Fernando Filho confirma a Regulação do Curtailment na MP 1304, visando equilíbrio para o setor elétrico e renováveis.
Conteúdo
- Visão Geral sobre a Inclusão do Curtailment
- O Fantasma do Curtailment: Necessidade Operacional vs. Risco Financeiro
- MP 1304: Mais do Que Subsídios, uma Plataforma Sistêmica
- O Desafio da Regulação Equilibrada: Como Compensar o Gerador?
- O Curtailment e o Futuro da Geração Distribuída
- O Legado de Fernando Filho: Definindo a Agenda de Investimentos
Visão Geral
O debate sobre o futuro da energia renovável no Brasil atingiu um novo pico de urgência. O deputado federal Fernando Filho (União Brasil-PE), relator influente da Medida Provisória que trata de questões sistêmicas do setor elétrico, confirmou a inclusão do tema curtailment na MP 1304 – ou no Projeto de Lei de Conversão que dela advir. A promessa é entregar um texto equilibrado, capaz de gerenciar o excesso de Geração Distribuída e de grandes Investimentos eólica e solar, sem estrangular o crescimento da Transição Energética.
O Fantasma do Curtailment: Necessidade Operacional vs. Risco Financeiro
O curtailment é a ação técnica de obrigar geradores a reduzir ou interromper a produção de energia por um período, geralmente para evitar sobrecarga nas linhas de transmissão ou desequilíbrio na frequência da rede. É um mecanismo de Segurança Energética crucial em sistemas com alta penetração de fontes intermitentes, como a solar e a eólica.
O Brasil, com seu rápido crescimento em energia renovável, especialmente no Nordeste (eólica e solar centralizada) e na Geração Distribuída (GD), já enfrenta picos de excedente que desafiam a infraestrutura de transmissão. A inclusão do tema na MP 1304 reflete a constatação de que o Operador Nacional do Sistema (ONS) precisa de instrumentos legais claros para gerenciar esse excedente.
O problema é financeiro. Os geradores renováveis firmam Contratos de Compra de Energia (PPAs) baseados na expectativa de geração. Se o curtailment for frequente e não compensado, a receita do projeto cai drasticamente. Isso afeta o payback e, crucialmente, torna o financiamento bancário para novos Investimentos em energia renovável mais caro ou inviável, aumentando o Risco Regulatório para players globais.
MP 1304: Mais do Que Subsídios, uma Plataforma Sistêmica
A MP 1304 (ou o PL de conversão) surgiu inicialmente focada em resolver passivos da Eletrobras e em equacionar a escalada de Subsídios embutidos na Tarifa de Energia. Contudo, o Congresso, sob a batuta de Fernando Filho, expandiu seu escopo para tratar de Soluções Estruturais de longo prazo para a Modernização do Setor Elétrico. O curtailment se encaixa perfeitamente nesse contexto.
Ao incluir a Regulação do corte, o relator reconhece que o problema da instabilidade de rede não pode ser adiado. Ele busca criar um arcabouço legal para que o ONS e a Agência Reguladora (ANEEL) possam atuar com respaldo, evitando improvisos técnicos e jurídicos que resultam em instabilidade para o sistema.
A principal crítica é que a MP 1304 está se tornando um “ônibus” legislativo, carregando temas demais. No entanto, o setor elétrico prefere que esses temas urgentes sejam tratados em um veículo com tramitação rápida, desde que o texto equilibrado prometido por Fernando Filho realmente se concretize, promovendo Segurança Jurídica.
O Desafio da Regulação Equilibrada: Como Compensar o Gerador?
A promessa de um texto equilibrado implica que o curtailment não será uma penalidade unilateral. A grande expectativa do mercado reside em como a MP definirá a compensação dos geradores afetados. Existem basicamente duas abordagens possíveis para que o texto de Fernando Filho seja aceito:
- Pagamento por Capacidade Não Utilizada: O gerador receberia uma tarifa (ou capacity payment) pelo custo de oportunidade da energia que foi cortada. Esse mecanismo reconhece que a indisponibilidade foi uma decisão do ONS para a Segurança Energética sistêmica, e não uma falha do gerador.
- Mecanismos de Prioridade de Despacho: Definir regras claras de quem será cortado primeiro (ex: fontes mais antigas ou menos flexíveis), priorizando as novas Investimentos em energia renovável.
Sem um mecanismo justo de compensação, o Risco Regulatório explode. Bancos de desenvolvimento e investidores privados simplesmente não financiarão projetos onde a geração esperada, e a consequente receita, pode ser zerada por uma decisão discricionária do operador. O papel do relator é, portanto, criar uma regra que garanta a estabilidade da rede e a solvência financeira dos projetos.
O Curtailment e o Futuro da Geração Distribuída
Um ponto sensível que a MP deve abordar é a Geração Distribuída (GD), notória por seu rápido crescimento e pela falta de visibilidade em tempo real para o ONS. A GD, principalmente solar, concentra-se no meio-dia, o que pode saturar subestações locais e exigir curtailment em nível de distribuição.
O texto equilibrado deve prever instrumentos para que a GD contribua para a estabilidade. Isso pode incluir a exigência de inversores inteligentes (smart inverters) com capacidade de controle remoto de potência ou a adoção de sistemas de armazenamento de energia (baterias) em novos projetos de grande porte, como forma de mitigar a intermitência na ponta.
A inclusão do curtailment na Regulação é um passo em direção à maturidade do setor elétrico brasileiro, que precisa sair da fase de subsídios puros e entrar na fase de soluções estruturais e eficiência operacional. O debate na MP 1304 é crucial para definir se o Brasil implementará uma regra moderna, alinhada com mercados internacionais, ou uma regra punitiva, que freará a Transição Energética.
O Legado de Fernando Filho: Definindo a Agenda de Investimentos
A articulação política de Fernando Filho é decisiva. Ele tem a oportunidade de legar ao país uma Regulação que protege o consumidor (evitando custos de instabilidade e apagões), enquanto mantém a atratividade para novos Investimentos em energia renovável. A chave para o texto equilibrado reside na transparência e na previsibilidade das regras de curtailment.
Se a MP for aprovada com regras claras de compensação e prioridade, o mercado aceitará o curtailment como um Risco Regulatório gerenciável. Isso permitirá que o sistema continue a integrar grandes volumes de energia renovável sem colapsar a rede.
Em suma, a confirmação de Fernando Filho sobre a inclusão do curtailment na MP 1304 é um reconhecimento da nova realidade operacional do setor elétrico. O desafio está lançado: o setor elétrico profissional espera que a Regulação Equilibrada prometida pelo relator seja, de fato, uma solução estrutural que promova a Segurança Energética sem comprometer a Transição Energética e o fluxo de Investimentos essenciais para o futuro verde do Brasil.