A operação e manutenção (O&M) de sistemas fotovoltaicos instalados em telhados, sejam eles residenciais, comerciais ou industriais, exigem atenção redobrada à segurança do trabalho em altura.
A manutenção de sistemas fotovoltaicos instalados sobre estruturas de cobertura – sejam elas residenciais, comerciais ou industriais – impõe um rigoroso foco na segurança do trabalho em altura.
Mais do que salvaguardar a integridade física dos técnicos, a adesão estrita aos protocolos de segurança assegura a preservação do patrimônio e a longevidade operacional do gerador solar. Apresentamos a seguir um guia essencial para orientar prestadores de serviço e proprietários de usinas sobre as melhores práticas para acesso e intervenção em telhados.
Planejamento Detalhado do Acesso Seguro
Toda intervenção deve começar com uma minuciosa avaliação de risco do local:
- Determinar a cota de altura do telhado.
- Analisar as condições do solo circundante e acessos adjacentes.
- Avaliar a geometria do telhado: sua inclinação, o material da cobertura (seja cerâmica, fibrocimento, metálica, etc.) e a capacidade estrutural para pontos de apoio.
- Mapear as rotas de acesso disponíveis: escadas, estruturas de andaimes, vãos de acesso (alçapões) ou o uso de plataformas móveis.
A Infraestrutura Crítica: Linha de Vida e Ancoragem
O dimensionamento do sistema de linha de vida deve seguir rigorosamente os ditames da NR-35 (Trabalho em Altura), contemplando:
- Pontos de Ancoragem: Devem ser fixados exclusivamente em elementos estruturais projetados para suportar cargas de impacto e retenção de queda.
- Configuração da Linha de Vida: Escolha entre linhas horizontais ou verticais, determinada pela configuração e extensão do plano do telhado.
- Conexão do Operador: O uso de talabartes e dispositivos de trava-quedas é mandatório para conectar o trabalhador ao sistema de proteção.
- É altamente recomendável que o projeto e a instalação dessas ancoragens sejam conduzidos por engenheiros especializados em segurança do trabalho, garantindo a certificação adequada.
Seleção Estratégica de Equipamentos de Acesso
A escolha do meio de acesso depende intrinsecamente da condição do terreno, da altura da intervenção e da natureza do serviço:
Escadas Portáteis:
- 1. Devem possuir extensão vertical adequada acima do ponto de apoio e garantir uma base estável, sendo sua amarração obrigatória.
- 2. O uso de sapatas antiderrapantes é um requisito básico.
Andaimes Modulares (Tubulares ou Fachadeiros):
- 1. Preferíveis em canteiros com espaço disponível e solo consolidado e nivelado.
- 2. A montagem requer mão de obra qualificada, além de inspeção rigorosa de guarda-corpos e rodapés.
Plataformas Móveis (Sobre Rodas):
- 1. Indicadas para áreas planas que exigem movimentação frequente da equipe.
- 2. É imprescindível o travamento das rodas durante todo o período de utilização.
Plataformas Aéreas (PTA):
- 1. Representam uma alternativa de alta segurança para locais de acesso restrito ou em grandes elevações.
Protocolos Essenciais Durante a Fase de Manutenção
Durante as etapas de inspeção ou limpeza dos painéis fotovoltaicos:
- Uso de EPIs: O conjunto básico inclui cinto de segurança tipo paraquedista, capacete, luvas de proteção adequadas, óculos de segurança e calçados com solado aderente.
- Procedimentos de Limpeza: Utilizar somente produtos homologados pelos fabricantes dos módulos, empregando ferramentas que não causem microfissuras ou danos estéticos.
- Testes Elétricos: A aferição do sistema deve ocorrer a partir de um ponto seguro, utilizando exclusivamente ferramentas devidamente isoladas para a tensão nominal.
- Comunicação Contínua: Deve haver um canal de comunicação aberto e constante entre a equipe no plano de trabalho (telhado) e a equipe de suporte em terra.
Responsabilidades e Deveres do Proprietário da Usina Solar
O cliente também possui um papel ativo na fiscalização da segurança:
- Exigência de Documentação: Solicitar a apresentação da ART (Anotação de Responsabilidade Técnica) ou qualquer documento que ateste a competência técnica e a habilitação dos executantes do serviço.
- Fichas de Produtos: Requerer as FISPQs (Ficha de Informações de Segurança de Produtos Químicos) dos materiais empregados na limpeza.
- Registro Fidedigno: Documentar a execução do serviço através de relatórios técnicos, fotografias e medições comparativas de performance pós-manutenção.
- Tolerância Zero: Não autorizar o início de qualquer trabalho que não esteja amparado por linha de vida instalada, EPIs em uso e equipamentos de acesso certificados.
Normativas Regulatórias para O&M em Sistemas Fotovoltaicos de Cobertura
A execução de qualquer serviço em telhados deve estar em conformidade estrita com a legislação brasileira e as normas técnicas aplicáveis. As diretrizes mais relevantes incluem:
- NR-35 – Trabalho em Altura: Define os pilares de planejamento, organização e execução segura para atividades acima de dois metros do nível inferior.
- NR-10 – Segurança Elétrica: Impõe medidas protetivas para todos os intervenientes em instalações elétricas, cobrindo integralmente os sistemas fotovoltaicos.
- NR-06 – EPI: Determina a obrigatoriedade do fornecimento e correta utilização dos Equipamentos de Proteção Individual específicos para cada risco inerente à tarefa.
- NR-18 – Construção Civil: Aplica-se subsidiariamente, estabelecendo regras de segurança para a montagem de acessos provisórios como andaimes e escadas em contextos de instalação e manutenção.
- NBR 16325 (ABNT) – Ancoragem: Especifica os requisitos mínimos de projeto, instalação e resistência exigidos dos dispositivos de ancoragem destinados a sistemas de vida longa.
- NBR 16489 (ABNT) – Proteção Individual Contra Quedas: Trata da seleção, manutenção e uso correto dos componentes do sistema de proteção individual.
- NBR 16259 (ABNT) – Escadas Portáteis: Regulamenta a fabricação, os ensaios de durabilidade e as diretrizes de uso seguro para escadas móveis.
Visão Geral
A segurança na Operação e Manutenção (O&M) de usinas solares instaladas em telhados transcende a mera obrigação legal, configurando-se como uma responsabilidade compartilhada entre o executor do serviço e o proprietário da instalação. O domínio técnico do acesso, a seleção criteriosa dos recursos de segurança e a aplicação de metodologias preventivas garantem não só a incolumidade física das equipes técnicas, mas também a sustentabilidade operacional e a máxima eficiência da usina fotovoltaica a longo prazo.