A crescente frota de sistemas de Geração Distribuída enfrenta a escassez de componentes antigos, elevando desafios logísticos e ameaçando a viabilidade econômica de usinas no Brasil.
Conteúdo
- Visão Geral
- O Salto Tecnológico e o Desafio do Mismatch na Reposição de Módulos Fotovoltaicos
- Custo, Logística e a Pressão do Imposto de Importação na Reposição de Módulos Fotovoltaicos
- A Armadilha das Garantias e a Sustentabilidade
- O Caminho à Frente: Repowering e Mercados Secundários para Módulos Fotovoltaicos
Visão Geral
O mercado de energia solar no Brasil, que cresceu em velocidade exponencial na última década, atingindo uma potência instalada massiva, agora enfrenta um desafio silencioso, mas estrutural: a crescente dificuldade de reposição de módulos fotovoltaicos antigos. O *boom* da Geração Distribuída (GD), impulsionado por módulos de primeira e segunda geração (com potências entre 250W e 350W), criou uma frota instalada que se depara com a obsolescência tecnológica. Este descompasso entre o estoque antigo e a oferta atual de painéis de alta eficiência ameaça a viabilidade econômica de milhares de sistemas em operação no país, exigindo uma atenção urgente do Setor Elétrico.
A reposição de módulos fotovoltaicos se tornou um pesadelo logístico e técnico para integradores, operadores e, principalmente, para os proprietários de usinas e telhados solares. Se um painel de um sistema instalado há cinco ou oito anos quebra devido a microfissuras, *hotspots* ou danos físicos (como granizo), encontrar um substituto com as mesmas características elétricas tornou-se uma missão quase impossível. O mercado simplesmente parou de fabricar módulos com as especificações elétricas dos painéis solares antigos.
O Salto Tecnológico e o Desafio do Mismatch na Reposição de Módulos Fotovoltaicos
A raiz da dificuldade de reposição de módulos fotovoltaicos está no ritmo frenético da inovação. Em 2018, um módulo solar padrão tinha cerca de 320W; hoje, o padrão de mercado ultrapassa 550W, com variações significativas nas especificações de corrente (Imp) e tensão (Voc). Este salto de potência gera o temido *mismatch* elétrico quando se tenta misturar módulos novos e velhos na mesma *string* (série de painéis).
Para manter a segurança do sistema e a eficiência, todos os módulos fotovoltaicos conectados em série devem ter a mesma corrente de operação. Se um módulo novo de alta corrente for conectado a um antigo de baixa corrente, o módulo antigo atua como gargalo, limitando a produção de toda a série. O resultado é perda de energia, diminuição da viabilidade econômica e, em casos extremos, sobreaquecimento e danos permanentes aos painéis solares antigos.
As tentativas de encontrar módulos de baixa potência para reposição frequentemente esbarram na inexistência de estoque ou em preços que não justificam a operação. Os distribuidores focam na importação de painéis mais eficientes para novos projetos. A escassez desse componente específico no mercado fotovoltaico brasileiro, portanto, força o setor a considerar soluções drásticas, como a substituição integral de *strings* ou até mesmo o *repowering* de usinas inteiras.
Custo, Logística e a Pressão do Imposto de Importação na Reposição de Módulos Fotovoltaicos
A questão da dificuldade de reposição de módulos fotovoltaicos é agravada por fatores econômicos. Quase a totalidade dos módulos fotovoltaicos instalados no Brasil é importada, majoritariamente da Ásia. O retorno da tributação do imposto de importação para esses componentes, mesmo que sob regimes de cotas, eleva o custo de reposição. Com painéis mais caros e escassos, o custo para o operador ou consumidor final se torna proibitivo.
Muitas vezes, o custo logístico para importar um único módulo de energia solar antigo é maior do que o benefício de tê-lo substituído. As cadeias de suprimentos globais não são desenhadas para atender a essa demanda pontual e de nicho. O resultado é a permanência de módulos quebrados ou ineficientes nos *strings*, reduzindo o retorno do investimento e a capacidade de Geração Distribuída do sistema afetado.
A insegurança regulatória também paira sobre o processo. O Setor Elétrico carece de diretrizes claras sobre como as distribuidoras de energia e a ANEEL devem tratar a alteração de projetos de GD causada pela reposição de módulos com características elétricas diferentes. A burocracia para aprovar uma alteração de *layout* ou especificação pode levar meses, tempo em que o sistema permanece parcialmente inoperante.
A Armadilha das Garantias e a Sustentabilidade
Outra grande ameaça é o cumprimento das garantias de produto. A maioria dos fabricantes oferece garantias de 10 a 12 anos contra defeitos de fabricação. No entanto, se o fabricante tiver saído do mercado fotovoltaico ou não produzir mais o modelo específico, a garantia se torna letra morta. O custo da substituição recai, então, sobre o instalador ou o proprietário da usina.
Este cenário de dificuldade de reposição de módulos fotovoltaicos é um sinal de alerta para o desafio da sustentabilidade a longo prazo. O Brasil, com sua enorme base instalada de energia solar, precisa urgentemente desenvolver uma logística reversa eficaz. A falta de um plano robusto para o tratamento e reciclagem dos painéis solares antigos e danificados não é apenas um problema de reposição, mas uma futura crise de resíduos eletrônicos.
A reciclagem de módulos fotovoltaicos não é economicamente viável no Brasil na escala atual, o que faz com que os painéis quebrados acabem em aterros sanitários. O desenvolvimento de uma economia circular para os componentes de energia limpa é fundamental para fechar o ciclo de vida da Geração Distribuída e minimizar a dependência de importação para peças de reposição.
O Caminho à Frente: *Repowering* e Mercados Secundários para Módulos Fotovoltaicos
Para superar a dificuldade de reposição de módulos fotovoltaicos, o Setor Elétrico tem duas vias principais. A primeira é o *repowering* (modernização): o proprietário substitui intencionalmente a totalidade dos painéis solares antigos por modelos de última geração, ganhando em eficiência e voltando a ter o retorno do investimento projetado. Embora caro, garante a longevidade do sistema.
A segunda via, e mais pragmática para reparos pontuais, é a criação de um mercado secundário formalizado de peças de reposição. Empresas especializadas poderiam armazenar e comercializar lotes de módulos fotovoltaicos de gerações antigas, provenientes de projetos desativados ou de estoques de segurança de grandes usinas. Isso traria liquidez e segurança operacional para a manutenção da GD já instalada.
A ANEEL e o Setor Elétrico devem trabalhar em conjunto para simplificar os processos de alteração de projetos e incentivar a criação de um *pool* nacional de painéis solares antigos. A dificuldade de reposição de módulos fotovoltaicos não pode se tornar um obstáculo para a manutenção da capacidade instalada. Garantir a saúde operacional desses sistemas é vital para a segurança energética e para a contínua expansão da energia limpa no país.