Impacto do Adiamento da IMO na Viabilização de Investimentos em Hidrogênio Verde para a Transição Marítima

Impacto do Adiamento da IMO na Viabilização de Investimentos em Hidrogênio Verde para a Transição Marítima
Impacto do Adiamento da IMO na Viabilização de Investimentos em Hidrogênio Verde para a Transição Marítima - Foto: Reprodução / Freepik
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Adiamento na IMO paralisa sinalização regulatória essencial para o investimento em descarbonização do setor marítimo.

O adiamento da decisão crucial da Organização Marítima Internacional (IMO) sobre o arcabouço de emissões zero gerou um cenário de incerteza regulatória, impactando diretamente a liberação de bilhões em investimento destinados a projetos de hidrogênio verde essenciais para a transição energética do transporte marítimo global.

Conteúdo

Visão Geral: O Impacto do Adiamento da IMO

A indústria de hidrogênio verde esperava um sinal claro para destravar bilhões em investimento. Esse sinal, que deveria vir da Organização Marítima Internacional (IMO), ficou preso nas águas turvas das negociações internacionais. O adiamento da decisão crucial sobre o arcabouço de emissões zero para o transporte marítimo global funcionou como um verdadeiro banho de água fria no setor.

O Comitê de Proteção do Meio Marinho (MEPC) da IMO optou por postergar o martelo final sobre a principal ferramenta de descarbonização do transporte marítimo. Essa ferramenta, conhecida como Medida Baseada em Mercado (MBM), é vista como essencial. Ela estabeleceria um preço global para as emissões de carbono, tornando os combustíveis fósseis mais caros e, por consequência, viabilizando economicamente o uso de combustíveis zero emissão, como o hidrogênio verde e seus derivados.

A expectativa era que a decisão fosse tomada em 2024, consolidando o caminho para a meta de emissões líquidas zero por volta de 2050. Com o adiamento, o mercado perde a tão sonhada certeza regulatória. Para quem trabalha no setor de energia e em projetos de larga escala, essa incerteza é o principal inimigo do investimento de capital.

O Efeito Arrefecedor nos Investimentos de Hidrogênio

Projetos de hidrogênio verde (H2V), especialmente no Brasil, são altamente dependentes de contratos de longo prazo e de uma demanda previsível. O setor de navegação internacional, que move 90% do comércio global, representa um mercado consumidor gigantesco, capaz de absorver a produção de grandes *hubs* de H2V, como os que estão sendo desenvolvidos no Ceará e em Pernambuco.

O setor marítimo consome cerca de 300 milhões de toneladas de combustível por ano. Substituir essa matriz com soluções limpas, como o hidrogênio ou a amônia produzida a partir dele, exige uma infraestrutura massiva e navios compatíveis. Sem um mandato claro da IMO e um mecanismo de precificação de carbono, os armadores não têm incentivos suficientes para fazer a conversão de suas frotas.

A decisão da IMO era fundamental, pois garantiria que os *early movers* — aqueles dispostos a investir primeiro em navios e infraestrutura de abastecimento limpo — não fossem penalizados por custos iniciais mais altos. A MBM faria essa ponte, sinalizando um mercado robusto e padronizado globalmente. Agora, essa sinalização está em stand-by.

O Impasse da Abordagem Equitativa na Regulamentação Global

A principal razão para o impasse e subsequente adiamento reside na complexidade da regulamentação global e na demanda por uma abordagem equitativa. Países em desenvolvimento, incluindo o Brasil, têm defendido que qualquer medida de precificação de carbono deve levar em conta as diferentes capacidades e responsabilidades históricas das nações.

O Brasil e outras nações emergentes temem que uma tarifa de carbono uniforme no transporte marítimo possa elevar os custos de *frete* de suas exportações. Isso, por sua vez, impactaria negativamente sua competitividade comercial e o desenvolvimento econômico. Eles insistem que parte das receitas geradas pela MBM deve ser canalizada para apoiar a transição energética marítima em países menos desenvolvidos.

Essa negociação sobre o mecanismo de compartilhamento de receita e a justiça climática global é crucial, mas lentificou o processo regulatório. Enquanto a burocracia internacional debate a letra fina do acordo, a janela de tempo para limitar o aquecimento global se estreita, e a indústria de hidrogênio respira por aparelhos de incerteza.

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Ameaça das Alternativas Menos Verdes à Ascensão do H2V

A hesitação da IMO cria um vácuo regulatório perigoso. Na ausência de um mandato global forte para o hidrogênio e seus derivados (como a Amônia Verde), a indústria naval pode ser tentada a adotar soluções de transição menos ambiciosas ou que ainda dependem de carbono. O metanol, por exemplo, embora menos poluente que o óleo combustível tradicional, não é um combustível zero emissão final.

Muitos projetos de hidrogênio verde brasileiros planejam exportar a energia na forma de Amônia Verde, que é mais fácil de liquefazer e transportar. A Amônia Verde é o vetor energético preferido para navios de grande porte. A falta de regras claras da IMO sobre a Amônia e o H2V freia a encomenda desses novos navios e a construção de terminais de exportação.

A grande preocupação é que, se o processo de descarbonização marítima for muito lento, a janela de oportunidade para o hidrogênio verde ser o combustível dominante pode se fechar. Soluções que exigem menor investimento inicial em novas embarcações acabam ganhando tração, mesmo que seu impacto ambiental seja apenas marginalmente melhor.

O Mapa de Rota Pós-Adiamento: Olhar Regional para a Transição Energética Marítima

Diante do cenário de incerteza global, a estratégia para os desenvolvedores de hidrogênio verde deve focar nas regulamentações regionais e em *mandatos verdes* nacionais. A União Europeia, por exemplo, está avançando com seu sistema de comércio de emissões (EU ETS) e metas de uso de combustíveis renováveis para o transporte marítimo (FuelEU Maritime).

Essas iniciativas regionais criam, de forma fragmentada, a demanda que a IMO falhou em entregar globalmente. Produtores brasileiros de hidrogênio e Amônia Verde precisam se posicionar para atender a esses mercados com regulamentação mais avançada, utilizando os portos europeus como âncora inicial de demanda.

No Brasil, a aprovação do marco regulatório do hidrogênio pode ajudar a mitigar o choque da IMO. Uma política nacional de incentivo, seja por meio de leilões de demanda ou *blending mandates*, é crucial para estabilizar a curva de aprendizado e reduzir custos, garantindo que os projetos brasileiros mantenham a atratividade, independentemente das demoras da IMO.

A Urgência da Próxima Rodada: Pressionando pela Certeza Regulatória

A postergação da decisão da IMO não anula a necessidade de descarbonização. Os compromissos globais de combate à mudança climática permanecem. O transporte marítimo, responsável por cerca de 3% das emissões globais de CO2, está sob intensa pressão para se limpar. O hidrogênio continua sendo a solução mais promissora de longo prazo.

A indústria de hidrogênio limpa, incluindo fabricantes de eletrolisadores e desenvolvedores de projetos renováveis, precisa redobrar os esforços de *lobby* junto aos seus respectivos governos. É fundamental pressionar para que a próxima rodada de negociações da IMO seja conclusiva e produza um MBM ambicioso e equitativo.

Em um setor onde os ciclos de investimento duram décadas, cada ano de atraso regulatório custa bilhões e aumenta o risco de *stranded assets*. O banho de água fria da IMO é um alerta: a transição energética não acontecerá por inércia. Ela exige liderança regulatória decisiva. A hora de acender a chama do hidrogênio verde é agora, e o mercado precisa da IMO para virar a chave.

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