativamente, as taxas de curtailment na fonte solar estão se tornando mais severas do que as registradas na energia eólica, tradicionalmente a mais volátil. O Citi nota que outras grandes empresas do setor também enfrentam o problema, como Auren (com taxas de corte superiores a 40% em solar) e Copel/CPFL (com altos cortes de geração em eólica). Contudo, a liderança da Equatorial no ranking de cortes para a fonte solar é o que mais chama a atenção do mercado financeiro.
A Echoenergia tem um portfólio de energia limpa em regiões de forte irradiação solar, como o Nordeste e o Norte de Minas Gerais. O rápido crescimento da geração nesses locais tem exposto dramaticamente a insuficiência das linhas de transmissão construídas nas últimas décadas, que não foram projetadas para a escala e a intermitência da matriz renovável atual.
O Gargalo da Transmissão e o Prejuízo Estratégico
O cerne do problema de curtailment não está nas turbinas ou nos painéis, mas na inação em investir na transmissão. Os leilões de geração de energia limpa avançam em ritmo acelerado, estimulados pela competitividade do custo do MW renovável. No entanto, a infraestrutura de transmissão não acompanha, criando um desequilíbrio entre o que pode ser gerado e o que pode ser transportado.
Essa disfunção afeta diretamente a segurança energética nacional. O ONS é obrigado a descartar energia limpa barata e, em momentos de alta demanda ou baixa geração hídrica, acionar fontes termelétricas mais caras e poluentes para manter a estabilidade do sistema elétrico. O curtailment é, portanto, um fator de aumento do Custo de Geração de Energia (CGE), que é repassado ao consumidor.
O Citi e outros analistas do setor elétrico concordam: a solução para a Equatorial e o resto do mercado passa obrigatoriamente pela expansão e modernização da transmissão. É preciso que os leilões de infraestrutura sejam mais frequentes e que os projetos sejam executados dentro do prazo para evitar que o curtailment continue a corroer a rentabilidade do setor.
O Impacto no Valuation e nas Perdas Financeiras para a Equatorial
O ranking de cortes de geração que coloca a Equatorial no topo, segundo o Citi, é mais do que uma estatística negativa para o balanço. É um sintoma de que a transição energética brasileira está na fase mais complexa: sair do boom da geração e entrar na era da resiliência da transmissão. O desafio agora é regulatório e de infraestrutura.
A ANEEL e o ONS precisam responder com urgência, garantindo que os próximos leilões de transmissão eliminem os gargalos que estão custando bilhões em perdas financeiras para o setor elétrico. Para a Equatorial, a pressão do Citi é um chamado à ação para que o grupo utilize sua expertise em infraestrutura para mitigar ativamente o curtailment em seus ativos de energia limpa. O futuro do investimento e da sustentabilidade depende dessa maturidade operacional.
Estratégias de Mitigação: O Caminho da Resiliência na Infraestrutura
Apesar do cenário desafiador, a transição energética oferece ferramentas para combater o curtailment. A principal delas é o armazenamento de energia em baterias (BESS). Grandes projetos de energia solar e eólica podem instalar sistemas de BESS para guardar o excesso de geração que a transmissão não suporta no pico e injetá-lo na rede em momentos de baixa demanda ou alta volatilidade.
Além do armazenamento, a digitalização da transmissão é crucial. A adoção de Redes Inteligentes (Smart Grids) e sistemas de gerenciamento avançado de energia elétrica pelo ONS permite uma coordenação mais fina dos fluxos e uma alocação mais eficiente da capacidade de transmissão em tempo real. A Equatorial já investe em modernização na distribuição, e precisa estender essa agressividade para seus ativos de geração e logística.
O setor elétrico precisa de um planejamento integrado que trate transmissão, geração e armazenamento como um único sistema. A atratividade da energia limpa no Brasil é inegável, mas sem infraestrutura que a suporte, o crescimento da Equatorial e de outras empresas permanecerá refém do desperdício.
A Lição do Ranking de Cortes para a Sustentabilidade e Investimento
O ranking de cortes que coloca a Equatorial no topo, segundo o Citi, é mais do que uma estatística negativa para o balanço. É um sintoma de que a transição energética brasileira está na fase mais complexa: sair do boom da geração e entrar na era da resiliência da transmissão. O desafio agora é regulatório e de infraestrutura.
A ANEEL e o ONS precisam responder com urgência, garantindo que os próximos leilões de transmissão eliminem os gargalos que estão custando bilhões em perdas financeiras para o setor elétrico. Para a Equatorial, a pressão do Citi é um chamado à ação para que o grupo utilize sua expertise em infraestrutura para mitigar ativamente o curtailment em seus ativos de energia limpa. O futuro do investimento e da sustentabilidade depende dessa maturidade operacional.
























