Parlamentares propõem plano audacioso de descarbonização, focando em energia renovável descentralizada para a Amazônia.
O Freio de Mão: Por que a Moratória para O&G?
A primeira etapa do plano é colocar um freio definitivo na expansão de novos projetos de Óleo e Gás (O&G) no bioma Amazônico. A proposta visa interromper novas concessões e a exploração em áreas de sensíveis. A justificativa é clara: não se pode falar em neutralidade de carbono global enquanto se incentiva a extração de combustíveis fósseis em uma das maiores reservas de carbono do planeta.
Para os parlamentares, a manutenção da moratória para O&G é um imperativo climático e de segurança nacional. Eles argumentam que os investimentos bilionários em infraestrutura fóssil criam um “ativo encalhado” (stranded asset), comprometendo o futuro econômico da região em detrimento de uma fonte de energia que está em declínio no cenário global. A pressão internacional sobre o Brasil para proteger o bioma Amazônico torna essa pauta incontornável.
O Desmonte: A Substituição de Barragens
Se a moratória para O&G é um freio, a proposta de substituição de barragens hidrelétricas existentes é o acelerador de uma revolução na infraestrutura. A visão é mudar a lógica de grandes usinas, como Belo Monte, que causam gigantescos impactos ambientais e sociais, por alternativas de menor impacto e maior flexibilidade operacional. O setor elétrico, que depende da hidráulica como espinha dorsal, vê essa proposta com ceticismo e alarme.
O conceito central da substituição reside na ideia de “descentralizar o megawatts”. Em vez de uma megahidrelétrica, o roteiro propõe um mosaico de soluções: pequenos aproveitamentos hidrelétricos (PCHs) de baixo impacto, sistemas híbridos de energia solar e eólica, e o uso de biomassa sustentável. Este novo modelo reduziria a necessidade de linhas de transmissão longas e caras, muitas vezes construídas sobre floresta.
A Alternativa Viável: Energia Renovável Descentralizada
O sucesso deste roteiro depende intrinsecamente da capacidade de escalonar a energia renovável descentralizada. É aqui que os parlamentares amazônicos focam em números e potencial. A Amazônia possui um dos maiores índices de irradiação solar do país, além de um vasto potencial de biomassa oriundo de cadeias produtivas sustentáveis, como açaí e dendê.
A transição energética não significa apenas instalar painéis solares. Envolve criar micro-redes (mini-grids) e sistemas isolados robustos, eliminando a dependência do diesel, que ainda abastece muitas comunidades remotas. A economia gerada pela não-construção de grandes linhas de transmissão e pela redução de subsídios ao diesel é o motor financeiro dessa transição energética.
O Contexto Político e os Desafios Regulatórios
Naturalmente, um plano dessa magnitude enfrenta barreiras colossais. A resistência dos setores de O&G e da indústria de construção civil, historicamente ligados à infraestrutura pesada, é intensa. Além disso, o arcabouço regulatório atual foi desenhado para projetos centralizados; a Aneel e o ONS precisam se adaptar rapidamente à realidade da geração distribuída em escala regional.
Os parlamentares amazônicos buscam apoio no Congresso Nacional e no Executivo, argumentando que a transição energética na Amazônia não pode ser feita com as mesmas ferramentas do passado. Eles defendem a criação de um fundo soberano verde, abastecido por mecanismos de mercado de carbono, para subsidiar a pesquisa e o desenvolvimento de tecnologias de armazenamento de energia (baterias) essenciais para a intermitência das fontes solar e eólica.
Um Novo Paradigma para o Bioma Amazônico
A proposta dos parlamentares amazônicos representa um divisor de águas na política energética e ambiental brasileira. Ao unir a moratória para O&G com a desconstrução (ou repotenciação verde) de projetos hídricos tradicionais, eles não apenas protegem o bioma Amazônico, mas oferecem um modelo de desenvolvimento econômico que é, ao mesmo tempo, ambicioso e realista em termos de sustentabilidade global.
Esta é a “Agenda Impossível” que o setor elétrico deve começar a levar muito a sério. Não se trata de negar a necessidade de energia, mas sim de reconhecer que a fonte e o método de geração devem evoluir. O roteiro aponta para um futuro onde a Amazônia se torna um laboratório global de transição energética e um exemplo de como a substituição de barragens pode coexistir com a segurança energética e a prosperidade regional.
Visão Geral
A articulação dos parlamentares amazônicos visa reorientar a matriz energética regional, propondo a moratória para O&G e a substituição de barragens por soluções de energia renovável descentralizada para salvar o bioma Amazônico.