Petrobras alcança certificação internacional CORSIA para SAF coprocessado, impulsionando a transição energética na aviação.
Conteúdo
- O Passaporte Verde da Aviação: Entenda o CORSIA
- A Solução Imediata: O SAF Coprocessado
- Repar: Engenharia e Potencial de Produção
- Economia e Concorrência por Bioenergia
- A Longa Jornada da Transição Energética
- Visão Geral
Visão Geral
O gigante estatal brasileiro, Petrobras, acaba de fazer um movimento que redefine sua posição na transição energética global, mirando diretamente o setor aéreo. A companhia anunciou a Certificação internacional de uma de suas principais unidades, a Refinaria Getúlio Vargas (Repar), no Paraná, para a produção de SAF coprocessado (Sustainable Aviation Fuel, ou Combustível Sustentável de Aviação). Este selo, emitido sob as diretrizes do CORSIA, é a chave que abre as portas para o mercado internacional de combustíveis de baixo carbono.
Para os profissionais do setor elétrico e de biocombustíveis, esta não é apenas uma notícia sobre querosene. É um anúncio sobre a alocação futura de bioenergia e a expansão da demanda por matérias-primas que competem com o biodiesel, influenciando diretamente a economia da energia limpa no País. A Petrobras se posiciona, com o SAF coprocessado, como um *player* essencial na descarbonização da aviação, um dos setores mais difíceis de eletrificar.
O Passaporte Verde da Aviação: Entenda o CORSIA
A certificação obtida pela Repar é de vital importância por estar atrelada ao CORSIA (Carbon Offsetting and Reduction Scheme for International Aviation). Este é o esquema global da Organização da Aviação Civil Internacional (ICAO) para compensação e redução de carbono em voos internacionais. Em essência, o CORSIA exige que as companhias aéreas limitem o aumento das emissões, impulsionando a procura por combustíveis alternativos.
Ter o SAF coprocessado da Petrobras certificado sob estas normas significa que o produto é reconhecido globalmente. Isso permite que as companhias aéreas utilizem o combustível brasileiro para cumprir suas obrigações internacionais de sustentabilidade, garantindo à Petrobras acesso a um mercado *premium* de alto valor agregado. O Brasil passa a fazer parte da elite de países fornecedores de soluções para a descarbonização da aviação.
Sem esta Certificação internacional, o SAF não tem valor nos mercados mais exigentes, como a Europa e os Estados Unidos. Portanto, o selo da CORSIA transforma o SAF coprocessado da Petrobras de um produto local em uma *commodity* de transição energética global, com implicações diretas na competitividade da nossa bioenergia.
A Solução Imediata: O SAF Coprocessado
A Petrobras optou pela via do SAF coprocessado, uma tecnologia que permite uma produção mais rápida e com menor investimento inicial. O coprocessamento envolve a introdução de uma carga de matéria-prima renovável – como óleo de soja, sebo bovino ou óleo de cozinha residual – no fluxo de processamento do querosene de aviação mineral já existente na refinaria.
Essa estratégia difere da produção de SAF em plantas dedicadas, que exigem um investimento de capital muito maior, mas resultam em um produto 100% renovável. O SAF coprocessado da Repar oferece uma solução imediata e escalável. Ele permite que a Petrobras rapidamente injete volumes consideráveis de combustível de baixo carbono no mercado, atendendo à urgência da descarbonização da aviação.
Embora o coprocessamento produza um SAF que ainda contém uma fração mineral, a redução de emissões é imediata e substancial, o que é suficiente para cumprir as primeiras metas do CORSIA. Esta abordagem pragmática demonstra a capacidade da Petrobras de adaptar sua infraestrutura existente à transição energética, minimizando o tempo de *startup* de um produto essencial.
Repar: Engenharia e Potencial de Produção
A escolha da Refinaria Getúlio Vargas (Repar), localizada no Paraná, não foi aleatória. A Repar é uma das maiores e mais complexas refinarias do Brasil, com infraestrutura robusta para processamento de diversas cargas. Sua localização estratégica no Sul também facilita o acesso a matérias-primas renováveis, especialmente óleos vegetais.
A Petrobras planeja atingir uma capacidade inicial de SAF coprocessado que, embora pequena se comparada à produção total de querosene da refinaria, é um marco. A capacidade de produção inicial da Repar está sendo dimensionada para injetar o volume necessário para que a Petrobras cumpra seus compromissos e comece a testar o mercado internacional com um produto certificado.
Este movimento na Repar serve de modelo para outras unidades da Petrobras. O sucesso da Certificação internacional e a aceitação do SAF coprocessado no mercado podem levar à rápida expansão desta tecnologia para outras refinarias, consolidando a Petrobras como a principal fornecedora de bioenergia para a aviação na América Latina e acelerando a descarbonização da aviação brasileira.
Economia e Concorrência por Bioenergia
Para o setor elétrico, a entrada massiva da Petrobras na produção de SAF coprocessado cria um novo vetor de demanda por bioenergia. A matéria-prima utilizada no SAF (seja soja, milho ou sebo) é a mesma que alimenta a produção de biodiesel, que hoje compete por cotas obrigatórias no mercado de diesel rodoviário.
Com a Petrobras investindo em SAF, a competição pela biomassa se intensifica. Isso pode elevar os preços das *commodities* renováveis, impactando diretamente o custo de produção do biodiesel e, em cascata, a economia da energia limpa baseada em óleos vegetais. O mercado de bioenergia precisará ajustar-se rapidamente a este novo gigante consumidor de matéria-prima.
A Petrobras não está apenas produzindo SAF coprocessado; ela está estimulando toda a cadeia de suprimentos de bioenergia a se tornar mais eficiente e sustentável. A exigência do selo CORSIA impõe rastreabilidade e sustentabilidade na origem da matéria-prima, o que é um benefício para todo o setor de *commodities* verdes.
A Longa Jornada da Transição Energética
O SAF coprocessado é uma ponte, mas não o destino final da descarbonização da aviação. A Petrobras reconhece que, a longo prazo, serão necessárias plantas dedicadas de SAF e, eventualmente, *e-SAF* (SAF sintético, produzido a partir de Hidrogênio verde e carbono capturado) ou Hidrogênio líquido para aviação.
O próximo desafio da Petrobras será migrar de uma solução de coprocessamento para o investimento em biorrefinarias *stand-alone*. Isso exigirá capital massivo e *know-how* avançado, mas garantirá que o Brasil possa fornecer SAF com 100% de teor renovável, atendendo às metas mais ambiciosas da transição energética global.
O registro no CORSIA coloca a Petrobras na vanguarda da energia limpa aplicada a um setor que é crucial para a economia global. A Certificação internacional da Repar é um passo técnico, mas com um significado estratégico monumental: o Brasil está pronto para fornecer combustíveis que farão o mundo voar de forma mais sustentável. O mercado de bioenergia ganhou um novo e poderoso aliado.
